O mestre estava caminhando com seu discípulo, observando as copas das árvores do campo que tinham acabado de florir. Era primavera, começo dela, e as primeiras flores abriam suas pétalas a receber a luz do sol.
Não havia mais o que ensinar, já havia dois anos de amizade e o discípulo já tinha compreendido a essência do ensinamento. Depois que se compreende a essência, não há mais necessidade de palavras. O discípulo já sabe a direção e pode seguir o seu caminho sozinho. A relação entre os dois passa a ser exclusivamente um compartilhar de presença.
O discípulo estava contando que queria ser um mestre, como ele, e ajudar a curar o planeta através da iluminação espiritual de alguns. Queria ajudar a propagar o conhecimento. O mestre contou que só há uma única diferença entre o mestre o discípulo... Que ambos sabem, mas que só há uma única diferença... O mestre ensina o que sabe.
Contou que há um princípio que é passado a séculos pela tradição. Só há uma coisa que o mestre não pode fazer: ele não pode induzir a escolha de ninguém. O mestre pode mostrar a porta, mas não pode empurrá-la. Contou que esse princípio começou a ser passado quando os primeiros mestres, por experiência própria, perceberam que ao forçar o conhecimento, ao invés de abrir a porta, fechava-a, e às vezes até para sempre; porque despertava no outro a resistência ao ensinamento.
Contou que o discípulo, ao se tornar o mestre, está se colocando diante de um trabalho de paciência. Contou que a experiência do mestre é uma espera de longo período. Contou que muitos passam anos caminhando sozinhos, carregando a placa do ensinamento. Contou que o mestre espera o cansaço do homem, porque o homem não está buscando o conhecimento. O homem busca um carro, uma casa, uma paixão; mas o conhecimento vem por último. A busca pelo conhecimento só acontece quando o homem se cansa com as coisas do mundo. Quando não encontra a paz que buscava. E que isso às vezes demora um pouquinho para acontecer, porque alguns homens são persistentes.
Então falou que o discípulo, a caminho de tornar-se o mestre, bastará começar a ensinar. Contou que acontecerá de muitos se afastarem, ou mesmo ele, porque o mestre já não pode conviver com a ignorância. O mestre abdica de um lado para se render ao outro. É uma entrega, com um leve tom de sacrifício.
Falou para ele pensar bem antes de fazer essa escolha, porque ser um mestre significava colocar a cruz nas costas e escalar o monte até o topo. No caminho até o topo, o mestre enfrenta sol, sede, fome e solidão. Falou que da semente até o fruto, há um longo percurso. Mas que o sacrifício vale a pena no fim, porque o mestre se torna o homem mais bem aventurado, porque ilumina a vida de muitos, colhendo e produzindo amor no meio.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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