Um rapaz comum, navegante dos mares do planeta como qualquer outro cidadão. Quando se aproximou da fase adulta, uma corrente passou em sua frente e disse: "olhe para dentro, descubra quem você é". Ela veio justamente em um momento em que o rapaz não estava se sentindo muito legal, em um momento em que vinha andando um pouco perturbado com as coisas e não encontrava uma solução específica. Talvez não encontrasse a solução porque também não conseguia encontrar as razões.
Mas aquelas palavras foram sentidas. Houve uma resposta interna. O homem começou a mergulhar no mistério do "quem sou eu". Sempre quando tinha uma folguinha, olhava para dentro de si mesmo em busca da resposta, como uma meditação. Apenas ficava em silêncio, de olhos fechados e atento. Começou a ficar surpreso com um mundo de sensações que não tinha nem ao menos noção de existir antes, mas que estavam ocorrendo e sendo reveladas dentro dele. Sua curiosidade o motivou a continuar a investigação.
Um ano depois, aquele rapaz estava diferente. Seus interesses haviam mudado, suas vontades eram outras. Seu corpo se movimentava de outra maneira, de um modo tão diferente, que até mesmo ele chegava a se questionar se não estava fazendo um teatro. Não conhecia aquele que estava agindo no corpo, e o antigo homem olhava distante com um olhar de dúvida: "será que isso sou eu ou estou inventando?" Só que havia uma alegria naquele ser que estava movimentando o corpo. Uma alegria que não estava existindo antes.
Aquele queria ser visto, notado. Se encantava com as pessoas sem nem ao menos elas fazerem algo que merecesse encantamento. Sentia vontade de rir sem nenhum motivo, às vezes, também se apaixonava sem nenhuma razão aparente. E se apaixonava com frequência, era um coração vivo e quente. Queria viver o amor de qualquer jeito. Quase sempre, parecia ser uma criança; talvez as pessoas pensassem isso. "Um adulto criança, deve ter alguma disfunção, uma mente infantil". Mas o homem por trás da pele não estava se importando, porque o corpo estava se alegrando demais com a presença daquela criança ali.
Tanto estranhamento com o surgimento daquele novo ser, não era sem razão. Havia uma razão precisa para isso. Durante toda a vida do rapaz, ele não vinha sendo quem era de verdade e, aos poucos, isso o conduziu ao sofrimento. Acontecia que o homem era muito racional, comparativo; mas não tinha culpa em ser assim, porque assim eram todos e assim foi ensinado a ser. Então agia dentro de uma perspectiva dita "normal", como todos estavam fazendo. Desse jeito, a alegria se esvaiu do seu corpo, porque o corpo estava vivo, mas estava "semi vivo", porque a alma que habitava o corpo estava morrendo.
Quando o homem escutou aquela corrente "olhe para dentro, descubra quem você é", não foi o homem quem escutou, a corrente atravessou o corpo e chegou à alma. A alma foi quem escutou. A alma foi quem respondeu. E então, como num chamado, começou a atender e seguir aquela voz.
Foi assim que encontrou a si mesmo, encontrou aquela centelha de luz que deu vida ao seu corpo. Aquele que está fora do tempo, que é sempre jovem. A criança eterna. Ela tinha um brilho mágico, encantador, que vinha ao corpo, brilhava nele, e que começou a crescer todos os dias. Estava vivendo com muita alegria, e queria contagiar os outros. Mal sabia o rapaz que o despertar daquela criança estava caminhando o corpo a curar o mundo inteiro com um amor sem medida.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
.