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terça-feira, 14 de abril de 2015

Romance Seguro


Ela era uma menina super romântica, com um coração cheio de doçura. Não conseguia ver um gatinho, um menino bonito, que se apaixonava. Corria atrás dele que nem um cãozinho abanando o rabo. Muitas das vezes era rejeitada... não era uma garota muito bonita. Na idade dela, jovem, a beleza ainda era a única coisa que os garotos costumavam notar e dar importância.

Ela gostava de escrever, fazer uns desenhinhos. Era outra forma que o seu coração encontrou de expressar todo aquele amor. Mas gostava mesmo era dos garotos. Queria dar o seu amor a eles e não aos papéis. Só que depois das primeiras rejeições, começou a sentir um medo tremendo de fazer isso...

Um amigo de seu pai, um homem bastante inteligente que tinha se dado bem na vida, que todo mundo gostava dele, que parecia ter alguma gravidade; estava um dia por ali na casa dela e a viu triste. O homem não tinha medo de interferir na vida dos outros. Sabia que carregava o bem no peito.

- Minha querida, o que está acontecendo? - a voz do homem inspirava confiança. O coração da garota sentiu vontade de desabafar sem nem ao menos se dar conta de que nunca tinha conversado com ele.

- É os garotos... eu gosto tanto deles... mas Deus parece que quer me castigar. Colocou todo esse amor no meu peito e nenhuma condição de ele entrar em fluxo.

- Ei, ei, ei... isso é impossível - disse o homem. - Se Deus colocou esse amor aí, tão grande como você diz, é porque tem um propósito na mesma proporção para ele.

- Sério?

- Claro - confirmou o homem. - Deus é um arquiteto, e o melhor deles, porque a sua fundação nunca cai. Faz o seguinte... quando sentir esse amor, dê forma a ele. Se preciso for, e se ele estiver pedindo alguma direção, o dê a quem ele pede. Não ligue para o que vai acontecer. Confie nisso. Mas faça o seguinte... dê forma ao seu amor como se fosse a última coisa que você estivesse fazendo. Então faça com toda a sua vontade. Dê o melhor de si, só por aquele momento.

Que lindo o modo daquele homem falar... ai Deus, lá estava vindo o amor de novo. Não, não, não... era amigo do seu pai e tinha a idade para ser o seu. Era incoerente. Acataria o conselho, mas não com ele.

- Tudo bem. Vou fazer isso. Mas o que vai acontecer?

- Apenas faça, está bem? - respondeu o homem.

- Está bem...

Depois daquela conversa, sempre quando acontecia, sempre que se apaixonava de novo; a menina seguia os seus instintos amorosos e colocava todo o seu coração na ação. Às vezes fazia uns bilhetinhos com desenhinhos românticos. Outras vezes com palavras bonitas, e entregava ao garoto. Algumas vezes o impulso era tão forte que não resistia. Chegava na frente do garoto e se declarava, dizendo que ele era a coisa mais linda que já tinha visto, que estava vendo o brilho das estrelas refletido nos seus olhos.

A menina continuava sendo rejeitada, mas estava amando cada vez mais. As cartas que escrevia, as palavras que dizia, os gestos que fazia; estavam todos voltando em amor para si mesma. Estava se apaixonando pelas suas próprias ações, se apaixonando pelo seu próprio amor. Queria amar os garotos, mas já estava tendo bastante felicidade só em se expressar com a maior intensidade possível.

Acabou sentindo grande gratidão por aquele homem, que depois do acontecido, nunca mais apareceu. Ele viajava bastante, deveria ter se mudado por algum motivo. Foi por causa dele que encontrou esse romance seguro. Estava dando todo o seu amor, e isso a tirava da angústia de ficar com ele preso no peito sempre que se apaixonava. Mesmo que não fosse recíproco, não importava mais tanto. Estava sendo prazeroso do mesmo jeito. Havia um prazer enorme em apenas se encantar com a própria ação de amor.

Talvez não fosse verdade, mas acreditou que aquele homem foi enviado, naquele dia, por Deus; como se algum anjo tivesse falado com ele e pedido para lhe dizer algumas palavras. Era o pensamento que fazia mais sentido. Poucas palavras, ditas no momento certo, haviam salvado a sua vida para sempre.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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