Havia uma estátua de uma moça de cabelos compridos e cacheados, segurando uma jarra, no meio da praça central. Tinha um motorzinho no engenho fazendo a água circular por dentro da moça, sair pela jarra e cair num pequeno canteiro, à volta dela, cercado por um murinho baixo, parecendo uma piscina rasa. Era inevitável a comparação com um poço de desejos.
Como aquela praça estava sempre cheia de turistas, não demorou muito e o canteirinho já estava cheio de moedas, de vários países diferentes. Logo o monumento foi apelidado de "A Moça dos Desejos" e passou a atrair a atenção de todos. Contava-se que aquele que removesse uma moedinha daquelas sequer, seria amaldiçoado pelo desejo contrário ao que foi proferido. Ninguém queria isso. Então o canteiro foi ficando cada vez mais cheio.
Tinha um menino que debochava da crença. Sempre que alguém fazia um pedido e jogava uma moeda, ele dizia que a pessoa era idiota. Só que todos que o faziam estavam parecendo muito contentes. Depois de jogar as moedas, o pessoal se juntava e tirava fotos, fazendo várias poses e caretas diferentes. Alguns agradeciam à moça que, simbolicamente, estava atendendo aos pedidos de todos. Verdade ou não, estava gerando momentos de profunda alegria.
Apesar de tentar convencer a todos de que aquilo era uma completa idiotice, mesmo os seus melhores amigos estavam cedendo à brincadeira. Quando estavam tristes, em crise; eles iam até lá cheios de fé e depositavam a sua humilde moedinha. Faziam uma pequena prece, um sinal de cruz, e iam embora acreditando que o seu desejo seria realizado.
Depois de algum tempo insistindo, a moeda foi virando de lado e o menino começou a sentir atração pelo acontecimento. Todos estavam gostando. Secretamente, passou a desejar fazer o mesmo. Não obteve sucesso algum ao criticar... as pessoas pareciam simplesmente ignorar... Deveria ter algum benefício para estar inutilizando todas as suas críticas.
Como já não podia mais ir ali, na frente de todos, porque certamente estaria pagando um mico enorme depois de tudo o que dissera, esperou descer a madrugar para então realizar o seu desejo de também participar. Lá pelas duas da manhã, quando não havia mais nada na praça a não ser umas corujas noturnas, o garoto se aproximou da estátua e retirou uma moedinha do bolso. Fechou os olhos, fez um pedido e estendeu a mão para lançar a moeda.
Antes que conseguisse lançá-la, algo segurou com força em seu braço e o impediu. No instinto, abriu os olhos. A moça da estátua estava segurando-o pelo punho. Estava viva.
- Por favor, menino... você não faz ideia de a quanto tempo estou esperando por essa oportunidade. Não podia fazer isso à luz do dia, na frente de todos; ninguém iria acreditar na bondade da magia. Iriam me por à baixo, me destruir, acreditando que sou algo ruim. Por favor, menino, todos estão me dando tanta atenção... me fazendo tão feliz com toda a alegria que estão vibrando por perto de mim... Por favor, menino, por favor... faça-me um favor, de todo o meu coração: agradeça a todos por mim.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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