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segunda-feira, 30 de março de 2015

O Campo Congruente


Era um menino bastante aventureiro. Não era assim, mas seu mestre havia lhe dito: "sempre que surgirem duas alternativas, opte por aquela que te trará mais inteligência e terá feito uma boa escolha". Desde então, o menino veio se arriscando. Sempre que se interessava por alguém, fazia um movimento. Às vezes ficava refletindo: "se eu fizer isso, o que será que vai acontecer?" Mas depois percebia que se nada fizesse, só teria a certeza de que nada aconteceria.

Nos primeiros movimentos, o menino era muito inconsequente. Levou o conselho do mestre ao pé da letra e só pode acontecer besteiras quando um homem faz isso. O homem tem que ponderar, ver até onde aquilo se aplica a ele e até onde não. As pessoas são diferentes, diferentes necessidades e vontades, e isso deve ser levado em conta ao ouvir os conselhos de alguém. Então, cometeu muitos erros. Talvez tivesse perdido várias oportunidades com isso. Por vezes, foi muito afoito. Mas lembrou de outro conselho de seu mestre: "se você não repetir o mesmo erro, estará progredindo".

Esse era um bom conselho. Estava errando bastante, mas focou os esforços no progresso. Estava aprendendo com cada erro, porque não o repetia mais. Estava progredindo. Agradecia pelos conselhos do mestre, pois nunca teria saltado para além da zona de conforto se não fosse por ele. Foi por ter saltado que estava aprendendo coisas que os homens chegam à meia vida sem nem ter noção de existir. Ainda era um jovem, seu corpo nem tinha terminado de se desenvolver por completo. Sentia-se abençoado por isso. 

Sempre que percebia que estava caindo numa mesma situação, no mesmo erro cometido, lembrava de ser criativo e de fazer algo diferente. Estava ficando cada vez mais inteligente assim. As descobertas cresciam, suas sensações encontravam respostas. Sentia que cada vez se aproximava mais da ação perfeita.

Quando se afastou da multidão, conforme seu mestre havia sugerido, ficou mais alerta. Se distanciou de influências e entrou em um contato maior consigo mesmo. Suas vontades agora eram mais reais, suas escolhas e questionamentos partiam de seus próprios princípios. Conseguia enxergar o seu caminho e as suas metas de vida.

O contato com diferentes pessoas - afastado da influência das multidões e com um alto grau de alerta e autoconhecimento - o fez perceber como as coisas estão interconectadas. O outro não estava mais em um espaço separado dele, estava dentro dele. O espírito do outro habitava o seu corpo, se movia por dentro de seu campo interno. Ele podia vê-lo, ouvi-lo. O mistério ficava cada vez mais instigante.

Havia um campo congruente entre ele e aqueles aos quais a sua alma era atraída. Talvez fizessem parte de um mesmo espírito, talvez tivessem propósitos interligados. O menino ainda não tinha certeza. Seu universo agora era um grande campo de autodescobertas. Ele só tinha uma única certeza: quantas coisas os homens estão perdendo por falta de coragem. Por seguirem influências externas e não as internas. Por corresponderem a expectativas de outros. Eles não fazem a mínima ideia de como dedicar um contato mais íntimo ao próprio ser pode crescer a vida de pedra para montanha.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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