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sexta-feira, 6 de março de 2015

A Porta da Preocupação


O menino estava cheio de preocupações. Desde que o mago o iniciou em seus ensinamentos, deixou claro que a preocupação só poderia existir se não existisse a magia, porque uma anularia a outra. A preocupação anularia a magia e a magia anularia a preocupação. Uma não poderia existir com a presença da outra.

O menino comentou que todo mundo se preocupava, e que achava até meio rude essa noção de ser diferente dos outros. O mago deixou claro a ele que se ele quisesse fazer parte da magia, precisaria estar disposto a ser o único diferente do meio. Contou que o mago, visto na perspectiva da maioria, era um caminhante da contra mão. Contou também que foi justamente essa a razão para que os bruxos, durante a idade média - quando a mente era completamente dominada pela religiosidade conservadora e rígida da igreja católica -, fossem julgados e caçados pela Santa Inquisição. Eles eram diferentes.

O menino comentou que era impossível se livrar da preocupação, que mal conseguia imaginar isso. O mago falou que era ele quem estava acreditando ser assim, porque a preocupação era a coisa mais fácil do mundo de ser eliminada. Contou que a preocupação é uma faísca, e que é o homem quem decide tocar fogo. Contou que ela abre a porta, e que é o homem quem entra por escolha própria. Falou inclusive que há sempre mais razões para não se preocupar do que para se preocupar. Falou que há uma única razão para a preocupação, que é aquela que o homem foca. Mas que se o homem parar para pensar um pouquinho, encontrará milhares de ramificações que demonstram razões para não se preocupar, podendo até encontrar razões positivas.

Vendo que o menino não se sentia satisfeito, o mago prorrogou um pouquinho a conversa. Contou que as razões para o surgimento da preocupação é que o homem acredita estar no controle. A maioria dos homens estão nesse lugar, tentando controlar a vida. Então estão completamente sujeitos a todas as perturbações, porque estão tentando controlar algo indefinidamente complexo e em movimento. Estão tentando completar uma missão impossível.

O mago não tem controle nenhum. Ele se permite ser controlado; não por homens, mas pelo universo. É por isso que ele fica cheio de magia. Toda essa complexidade que age no todo, passa a agir através dele também, como se ele fosse um canal dela. Não há como o mago se preocupar. Por onde poderia entrar a preocupação? Não há portas para ela. O mago está livre disso.

Portanto, disse o mago ao garoto, se você quiser se aprofundar em magia, preste atenção na preocupação. Sempre que ela surgir, entregue-a. É sinal de que você está tentando controlar algo. Use a preocupação como uma porta e não como uma parede. Não bata a cara nela. Use-a para abrir o caminho para a outra dimensão.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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