Na tradição budista, os homens usam a Flor de Lótus para simbolizar o estado iluminado. Dentre as diversas simbologias, como ser uma bela flor que cresce em meio ao pântano, há a simbologia da abertura. O estado iluminado é um estado de total abertura, onde todas as pétalas do homem, inclusive o seu centro, estão acessíveis ao toque do externo.
Se você prestar bastante atenção, notará que grande parte das pessoas estão fechadas. Estão vivendo em seus próprios mundos, permitindo o mínimo de contato possível com o externo. Isso tem uma razão de ser, porque estar aberto significa estar vulnerável. Muitas pessoas sofreram ao estarem abertas, e por isso aprenderam a se fechar, como um meio de defesa. Mas isso não é bom, porque o contato com o mundo faz parte da vida, e perder esse contato é perder grande parte dela.
Aquele que caminha à iluminação, precisa se inspirar na flor e praticar a abertura. Essa abertura é um canal da vida ao homem, então mantê-la fechada significa perder esse canal. Sofrendo ou não, o homem que quer atingir o estado de buda precisa se abrir, precisa ficar vulnerável. É realidade que nesse contexto de abertura, muitos homens experimentam grandes sofrimentos, inexplicáveis dores; mas um grande aprendizado é herdado dessa dor, porque ela torna o homem sábio.
Isso não quer dizer que você precisa estar aberto a tudo, que todo mundo que quiser entrar em seu mundo tenha permissão. Não, o iluminado tem poder de escolha. Mas a sua escolha é feita baseada em sua sabedoria, e, talvez, para adquiri-la, o homem precisou se abrir a tudo.
Ouvi uma estória que contava da primeira vez que um pai levava sua filha à praia. O pai pediu à menina: "filha, por favor, verifica como está a água". A menina foi até o mar e molhou os pés. "Está fria, papai", contou ela. O pai foi até lá, pegou a menina no colo, caminhou mais um pouco adentro e depois a jogou de vez na água. Depois do susto, a menina achou a brincadeira divertida. O pai perguntou mais uma vez: "filha, como está a água?"; a menina respondeu: "está gostosa". "Então, a partir de agora, quando quiser saber sobre algo, mergulhe nele", disse o pai.
Apesar de o homem possuir o universo dentro dele, o homem é apenas uma partícula do todo. Se o homem quer conhecer o universo, precisa se tornar parte dele, e se tornar parte dele significa deixar de ser um ser isolado e mergulhar no mar da vida. Se tornar parte da vida. Se juntar a ela. Se tornar um com ela. Para isso, o homem, como humano, precisa trocar energias com outros. É assim que o homem se completa, que cresce, que fica preenchido. Se tornar parte da humanidade é a tarefa do homem do espírito. E ele não pode fazer isso isolado.
A vida vem ao homem através de outros, ela ensina através de outros, ela guia através de outros, ela se complementa através de outros; porque os outros são partes do homem. Então é essencial ao homem que quer tornar-se sábio e compreender os mistérios da vida, a abertura, o contato com o meio. Para isso, o homem precisa vencer a barreira do medo e se entregar. O homem precisa confiar que o outro é parte dele, e se entregar ao que a vida veio fazer à partir do outro. Quando o homem compreende isso, tudo se torna aprendizado. Cada um, cada momento, cada aspecto da experiência ao homem aberto; veio ensiná-lo, acrescentá-lo, torná-lo mais inteligente e maior.
Então, se você está nesse caminho, pratique a abertura. Note como um olhar de outro humano entra em você, como apenas a presença dele já está te penetrando. Você pode sentir um tremelique quando olha nos olhos de outra pessoa, quando o olhar dela vem ao encontro do seu. Preste atenção nas sensações. Não desvie, não corra, não se feche, não obedeça ao medo. O seu papel nesse caminho é romper relações com o medo, cruzar a sua linha, atravessar os seus limites. Permita o que está acontecendo, permita que a outra parte de você venha te dar o que ela veio te trazer.
Esse contato acarretará em uma catalisação do aprendizado. A alma começará a aprender depressa como um raio. Algumas coisas serão ruins, machucarão, outras serão boas, preencherão. Depois que a alma aprendeu, ela desenvolve uma intuição sábia. Ela conhece todos os tipos de energia, conhece o bem e o mal. Só então o homem pode escolher para quem se abrir ou para quem desviar, com inteligência. Porque é aí que o homem começa a caminhar na trilha de luz. A inteligência sábia do homem tornou-se luz, mas isso só aconteceu porque ele pôde conhecer toda a escuridão.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
.
