Desde que a bruxa havia mencionado a existência das fadas, o menino ficou matutando como isso era possível. A bruxa falou para não se preocupar em encontrar-se com uma fada ou não, porque era a fada quem encontrava-se com ele. Falou que se ele se preocupasse com isso, nunca a encontraria. Disse que antes de tudo, deveria sonhar um pouco, quebrar os limites da imaginação e ir além; construindo um mundo pessoal, uma projeção de si mesmo.
Falou que os homens não sonham mais, aceitam o mundo como lhes é dado mesmo que esse mundo seja uma droga. Contou que esse é o único motivo de nunca conhecerem a magia. A magia é para aqueles que querem um mundo novo, que querem algo que é somente deles; que querem ver os sonhos pessoais, vivos. A magia é para aqueles que querem do mundo algo a mais além do que lhes é imposto pelo passado dos homens.
O menino confiava bastante na bruxa. Era uma confiança não forçada, uma confiança que nasceu naturalmente. A bruxa de vez em quando falava umas coisas meio malucas, mas de alguma forma sempre chegava com algo que confortava o seu coração e que lhe dava um novo chão quando estava prestes a cair. Isso fez o seu coração confiar nela devagarinho. Fez o seu coração acreditar que as maluquices dela eram puramente obras de amor.
Então começou a sonhar. No começo, seus sonhos machucavam um pouco, porque não via nem sequer um pedacinho deles na realidade. A realidade era uma coisa e os seus sonhos eram outra completamente diferente. Às vezes tinha crises de fé; desabava e ficava a um dedo de abandonar tudo. Mas sempre aquele impulso de sonhar retornava como uma onda e ele voltava a nadar nela mais uma vez.
Quando deu corda aos sonhos - algo que antes não acontecia porque as coisas do mundo diziam para não sonhar -, percebeu que tudo estava ajudando-o a sonhar ainda mais, como se o mesmo mundo que antes o impedisse dos sonhos estivesse virando a moeda de lado e empurrando-o mais ainda para dentro deles. Foi aí que começou a perceber que as coisas estavam entrando em uma nova sintonia. Havia um sincronismo entre as coisas que pensava, que sentia, e que chegavam externamente em imagens, músicas e filmes.
Lembrou que a bruxa havia dito que as fadas se comunicam através do sincronismo, então esperou mais uns meses atento a isso. Percebeu que o sincronismo só ia aumentando de intensidade. No começo, acontecia em média uma vez por semana - acontecia uma sequência de eventos com uma sincronia inacreditável. Mas depois de cinco meses, estava acontecendo quase que diariamente, ao ponto de ele até se acostumar com o evento.
A bruxa o parabenizou, falou que tinha encontrado o jardim das fadas. Disse que era Safira a fada quem estava mais perto dele, a fada azul. Falou que ela já estava trabalhando, fazendo todo o esforço possível e inimaginável para que os sonhos dele se tornassem realidade. Falou que são os magos quem dão vida às fadas, porque o jardim das fadas mora no coração deles. Os homens não conhecem o jardim porque não dão corda aos impulsos inocentes do coração. Falou que quando o mago sonha, quando deixa a magia do coração fluir, a fada ganha vida - a guia da magia. Falou que ela usa o pó mágico para tornar os sonhos, reais. Disse que elas podem fazer qualquer coisa, porque estão em todos os lugares ao mesmo tempo.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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