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domingo, 5 de abril de 2015

O garoto que se perdeu


Era um garoto muito para baixo, com uma péssima autoestima e uma completa ausência de amor próprio. Já vinha vivendo anos sofridos e sem nenhuma expectativa de melhora iminente. Não era por falta de esforço, porque desde que sentiu que estava no fundo do poço não parou de correr atrás de uma ajuda ou de uma solução. Era simplesmente porque não encontrava mais alternativas.

Depois de frequentar diversos centros espirituais e se dar conta de que uma explicação sobrenatural não iria transformar o seu estado de espírito, começou a recorrer a livros de autoajuda. Parecia estar entrando num imenso universo onde todo o propósito era ajudar o homem a se encontrar.

Os livros davam instruções práticas para se viver uma vida feliz; como desenvolver gratidão, amar a si mesmo e pensar positivo. Parecia ter encontrado a solução universal. Tudo o que precisava era seguir os passos. Se sentia contente pela descoberta, estava a salvo. Passou a praticar.

A prática o fazia sentir-se positivo e esperançoso. Só que depois de seis meses já não podia mais enganar a si mesmo e o remédio começou a perder o efeito. Não havia razões para agradecer, nenhuma razão para pensar positivo e muito menos motivos que o fizessem se amar. Estava vivendo um inferno, uma vida sem nenhum encanto.

Até que, por alguma razão, conheceu um rapaz que fez toda a caminhada fazer sentido. Era um rapaz cheio de amor, feliz. Dava para sentir isso ao se aproximar dele. Era raro encontrar alguém assim, adulto e com um encanto juvenil. O homem deveria conhecer algum segredo ou estratégia para uma vida feliz.

Aproximou-se dele com honestidade, confessando que por dois anos viera buscando mudar de vida, uma saída, e que apenas acabou se aprofundando ainda mais no buraco. Disse que notou a transparência da felicidade dele, perguntando se alguma vez já tinha sofrido e se havia algum segredo para ser feliz daquele jeito.

O homem recebeu o garoto com extrema generosidade, porque a verdade nos olhos faz abrir o coração dos mais brilhantes dos homens. Apesar de ser uma história de fracasso, o desespero sincero do peito do garoto sendo refletido na expressão do seu rosto emitia um brilho de beleza que mesmo nos mais floridos dos jardins era raro de se encontrar.

O homem, com um coração vibrando compaixão, falou que não havia razões para ele se preocupar, porque muito provavelmente o encontro dos dois era sinal de que ele já estava encontrando o bom caminho. Contou que já sofreu, sim, bastante, e que não conseguia nem conceber um homem que tenha passado por sofrimento maior. Mas que hoje era agradecido a isso, porque o encaminhou até a felicidade conquistada - aquela felicidade que não pode ser perdida ou destruída por algo ou alguém.

Falou que a busca e a dor o ajudaram a entender bastante coisa, compreendendo grande parte do sofrimento humano. Contou que os animais não sofrem porque vivem num estado de amor a si mesmos e à vida. Mas disse que é um estado natural e que é só por isso que o amor acontece.

Disse que o pássaro ama porque voa, que a toupeira ama porque cava, e que o peixe ama porque nada. Esse é o brilho especial que Deus deu a cada um e que os tornam especiais. Por possuírem um brilho único, sentem-se abençoados e passam a amar a si mesmos, a criação, e todo o restante da experiência.

Falou que é por isso que os homens sofrem: perderam o brilho único. O homem peixe quer voar, já o homem toupeira quer nadar. Então não conseguem desenvolver aquilo que Deus os deu e isso traz uma forte insuficiência e uma dominante ausência de sentido. O resultado disso é uma droga de vida e uma falta de amor a si mesmos e à experiência.

Se o homem peixe buscasse nadar, ou seja, buscasse fazer aquilo que há em seus registros internos, que movimenta uma energia espontânea em seu corpo; desenvolveria um lindo brilho particular. Disso, o amor nasceria, multiplicando o brilho em todas as dimensões da experiência ao mesmo tempo. Mas o homem peixe fica se comparando ao homem pássaro e tentando voar de qualquer jeito, forçando a natureza a isso. É impossível, e por isso o homem começa a sofrer até perder completamente o sentido de vida.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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