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terça-feira, 31 de março de 2015

Instinto Intuitivo


Confie nos instintos e os siga. Isso é essencial. Tudo bem que os homens estão com o instinto corrompido, porque a mente se encheu de ideias que confundem os sentidos, e você pode fazer parte dessa estatística; mas o único modo de desfazer essa confusão é seguindo o instinto confuso. Talvez se confunda diversas vezes, erre; talvez siga impulsos falsos; mas a verdade vai se abrindo aos poucos.

O homem com o instinto aguçado caminha com inexplicavelmente menos tropeços do que o homem que não segue o instinto. O instinto verdadeiro não tem erro. O coração se sensibilizou com a presença de alguém, ficou frágil, os olhos se lubrificaram no entreolhar; há algo precioso no contato entre os dois. Pode seguir em frente que vai encontrar o diamante.

O homem com a razão, poderia não tomar uma atitude, não se aproximar; então aquela porta que se abriu iria começar a ferir. É preciso perceber que a atitude não deve partir necessariamente do homem. Se a menina sentir, ver os sinais e se aproximar, acontecerá a mesma coisa. Mas do jeito que as coisas estão, aquele que sabe, aquele que vê; tem que tomar a atitude, porque detém o poder da visão. Ele sabe que o amor está presente, mas o outro talvez não saiba.

Sem a aproximação quando os sinais acontecerem, o impulso que poderia levar o corpo às estrelas vai levar o corpo a sofrer o peso da gravidade. O mundo vai perder o gosto e o sofrimento vai descer do céu como uma sombra. Não importa quem você era antes, o quão alegre estava, o sofrimento vai descer de qualquer jeito. É o que está acontecendo com a maioria das pessoas. Devido a essas constantes experimentações desse sofrimento - fruto do erro de entendimento -, os homens começaram a fechar a porta para sempre à benção do amor bilateral.

Já o homem - ou garota - com o instinto claro, apenas se aproxima. Seu entendimento o(a) deixa ciente de que é bilateral. Então é só chegar perto e deixar a magia acontecer por ela mesma, sem esforço. Não há erro porque o instinto é preciso.

Isso não é brincadeira, é possível chegar a isso. A intuição é confiável, absolutamente, 100%, porque ela parte do espírito único. O espírito que está em todos os seres ao mesmo tempo. A mente entrou na frente dessas revelações, com seus conceitos baratos, bloqueando a passagem da intuição ao homem do mesmo jeito que um corte na medula espinhal bloquearia a passagem dos impulsos motores dos neurônios aos membros. Diferente de um corte na medula espinhal que é basicamente irreversível, a intuição é reversível. É só atravessar a barreira da mente, colocando-a a sucessíveis testes de prova.

O maior bem de um homem é resgatar a intuição. Ela não vem apenas com uma luz que indica o caminho, ela vem com tesouros. Essa intuição conecta o homem ao espírito eterno. Toda a sabedoria da criação reside ali.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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O Caminhante Bipolar


O caminhante bipolar busca o equilíbrio e a libertação, explorando os polos e perdendo o medo de caminhar entre eles. Ele sabe que é o movimento que produz energia, que é o circular da estaca que gera a faísca que faz pegar fogo na madeira. Se ele ficar impossibilitado de caminhar, sabe que está perdendo a vida; assim como sabe que, se ficar apenas em um lado, incapacitado por alguma razão de conhecer o outro, também está morrendo.

O caminhante bipolar perde o medo do sim e do não, da aproximação e da distância. Explora o uso dos dois, podendo assim agir conforme o seu coração mandar em qualquer circunstância. Isso o torna um homem mais verdadeiro, pois passa a fazer escolhas sem influências a não ser aquelas de suas reais vontades.

O caminhante bipolar desenvolve a multiplicidade. Não exclui os aspectos da experiência. Sabe que o sol vai gerar a chuva, e sabe que isso é bom, pois a chuva tira as águas dos vales e pode conduzi-las novamente pela precipitação das nuvens, aos topos.

O maior inimigo do caminhante bipolar é o medo. Ele contraria todas as suas expectativas até que a sua ação se torne independente dele.

O caminhante bipolar é o homem mais livre do mundo. Rompeu todas as barreiras. Se habituou ao topo e ao vale, à sombra e à luz, ao pântano e ao bosque, à escassez e à fartura. O caminhante bipolar caminha por qualquer lugar, por isso se torna um homem rico. Ele encontra as riquezas escondidas no escuro e aquelas escondidas na luz.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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segunda-feira, 30 de março de 2015

O Campo Congruente


Era um menino bastante aventureiro. Não era assim, mas seu mestre havia lhe dito: "sempre que surgirem duas alternativas, opte por aquela que te trará mais inteligência e terá feito uma boa escolha". Desde então, o menino veio se arriscando. Sempre que se interessava por alguém, fazia um movimento. Às vezes ficava refletindo: "se eu fizer isso, o que será que vai acontecer?" Mas depois percebia que se nada fizesse, só teria a certeza de que nada aconteceria.

Nos primeiros movimentos, o menino era muito inconsequente. Levou o conselho do mestre ao pé da letra e só pode acontecer besteiras quando um homem faz isso. O homem tem que ponderar, ver até onde aquilo se aplica a ele e até onde não. As pessoas são diferentes, diferentes necessidades e vontades, e isso deve ser levado em conta ao ouvir os conselhos de alguém. Então, cometeu muitos erros. Talvez tivesse perdido várias oportunidades com isso. Por vezes, foi muito afoito. Mas lembrou de outro conselho de seu mestre: "se você não repetir o mesmo erro, estará progredindo".

Esse era um bom conselho. Estava errando bastante, mas focou os esforços no progresso. Estava aprendendo com cada erro, porque não o repetia mais. Estava progredindo. Agradecia pelos conselhos do mestre, pois nunca teria saltado para além da zona de conforto se não fosse por ele. Foi por ter saltado que estava aprendendo coisas que os homens chegam à meia vida sem nem ter noção de existir. Ainda era um jovem, seu corpo nem tinha terminado de se desenvolver por completo. Sentia-se abençoado por isso. 

Sempre que percebia que estava caindo numa mesma situação, no mesmo erro cometido, lembrava de ser criativo e de fazer algo diferente. Estava ficando cada vez mais inteligente assim. As descobertas cresciam, suas sensações encontravam respostas. Sentia que cada vez se aproximava mais da ação perfeita.

Quando se afastou da multidão, conforme seu mestre havia sugerido, ficou mais alerta. Se distanciou de influências e entrou em um contato maior consigo mesmo. Suas vontades agora eram mais reais, suas escolhas e questionamentos partiam de seus próprios princípios. Conseguia enxergar o seu caminho e as suas metas de vida.

O contato com diferentes pessoas - afastado da influência das multidões e com um alto grau de alerta e autoconhecimento - o fez perceber como as coisas estão interconectadas. O outro não estava mais em um espaço separado dele, estava dentro dele. O espírito do outro habitava o seu corpo, se movia por dentro de seu campo interno. Ele podia vê-lo, ouvi-lo. O mistério ficava cada vez mais instigante.

Havia um campo congruente entre ele e aqueles aos quais a sua alma era atraída. Talvez fizessem parte de um mesmo espírito, talvez tivessem propósitos interligados. O menino ainda não tinha certeza. Seu universo agora era um grande campo de autodescobertas. Ele só tinha uma única certeza: quantas coisas os homens estão perdendo por falta de coragem. Por seguirem influências externas e não as internas. Por corresponderem a expectativas de outros. Eles não fazem a mínima ideia de como dedicar um contato mais íntimo ao próprio ser pode crescer a vida de pedra para montanha.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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O Lunático das Vibrações


Era um menino bem estranho. Ele era aéreo, ficava falando de energias, de coisas que ninguém via. Seu olhar estava sempre distante, como se habitasse um outro planeta que não a terra. Muitos achavam que era um louco, um homem que via coisas que não existia. Mas outros sentiam que havia algo interessante nele, curioso, um mistério que ninguém compreendia.

Ele não deixava ninguém entrar em sua casa, salvo raras exceções. Ele dizia que era porque a sua casa era sagrada, era o seu templo. Dizia que a casa estava viva e que era super sensível, frágil. Então que só almas puras poderiam entrar ali e tocar os seus objetos.

Quando ele dizia isso, era aí que as pessoas tinham mesmo certeza de que ele era um maluco, e riam dele. Ele não se importava, parecia estar acostumado com isso. Ele ria também, e dizia: "eu sei, eu sou louco". Bom, pelo menos ele sabia disso... "Menos mal", pensavam os outros.

Um dia, ele deixou uma garota entrar em sua casa. Havia se apaixonado por ela, e quando a gente se apaixona a gente começa a arriscar a gente mesmo. Arriscaria o seu templo por ela. Não era uma alma pura, mas havia amor fluindo dele em direção a ela. Ele sabia que esse amor iria mexer com a energia dela até purificá-la, se ela se abrisse a isso. Poderia ser agitado no começo, mas sabia que a transformação começa assim. Ela sacode o interior.

Quando a menina entrou em sua casa, sentiu um silêncio. Assim que cruzou a porta, tudo mudou. Era uma casa simples, mas tinha alguma coisa firme no ar dali, sustentando o ambiente. A menina não entendia o que era. Tinha umas flores em cima da mesa, um lindo arranjo de pétalas amarelas. A menina, encantada, foi em direção ao ramo estendendo as mãos.

- Espere! - disse o rapaz. A menina parou no meio do movimento.

Ele pegou nas mãos dela, colocou-as em seu peito e disse: "eu amo você". Depois deu um abraço apertado nela. Um calor surgiu à volta da garota. Ela não entendia o que era, mas era gostoso.

- Pronto - disse o rapaz. - Pode tocá-las. A menina levantou uma sobrancelha, olhando-o com um olhar de canto. Depois tocou as rosas e deu um cheiro nelas. Curiosa, perguntou ao menino porque ele tinha feito aquilo.

- Apesar de os homens não verem - respondeu o garoto -, tudo tem vida, porque tudo é energia vibrando. Os homens da ciência sabem que nada é concreto, que a nível de átomos, há muito mais espaço vazio do que cheio. As coisas são formadas por átomos, então são formadas prevalentemente por espaços vazios. Como eles estão vibrando numa velocidade muito extrema, dá a impressão de que os objetos são sólidos.

- Como são formados por energia, eles têm uma memória. Uma memória energética. Então, eu cuido de tudo o que tem aqui dentro com uma energia de amor, então está tudo "contaminado" com essa energia, vibrando ela no ambiente. A energia do amor é muito frágil, sensível, então temos que ser extremamente cuidadosos com ela.

- Era assim que os antigos homens, nossos ancestrais, criavam maldições. Eles sabiam disso. Então amaldiçoavam a energia de objetos e davam eles para quem queriam causar algum mal. O objeto contaminava o corpo daquela pessoa com a energia que o homem usou para amaldiçoar o objeto e criar a maldição.




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A Árvore de Maçãs


Uma centena de sementes caiu num solo fértil. Elas olhavam umas para as outras, sem entender o que estava acontecendo ou fazendo ali. De repente, sem muita certeza do que estava dizendo, uma delas tomou a palavra e disse: "a terra é fofa". Ela não sabia muito bem porque havia dito aquilo, talvez quisesse chamar atenção, se destacar em relação ao meio.

As outras sementes da terra começaram a repetir: "a terra é fofa". Ela tinha falado com segurança, e as outras sementes não entendiam das coisas. Então acabou virando um jargão. Todas as sementes passaram a dizer que a terra era fofa. Outra semente, de repente, também sem muita certeza da razão de estar falando aquilo, quebrou o silêncio e disse: "o tempo é seco".

As outras sementes que não entendiam nada sobre as coisas e que eram inocentes, observavam essas sementes entendidas que falavam sobre as coisas e ficavam encantadas. Elas repetiam "o tempo é seco" e "a terra é fofa". Outros jargões foram surgindo: "o ar sacode", "a chuva tempera". E todas as sementes logo começaram a falar as mesmas coisas.

Uma semente dentre as cem, se sentia estranha. Ela estava olhando para dentro dela. "A terra não é fofa, é nutritiva". A primeira rachadura se deu na sua casca externa. "O tempo não é seco coisa nenhuma, ele é inteligente". A segunda rachadura se deu e a primeira parte do broto foi lançada para fora.

Enquanto as outras sementes se juntavam em grupos que repetiam as mesmas coisas, aquela semente estava questionando a realidade de acordo com o seu próprio ponto de vista. Quanto mais fazia isso, mais crescia em direção ao céu, contrariando a gravidade. Mais folhas iam se abrindo para os lados, mais energia do sol ela recebia. Por alguma razão, ela era a única semente que havia partido e que estava crescendo a muda. O restante das cem continuava repetindo as palavras de outras, parecendo todas iguais; fazendo as mesmas coisas, agindo da mesma maneira; falando do tempo, da terra e do ar com um mesmo sentido. Um sentido em comum. E nada de partirem.

Algumas sentiam uma inquietação interna, mas sentiam que se falassem algo diferente, se pensassem diferente, seriam excluídas do grupo.

Enquanto isso, a muda estava virando uma árvore. Seu caule foi engrossando, suas folhas foram ficando rígidas. Ela começou a dar frutos, frutos doces. Era uma árvore de maçãs.




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domingo, 29 de março de 2015

O Homem Flutuante


Um homem apareceu flutuando. Não tinha pés, apenas uma capa cobrindo o corpo como um manto. Ele acenou para o garoto, num gesto que parecia dizer para segui-lo. Estavam num pântano penumbroso.

O garoto foi atrás dele, pisando por cima das raízes que cruzavam o caminho e tendo bastante cuidado para não tropeçar. O homem flutuante parou em frente a uma série de caminhos diferentes. Estacionou no primeiro deles e apontou para a placa que tinha logo à frente. Havia escrito: "raiva".

O homem acenou de novo, convidando o garoto a entrar naquele caminho junto com ele. O garoto foi acompanhando o homem. Havia vários rostos irritados e gente brigando ao longo de todo o percurso. Havia também morte, parecia homicídio. Havia muita tensão vibrando no ambiente. Depois o homem flutuou de volta para a entrada. Parecia que só tinha entrado ali para mostrar-lhe alguma coisa.

Agora o homem apontou para outro caminho, onde a placa dizia: "confusão". Depois repetiu o mesmo gesto, convidando o garoto a segui-lo. Naquele caminho, havia pessoas andando para lá e para cá, tontas, atordoadas; algumas chorando descontroladamente. Tudo estava bagunçado. Havia outras encostadas num canto, com a mão na testa. Também tinha pessoas enforcadas, pareciam ter se suicidado.

O homem voltou à entrada. Agora apontou para a placa de outro caminho. Havia escrito: "amor". De novo, convidou o menino a entrar. Nesse caminho, havia pessoas tranquilas. Algumas estavam sozinhas, contemplando o horizonte, com um semblante de paz. Outras estavam de mãos dadas, com uma expressão terna no rosto e olhos brilhantes. Havia uma maresia calma tomando conta de todo o lugar.

Voltaram de novo à entrada. Havia outros caminhos com outras placas, mas o homem não entrou em mais nenhum. Ao invés disso, se aproximou do garoto. Chegou perto do seu ouvido e sussurrou:

"Cuidado com o caminho que você escolhe seguir. Se agir de acordo com um, um processo se desencadeia à frente. O homem deve escolher o seu próprio caminho. A seta aponta, mas quem segue é o homem. O homem inteligente escolhe. Se a seta não for boa, ele não age. Ele espera a seta mudar para então começar a agir."

O menino abriu os olhos. Que sonho estranho... será que queria dizer alguma coisa?




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A Tempestade que abre o Céu


O mestre pegou na mão dela e caminhou com ela até os lugares mais profundos da alma. A escolha foi dela. O mestre estendeu e ofereceu a sua mão, contando do Céu que haveria na outra margem. Falou que havia um beco escuro até lá, e ela decidiu trilhar o caminho mesmo assim. O mestre foi então com ela para que ela não fizesse o trabalho sozinha.

Quanto mais eles iam caminhando para o fundo, mais escuridão eles encontravam. A menina começou a ficar confusa, aturdida, completamente perdida. Não sabia mais distinguir o que era real do que era ilusório, se sentia dividida entre dois mundos. Suas emoções estavam borbulhando por dentro, transitando de uma para a outra com uma grande velocidade. Suas atividades no mundo deixaram de ter sentido e ela não conseguia mais se concentrar em nada.

"É a tempestade", disse o mestre, "ela chegou. Ela modifica a sua vida. Se você lutar, enlouquece; se entregar-se, ela te aquece. Quando ela chega, não há mais volta. Você precisa se entregar."

A menina estava ficando tão confusa, que nem as coisas que dizia fazia mais sentido. Duvidava até mesmo de suas próprias palavras. O seu raciocínio lógico estava dificultado, não conseguia mais associar ideias com clareza. Às vezes falavam com ela e ela não conseguia entender. Parecia não estar ouvindo palavras, apenas barulho.

As pessoas próximas começaram a achar que estava ficando louca, porque de um ano para o outro, a menina mudou completamente. Parecia um surto. Não obedecia mais aos pais, parecia uma rebelde sem causa. Sentia impulsos repentinos de raiva, explosões. Sua rebeldia parecia não ter razão aparente.

Seus amigos começaram a falar que ela estava diferente, com uma entonação negativa. Eles ofereciam ajuda, mandavam-na procurar um médico, um psiquiatra; o que a fez sentir reluta a todos eles. Antes, eram amigos, agora, estavam parecendo toxinas. Suas palavras machucavam. A presença deles fazia o seu corpo tremer de medo. Eles agora pareciam ser uma ameaça.

"É a tempestade", disse o mestre, "ela chegou. Ela vai mudar os caminhos. Pode ser que você vá ficando cada vez mais sozinha, mas não tenha medo disso. Fique atenta aos sinais. A presença deles pode te confortar nesses momentos de escuridão. Quando você os vê, tem uma prova forte de que é Deus quem está trabalhando em meio ao caos. Isso conforta um pouco. Não haveria o sincronismo se não houvesse o dedo dele."

"Não tenha medo das mudanças. Deixe-as acontecerem, respeite-as. Deus troca as peças do seu mundo, porque está trocando você de mundo. Antes da tempestade, você vivia no mundo dos homens. Agora, Deus está mudando tudo para que você viva no mundo dele. O que não for de sua Obra, ele removerá. Se você não compreender logo que ele está tentando retirar aquilo, ele começará a agir com mais força, fazendo aquilo te machucar ainda mais. Já o que for de sua Obra, ele atrairá até você."

"Depois que a tempestade acabar, a vida se tornará pura luz. O céu se abrirá com uma graça que não existia antes. As nuvens carregadas irão embora e não te perturbarão mais. O dedo de Deus estará presente em cada detalhe de sua experiência, te confortando e te enchendo de amor. Você se sentirá uma filha querida de Deus, livre de todo o mal do mundo. Se sentirá especial, tão especial quanto os grandes profetas de Deus se sentiam."

"Mas a tempestade é real, faz parte do caminho. É a travessia entre os dois mundos, a passagem de um para o outro."




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sábado, 28 de março de 2015

A Energia Espiritual


O mestre havia contado ao garoto sobre a energia que poderia ser desperta no corpo, que gerava uma aura ao redor dele, com uma gravidade; e isso o deixou extremamente curioso. Ficou conferindo se havia a existência daquilo nele, mas não conseguia achar um sinal que o desse uma certeza absoluta. Resolveu consultar o mestre e conversar um pouquinho sobre o assunto.

O mestre falou a ele que esse era todo o trabalho espiritual: despertar, através de alguma estratégia, a energia espiritual no discípulo. Contou que existem dois mundos diferentes coexistindo no plano físico: o mundo dos homens e o mundo do espírito. Falou que apesar de coexistirem num mesmo plano, dificilmente eles se chocam; e que, apesar de os homens não saberem, os dois mundos estavam acontecendo bem em frente aos seus olhos.

Contou que os homens vivem num mundo incerto, sujeito a todas as forças negativas e ao mal. Que isso os conduz a sofrimentos inesperados e a incertezas sobre a vida e sobre o propósito pessoal. Contou que isso acontece porque eles não enxergam as forças espirituais. Depois disse que aquele que despertou a energia, tem um campo à sua volta, com uma gravidade. Falou que essa gravidade atrai as coisas boas do mundo até ele, coisas essas que os homens estão perdendo. Falou que essa gravidade também funciona como uma antena: em quem a atenção da pessoa repousa, mesmo que distante, atrai a energia daquela pessoa ao seu campo. Então a energia pode ser reconhecida por ele e ele pode saber o que existe naquela pessoa. Assim pode se precaver e fazer a escolha, ou não, do contato.

Contou que o trabalho da meditação, apesar de mal compreendido porque tem sido usado como uma prática dos homens e não do espírito, tem o objetivo de fazer o discípulo mergulhar em si mesmo em busca de encontrar e trazer a energia ao corpo; despertá-la, falando de outro modo. Então que, uma vez desperta, a meditação deixaria de ter sentido. Ela foi só uma ferramenta, um exame clínico, um medicamento. Depois de receber alta, o paciente não precisa mais do médico e nem do medicamento, então que pode deixar o hospital e caminhar para casa com saúde renovada.

Falou para ele não ficar se preocupando muito com isso, que se estava vendo os sinais e sentindo coisas novas em sua experiência, como movimentos internos no corpo ou na mente, às vezes confusões; a energia já estava em andamento. Falou que poderia ser bom, apenas de vez em quando, cessar um pouco as atividades e ficar prestando atenção a esses processos atuantes da energia. Disse que, colocando mais atenção nela, provavelmente estaria colocando também mais força.

Quando falou de força, o discípulo lembrou que o mestre também mencionou uma força. Então o mestre contou que a energia tem, sim, uma força. Contou que essa força é poderosa por ter características mágicas, características que vão além da razão lógica da mente. Ela dá todo o auxílio ao homem em suas buscas pessoais, no que ele precisa conquistar para ser feliz. Falou que é algo totalmente espontâneo, e que por isso ganha da força física dos homens. Falou que, com a força, o discípulo apenas desfila até os seus objetivos, sem nenhum esforço ou desgaste pessoal. Sem estresse, dizendo em outras palavras.

Disse que, além disso tudo, a energia dava uma beleza ao corpo e ao ambiente à volta dele. Falou para ele prestar bastante atenção aos animais que estavam circulando, porque eles tinham essa energia desperta. Falou para ele perceber, e que isso era fácil de ver nos cachorros domésticos, como eles pintavam o ambiente à volta do qual estavam caminhando. Falou que era algo sutil, que para ver isso o homem teria que ter já uma qualidade, mesmo que mínima, da energia nele. Falou que ele poderia ter vislumbres rápidos, mas que já daria para ter uma ideia do que estavam falando. Falou que acontece o mesmo com o homem que tem a energia desperta, porque ela é uma força da natureza e não dos homens.




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A Alegria do Mestre


O mestre compreendia como os seus ensinamentos eram algo muito pessoal e íntimo, e que poderia comprometer completamente a privacidade de seus discípulos. Então ele escrevia os ensinamentos num papel e os colocava no mural. Desse jeito, os interessados poderiam ter acesso a eles sem necessidade de comprometerem a sua imagem.

Na maioria das vezes, o mestre não sabia quem estava recebendo os seus ensinamentos, mas tinha certeza de que havia alguns. Se não, que sentido teria esse impulso que o levava a escrevê-los diariamente? Não teria sentido nenhum. E o mestre sabia que, nesse caminho, até o menor suspiro faz sentido.

Às vezes o mestre saía para uma volta e encontrava-se com algumas pessoas amigas, pessoas que estavam por perto e que poderiam ou não ser um dos seus ouvintes. Às vezes não havia diferença, a pessoa continuava igual a sempre; então o mestre tinha certeza de que não era um dos seus discípulos. Mas outras vezes, a pessoa estava diferente. Havia uma aura à volta dela, um espaço colorido ao seu redor. Havia um encanto maior naquela pessoa, uma força invisível, uma gravidade.

O mestre abria um largo sorriso interno, era muita alegria para ele estar vivo e poder ver aquilo. Se sentia tocado, sabia que tinha feito o melhor bem possível a um ser humano. Aquela pessoa tinha despertado a força, a energia, a luz. O mestre sabia que ela seria uma das pessoas mais felizes do mundo. Sabia que isso era apenas questão de tempo...




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Quando o conhecimento falha


O mestre estava inquieto, andando para os lados, parecendo absolutamente confuso. O menino ficou um pouco aturdido, porque o mestre ensinava sobre calma, sobre confiança, e agora estava parecendo uma barata tonta, andando de um lado para o outro que nem um garoto perdido na floresta. Isso começou a perturbar o menino.

- Rabino, o que você está fazendo? Por que está agindo tão estranho assim?

- Estou apaixonado, não sei o que fazer. Estou perdido e sei que ninguém pode me ajudar.

O menino se inconformou. Seu mestre que lhe ensinava com tanta segurança sobre o amor, falando como se nada soubesse sobre ele.

- Tudo bem... use o seu conhecimento...

- Você não entende - disse o mestre. - O conhecimento te ajuda até certo ponto. Te ajuda a se abrir ao amor, a abrir a porta e estar preparado para ele. Te faz confiar nele quando vem, porque você vê a mão de Deus apontando o caminho. Mas quando ele entra, todo o conhecimento falha. Você fica confuso, sem saber como se comportar, agir, ou o que deve ou não fazer. Você volta a ser criança, sente medo. Está entrando num mundo novo. Tudo o que você sabe passa a não valer nada diante do que está acontecendo. Você volta a agir no escuro, confiando só no coração e no que sente. Toda a certeza se esvai e você mergulha novamente num gigantesco mar de incerteza. Tudo o que sobra é a confiança em Deus e a segurança incerta de que ele sabe o que está fazendo. É a única coisa que resta do conhecimento para você poder se segurar.



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sexta-feira, 27 de março de 2015

A Linguagem do Amor


Tinha um discípulo do guru que estava com ele mesmo antes de ele começar a fazer fama e seu nome cair na boca do povo. Antes mesmo de organizar uma comitiva e falar em público sobre as barreiras masculinas e femininas ao amor, ele já tinha revelado isso secretamente ao rapaz. O guru falou que quando ele tivesse compreendido - através da própria experiência - que o amor vem com fragilidade, energia feminina e queda do poder; que voltasse aos seus aposentos que iria aprofundar-se com ele nos segredos ocultos do amor.

Nas semanas seguintes, o rapaz ficou alerta a esses três aspectos em cada relação que sentia perceber ou que suspeitava haver a presença de alguma característica de amor. O guru havia contado que as relações familiares não contavam, que o amor estava corrompido nelas pela ignorância dos homens. Contou que era raro existir uma família com fundamentos no amor verdadeiro, porque isso significava que não existia mais hierarquia familiar e todos se enxergavam numa mesma altura: tanto os pais quanto os filhos, ambos detinham de mesma, ou melhor, nenhuma, autoridade. Contou que isso era raríssimo e que ele nem deveria esperar encontrar esse tipo de situação.

O rapaz percebeu que sempre que se encantava com alguém, sempre que havia um derretimento de sua personalidade em função de um outro corpo, ele realmente se sentia meio feminino. Sentia uma fragilidade, um aspecto doce. Pensou num homem machão sentindo aquilo e teve a certeza de que o homem diria ser coisa de gay. Também percebeu que durante aquele momento em particular, havia algo mais importante do que ele mesmo. Sentiu que não podia controlar isso. Que se não fosse cuidadoso, poderia quebrar a coisa. Percebeu, intuitivamente, que se tomasse espaço ao invés de cedê-lo, poderia perder toda a magia do que estava acontecendo. Talvez fosse isso que o mestre queria dizer quando mencionou a queda do poder.

Então já tinha experimentado os três aspectos do amor: a fragilidade, a energia feminina e a queda do poder. Era hora de voltar ao guru.

O guru ficou muito contente com as descrições do rapaz. Ele estava compreendendo o real significado da coisa. Projetou mentalmente um belo futuro ao garoto, um futuro preenchido de riquezas que o dinheiro não pode comprar e que nenhum homem pode obter à força. Falou para ele não perder esses três aspectos de vista, mas que agora iria se aprofundar com ele no segredo de propagar e conquistar amor.

O guru contou que o amor é uma linguagem, uma linguagem que os homens esqueceram. Contou que os homens estão tão cegos que o corpo não sabe mais falar a linguagem básica do amor. Contou que o corpo dos homens sabe falar a linguagem da raiva, do desgosto; mas que perderam a capacidade de falar a do amor. Contou que se um homem resgatar essa linguagem, o amor começará a acontecer e a sair dele de forma natural. Contou que toda a natureza sabia falar essa linguagem, e que era por isso que o amor estava acontecendo aos animais sem nenhum esforço.

Contou que o erro básico dos homens é achar que o amor está numa atividade, nas palavras, ou numa ação. O amor pode originar essas coisas, mas ele não está nelas. De algum jeito, os homens estão acreditando nisso e cometendo erros atrás de erros. Eles acreditam que há uma fórmula, uma forma de agir que defina o amor. Mas contou que não, que isso não existe... 

Falou que o segredo estava no corpo e não na ação. Falou então que o trabalho dele seria reensinar ao corpo a linguagem do amor, assim a coisa passaria a acontecer naturalmente, do mesmo jeito que acontece a respiração. O corpo saberia falar a linguagem e saberia agir de acordo com ela, atraindo e reproduzindo o amor que precisava.

Contou que o segredo para ensinar uma linguagem ao corpo está na vibração da energia. Contou que o corpo dos homens sabe falar a linguagem da raiva porque estão alimentando vibrações desse tipo a todo tempo. Então que o trabalho daquele que busca o amor é motivar vibrações de amor no corpo, e não correr atrás do amor. O corpo, falando a linguagem, faria o amor acontecer sem força da ação pessoal. Claro que haveria ação, mas ela viria naturalmente do corpo através de sua sabedoria, e que não precisava ser necessariamente verbal, mas que também poderia ser.

Então falou que o trabalho do rapaz agora seria estimular no corpo vibrações de amor. Falou que ele poderia fazer isso de diversas maneiras, mas que não ficasse forçando desesperadamente isso, que deixasse o impulso surgir. Contou que o impulso sempre vem, porque ele está em todo lugar, mas que o homem não o abraçava mais e que só por isso o perdia. Contou que ele poderia vir por filmes, por imagens, por músicas, por uma pessoa; por qualquer coisa. Contou que quanto mais o corpo sentisse a vibração, mais a tornaria conhecida, familiar. Então que, de forma natural e com o tempo, o corpo estaria falando a linguagem do amor.

Contou que essa linguagem cria e recebe amor do meio, de forma muito simples e espontânea, sem necessidade de esforço ou pedido. Contou que a linguagem do amor é a linguagem mais próspera que existe. Contou que ela é como o sol, que concede calor e luz aos astros mais próximos, e que, por isso, faz os astros começarem a orbitar à sua volta.




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quinta-feira, 26 de março de 2015

O Guru do Amor


Na índia, era comum a existência de "gurus". Os gurus exerciam funções parecidas com as dos sacerdotes do mundo ocidental, basicamente conselheiros, mas cada um possuía características particulares, como o modo de se vestir e de se comportar, o que concedia um pouco mais de beleza e unicidade à pratica.

Essa tradição estava tão difundida, que em uma das cidades mais movimentadas daíndia, começaram a surgir subdivisões. Haviam todos os tipos de gurus: gurus dos pobres, gurus dos ricos, gurus da ciência, até gurus do sexo; mas os mais frequentados eram os gurus do amor. Isso era um dado extremamente relevante, porque demostrava que a humanidade ainda considerava o amor a coisa mais importante. Isso contradizia completamente o dito popular de que o amor estava morrendo.

Um desses gurus do amor estava ficando famoso, porque as pessoas que o frequentavam estavam obtendo um sucesso excepcional nesse quesito. Uma notícia foi espalhada de que ele possuía uma técnica revolucionária que tornava mesmo o mais feio dos homens no mais perfeito amante. Isso agitou tanto aquela cidade populosa, que toda a massa começou a ser atraída ao homem.

Todos iam até lá com o mesmo propósito, e todos falavam a mesma coisa, o mesmo problema era relatado. O guru estava cansado de repetir as mesmas palavras a cada um, então organizou uma comitiva, remarcando todas as consultas para um dia específico, onde daria uma palestra geral.

Quando chegou o dia, o local estava cheio. O guru agradeceu internamente e pediu silenciosamente a Deus que todos ali presentes compreendessem as suas palavras. Depois que o pessoal fez um silêncio, depois que se acalmaram, o guru contou a eles:

- O amor é a coisa mais simples do mundo. Se vocês repararem na natureza, todos os animais sabem amar e eles dão um show de amor nos seres humanos. Eles não têm a nossa inteligência, e não estão buscando o amor como nós estamos. Ainda assim, amam melhor do que nós.

- O problema de todos vocês aqui presentes é o mesmo. Então, se vocês não solucionarem esse problema primário, nenhuma técnica irá ajudá-los a se aprofundar ainda mais no amor. Vocês não são capazes de amar porque são contraditórios. Falam que desejam o amor, mas quando o amor vem, vocês fogem. Vocês dizem ter interesse no amor, mas vocês não estão realmente interessados nele. Sem saberem, estão negando-o a todo momento.

- Os homens estão rejeitando o amor porque se sentem femininos quando ele bate à porta. Mas o homem jamais será capaz de amar se não permitir que a energia feminina faça parte do seu corpo. Ele nunca vai acontecer. O homem poderá correr atrás do amor mesmo a vida inteira. Sempre quando ele bater à porta, o homem sentirá uma flexibilidade e retornará à sua rigidez. Ele aprendeu que homem tem que ser homem.

- As mulheres dizem que querem amar, mas quando o amor bate à porta, a sua fragilidade é exposta e a mulher tende a saltar fora. A mulher está seduzida pelo poder, e o amor coloca o poder abaixo. Quando o amor vem, a mulher sente estar perdendo o seu poder. E ela não quer isso. A mulher se habituou ao poder. Apesar de reclamar do machismo, lá no fundo, ela criou o machismo feminino. Ela é mais amante do poder do que os homens.

- Então, se vocês querem amar, primeiro tornem-se inteiros, receptivos. Tornem-se flexíveis e abertos ao novo. O amor é uma morte, é uma entrada em uma nova dimensão. Só quem aprendeu a morrer será capaz de amar como os animais.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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A menina que amava cavalos


Era uma menina apaixonada por animais. Todo mundo a criticava quando pequena, porque era uma garota estranha. Só sabia falar de animais, só queria saber de animais. Algumas colegas diziam que ela era maluca, que existiam coisas mais importantes, como meninos. Ficavam pegando no pé dela, inventando que ela namorava um cachorro quando estava escondida.

Era uma garota muito sensível, e ficava bastante magoada. Apesar de tudo, a sua paixão por animais superava as mágoas. Sofria pelas críticas das colegas, mas quando se encontrava com os animais da fazenda do avô, todas as mágoas se derretiam e ela desaparecia num amor doce.

Algumas vezes, por alguns milímetros, passou perto de abandonar a sua paixão. Sentiu raiva dos animais, porque estavam fazendo-a sofrer e perder amizades. Mas por alguma razão, não conseguia se separar deles. Inesperadamente, o amor doce ao vê-los invadia de novo o seu peito e todo o passado era esquecido.

Quando foi chegando à fase adulta, a paixão permaneceu, apesar de ter se tornado uma garota muito sozinha. Agora ela mesma se reconhecia como estranha, porque era uma bela garota que só queria saber de cavalos. Não conhecia ninguém assim, então sentia grandes dificuldades ao compartilhar o seu mundo com outra pessoa. Os poucos relacionamentos com garotos que teve, duraram pouco tempo, porque eles não conseguiam compreendê-la, rejeitando sutilmente a sua estranheza. Por ser uma garota sensível, percebia esses detalhes sutis e sentia dor. Essa dor a fez separar-se deles e se concentrar ainda mais em cavalos.

Ingressou na faculdade de veterinária e se formou. Ficou muito rica, cuidando de cavalos de grandes fazendeiros. O seu nome passava de boca em boca, entre eles, ganhando milhares de elogios. Eles diziam que ela conhecia o coração dos cavalos. Por força do destino, tudo deu certo. Seu amor por cavalos a conduziu por uma estrada que conspirou a favor. Conheceu um rapaz estranho, apaixonado por pássaros, e embarcaram num romance. Se casaram, tiveram três lindas crianças. Estão vivendo felizes até hoje.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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Bodsavana


Um homem, depois que ouviu falar que Buda e seus discípulos iriam atravessar aquela cidade nesta noite - Buda e seus discípulos caminhavam de cidade em cidade, fazendo novos discípulos -, se preparou para se juntar a eles em sua peregrinação. Bom, se podia viver uma vida abençoada conforme o movimento de Buda estava declarando, ele queria isso.

Quando a caravana de Buda passou, o homem aderiu ao grupo e pediu a benção de Buda. Foi abençoado e aceito. Era uma tradição de Buda sempre que um novo discípulo chegava, trocar o seu nome e dizer uma frase relacionada a ele. Era o modo de Buda ensinar que o homem, a partir do momento que ingressava no Caminho, se tornava outra pessoa e o antigo deixava de existir. Então Buda disse a ele, depois da benção: "você se chama Bodsavana, aquele que reconhece merecer os tesouros mais preciosos da terra".

O homem se alegrou com o nome, tinha muito a ver com ele. Quando começou a ser chamado assim, se sentiu eufórico... sentiu ser outra pessoa, uma nova pessoa. Uma pessoa melhor. Sentia que aquele homem antigo não existia mais. Agora ele era Bodsavana, o homem que reconhecia ser herdeiro de todos os tesouros da terra.

Durante dois anos seguidos, seguiu Buda, e aprendeu muitas coisas. Aprendeu que a semente que cai na terra e que gera uma árvore, já tem impresso na semente onde a futura semente, do fruto, cairá. Aprendeu que o rio é translúcido e que suas águas são potáveis porque ele está em constante movimento - a água que foi, está dando lugar à água que chega, então que é por isso que o rio está sempre com águas novas.

Se sentia mais sábio, e era verdade, a sua energia tinha mudado um pouco. Sentiu que era hora de Bodsavana voltar para a sua terra natal. Quando foi se despedir de Buda, Buda disse: "lembre-se, Bodsavana... Bodsavana reconhece ser herdeiro dos mais preciosos tesouros da terra, e é por isso que ele entrou no Caminho". Bodsavana fez uma reverência, agradecendo a Buda por seus ensinamentos, e se retirou. Voltou para casa.

No decorrer do ano, viveu uma vida bem mais tranquila. Não se confundia mais tanto com as coisas do mundo. Recebia elogios. As pessoas diziam que ele tinha um sorriso bonito. Estava vivendo uma vida alegre.

Foi aí que a moça mais bonita da cidade se apaixonou por ele e declarou o seu amor. O homem tomou um susto. Ela era bonita demais e ele era apenas um homem comum, como qualquer outro.

Não acreditou. Achou que ela estava querendo seduzi-lo. Por quê? Ele não sabia. Não tinha nenhuma riqueza, também não concederia nenhum status, porque não era forte e nem belo. Que mistério era esse? O que ela estava tramando?

Foi aí que as palavras de Buda ecoaram em sua mente: "Bodsavana reconhece ser herdeiro dos mais preciosos tesouros da terra, e é por isso que ele entrou no Caminho". Ele entendeu que ainda não era digno do nome. Ainda não tinha se tornado Bodsavana. Precisava retornar a Buda, precisava continuar a Busca.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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quarta-feira, 25 de março de 2015

Sensitivos


Os sensitivos são aqueles seres humanos desprovidos de uma casca, com um ego flexível ou ausente, e que por isso estão em um contato diferenciado com o mundo. O mundo é percebido com uma intensidade maior, concedendo a eles uma extrema sensibilidade. É um lindo talento quando há compreensão, mas pode ser um perigo extremo quando a compreensão está ausente. Os sensitivos são pessoas mais vivas, porque o seu interior troca energia com o externo e vice versa. Não há nenhuma barreira de um para o outro.

Os sensitivos com compreensão foram chamados, durante toda a nossa história, de seres iluminados. Jesus Cristo era um sensitivo, Buda era um sensitivo. Na época deles, ser um sensitivo significava ser um alienígena na terra, porque era um evento raríssimo, um tiro de sorte, um salto evolutivo extremo. Mas hoje, devido ao trabalho desses homens, essa característica já chegou a nível de DNA humano e alguns já estão nascendo potencialmente sensitivos.

Jesus Cristo experimentou grande sofrimento por ser um sensitivo, diferente de Buda, que experimentou grande prazer. Jesus Cristo sofreu porque era um sensitivo que amava, que gostava das pessoas, que queria contato com elas; e era praticamente impossível ele encontrar alguém que pudesse compreendê-lo e com quem pudesse compartilhar a sua experiência. Todo o seu esforço foi tornar outros homens sensitivos, como ele. Ele estava constantemente sentindo dores profundas, porque sentia falta do contato humano.

Buda era um amante da ciência, do mistério, então encontrou grande prazer em sua experiência. Se deparou com um mundo totalmente novo que encantava os seus olhos a cada nova descoberta. Queria ensinar, passar o seu conhecimento, atiçar a curiosidade do homem. Buda se sentia completamente em casa. Encontrou uma grande alegria no seu talento sensitivo.

Pode ser duro para o ego ouvir isso, mas os sensitivos são o passo evolucionário do homem. É o renascimento do homem. O rompimento da casca do ovo. É o salto do homem para um novo sentido, o sexto sentido. Um sentido extremamente mais complexo e extenso que os outros cinco. Jesus Cristo e Buda foram seres que chegaram muito cedo, que, por alguma razão, evoluíram antes do impulso chegar à massa. Hoje vivemos uma época em que, devido a grande ajuda deles, o impulso chegou à massa. Por isso que atingiu o nível do DNA.

Alguns de nós, já cedo, estamos experimentando grandes sofrimentos, grandes angústias, grandes depressões. São os sensitivos, que só estão sofrendo porque ainda não têm o conhecimento. Como não têm uma casca, estão absolutamente vulneráveis ao meio. Então são massacrados pelos egos alheios e sentem dores profundas. Como não sabem o que está acontecendo, como são os únicos sentindo dores; sentem-se sozinhos, e isso os conduz a uma extrema confusão e solidão.

Sensitivos, apesar de ser um passo de evolução, são seres mais frágeis. Não há nenhuma rigidez interna, então estão condicionados ao meio. Não há uma personalidade fixa, então eles se tornam o meio. O sensitivo com compreensão, aprende a se esquivar daqui e se aproximar dali, porque sabe como está susceptível. Mas os sem compreensão estão correndo grandes perigos.

Se tornar o meio significa que, se o sensitivo estiver com alguém agressivo, se tornará agressão. Se estiver com alguém amoroso, se tornará amor. Se estiver com alguém falso, se tornará falsidade. Sozinho, ele é ele mesmo. Mas no meio, as energias estão invadindo o seu corpo, porque não há uma defesa contra elas, então ele se torna as energias. Sensitivos geralmente são pessoas amorosas, que gostam de carinho; então ao se sentirem falsos, raivosos - culpa da energia alheia -; sentem-se muito mal. O sensitivo precisa buscar o conhecimento de si mesmo, para aprender a distinguir o que está sentindo do que ele é, se não estará sujeito a confusões absurdas.

O sensitivo com conhecimento - considerado por muitos como "iluminado" -, tem essa distinção precisa. De longe, ele reconhece as pessoas, porque conhece bem a sua antena. "Amor", "raiva", "falsidade" - ele vê, então é por aí que se guia. Se ele gosta de amor, onde vê o amor de longe, ele vai confiante. Já sabe o que vai encontrar ali. É por isso que o iluminado vive uma vida de acordo com o que ele quer. Ele está vendo tudo o que há por trás das peles, então pode escolher o seu próprio caminho sem erro.

O sensitivo sem conhecimento precisa crescer o seu estado de alerta e se tornar alguém investigativo. É o único modo de desmembrar as suas sensações e obter o conhecimento. Se não fizer isso, estará sujeito a grandes sofrimentos. Sensitivos geralmente são aqueles inconstantes. Um mínimo contato com outra pessoa já muda o que estava sentindo antes, fazendo-o sentir uma estranha sensação de que se tornou alguém diferente. Sim, se tornou o meio, se tornou a energia.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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