Uma centena de sementes caiu num solo fértil. Elas olhavam umas para as outras, sem entender o que estava acontecendo ou fazendo ali. De repente, sem muita certeza do que estava dizendo, uma delas tomou a palavra e disse: "a terra é fofa". Ela não sabia muito bem porque havia dito aquilo, talvez quisesse chamar atenção, se destacar em relação ao meio.
As outras sementes da terra começaram a repetir: "a terra é fofa". Ela tinha falado com segurança, e as outras sementes não entendiam das coisas. Então acabou virando um jargão. Todas as sementes passaram a dizer que a terra era fofa. Outra semente, de repente, também sem muita certeza da razão de estar falando aquilo, quebrou o silêncio e disse: "o tempo é seco".
As outras sementes que não entendiam nada sobre as coisas e que eram inocentes, observavam essas sementes entendidas que falavam sobre as coisas e ficavam encantadas. Elas repetiam "o tempo é seco" e "a terra é fofa". Outros jargões foram surgindo: "o ar sacode", "a chuva tempera". E todas as sementes logo começaram a falar as mesmas coisas.
Uma semente dentre as cem, se sentia estranha. Ela estava olhando para dentro dela. "A terra não é fofa, é nutritiva". A primeira rachadura se deu na sua casca externa. "O tempo não é seco coisa nenhuma, ele é inteligente". A segunda rachadura se deu e a primeira parte do broto foi lançada para fora.
Enquanto as outras sementes se juntavam em grupos que repetiam as mesmas coisas, aquela semente estava questionando a realidade de acordo com o seu próprio ponto de vista. Quanto mais fazia isso, mais crescia em direção ao céu, contrariando a gravidade. Mais folhas iam se abrindo para os lados, mais energia do sol ela recebia. Por alguma razão, ela era a única semente que havia partido e que estava crescendo a muda. O restante das cem continuava repetindo as palavras de outras, parecendo todas iguais; fazendo as mesmas coisas, agindo da mesma maneira; falando do tempo, da terra e do ar com um mesmo sentido. Um sentido em comum. E nada de partirem.
Algumas sentiam uma inquietação interna, mas sentiam que se falassem algo diferente, se pensassem diferente, seriam excluídas do grupo.
Enquanto isso, a muda estava virando uma árvore. Seu caule foi engrossando, suas folhas foram ficando rígidas. Ela começou a dar frutos, frutos doces. Era uma árvore de maçãs.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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