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sexta-feira, 27 de março de 2015

A Linguagem do Amor


Tinha um discípulo do guru que estava com ele mesmo antes de ele começar a fazer fama e seu nome cair na boca do povo. Antes mesmo de organizar uma comitiva e falar em público sobre as barreiras masculinas e femininas ao amor, ele já tinha revelado isso secretamente ao rapaz. O guru falou que quando ele tivesse compreendido - através da própria experiência - que o amor vem com fragilidade, energia feminina e queda do poder; que voltasse aos seus aposentos que iria aprofundar-se com ele nos segredos ocultos do amor.

Nas semanas seguintes, o rapaz ficou alerta a esses três aspectos em cada relação que sentia perceber ou que suspeitava haver a presença de alguma característica de amor. O guru havia contado que as relações familiares não contavam, que o amor estava corrompido nelas pela ignorância dos homens. Contou que era raro existir uma família com fundamentos no amor verdadeiro, porque isso significava que não existia mais hierarquia familiar e todos se enxergavam numa mesma altura: tanto os pais quanto os filhos, ambos detinham de mesma, ou melhor, nenhuma, autoridade. Contou que isso era raríssimo e que ele nem deveria esperar encontrar esse tipo de situação.

O rapaz percebeu que sempre que se encantava com alguém, sempre que havia um derretimento de sua personalidade em função de um outro corpo, ele realmente se sentia meio feminino. Sentia uma fragilidade, um aspecto doce. Pensou num homem machão sentindo aquilo e teve a certeza de que o homem diria ser coisa de gay. Também percebeu que durante aquele momento em particular, havia algo mais importante do que ele mesmo. Sentiu que não podia controlar isso. Que se não fosse cuidadoso, poderia quebrar a coisa. Percebeu, intuitivamente, que se tomasse espaço ao invés de cedê-lo, poderia perder toda a magia do que estava acontecendo. Talvez fosse isso que o mestre queria dizer quando mencionou a queda do poder.

Então já tinha experimentado os três aspectos do amor: a fragilidade, a energia feminina e a queda do poder. Era hora de voltar ao guru.

O guru ficou muito contente com as descrições do rapaz. Ele estava compreendendo o real significado da coisa. Projetou mentalmente um belo futuro ao garoto, um futuro preenchido de riquezas que o dinheiro não pode comprar e que nenhum homem pode obter à força. Falou para ele não perder esses três aspectos de vista, mas que agora iria se aprofundar com ele no segredo de propagar e conquistar amor.

O guru contou que o amor é uma linguagem, uma linguagem que os homens esqueceram. Contou que os homens estão tão cegos que o corpo não sabe mais falar a linguagem básica do amor. Contou que o corpo dos homens sabe falar a linguagem da raiva, do desgosto; mas que perderam a capacidade de falar a do amor. Contou que se um homem resgatar essa linguagem, o amor começará a acontecer e a sair dele de forma natural. Contou que toda a natureza sabia falar essa linguagem, e que era por isso que o amor estava acontecendo aos animais sem nenhum esforço.

Contou que o erro básico dos homens é achar que o amor está numa atividade, nas palavras, ou numa ação. O amor pode originar essas coisas, mas ele não está nelas. De algum jeito, os homens estão acreditando nisso e cometendo erros atrás de erros. Eles acreditam que há uma fórmula, uma forma de agir que defina o amor. Mas contou que não, que isso não existe... 

Falou que o segredo estava no corpo e não na ação. Falou então que o trabalho dele seria reensinar ao corpo a linguagem do amor, assim a coisa passaria a acontecer naturalmente, do mesmo jeito que acontece a respiração. O corpo saberia falar a linguagem e saberia agir de acordo com ela, atraindo e reproduzindo o amor que precisava.

Contou que o segredo para ensinar uma linguagem ao corpo está na vibração da energia. Contou que o corpo dos homens sabe falar a linguagem da raiva porque estão alimentando vibrações desse tipo a todo tempo. Então que o trabalho daquele que busca o amor é motivar vibrações de amor no corpo, e não correr atrás do amor. O corpo, falando a linguagem, faria o amor acontecer sem força da ação pessoal. Claro que haveria ação, mas ela viria naturalmente do corpo através de sua sabedoria, e que não precisava ser necessariamente verbal, mas que também poderia ser.

Então falou que o trabalho do rapaz agora seria estimular no corpo vibrações de amor. Falou que ele poderia fazer isso de diversas maneiras, mas que não ficasse forçando desesperadamente isso, que deixasse o impulso surgir. Contou que o impulso sempre vem, porque ele está em todo lugar, mas que o homem não o abraçava mais e que só por isso o perdia. Contou que ele poderia vir por filmes, por imagens, por músicas, por uma pessoa; por qualquer coisa. Contou que quanto mais o corpo sentisse a vibração, mais a tornaria conhecida, familiar. Então que, de forma natural e com o tempo, o corpo estaria falando a linguagem do amor.

Contou que essa linguagem cria e recebe amor do meio, de forma muito simples e espontânea, sem necessidade de esforço ou pedido. Contou que a linguagem do amor é a linguagem mais próspera que existe. Contou que ela é como o sol, que concede calor e luz aos astros mais próximos, e que, por isso, faz os astros começarem a orbitar à sua volta.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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