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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Amor de Bruxo


O menino era um garoto cheio de amor. O seu amor era como uma poesia, que vinha com uma grande doçura, se comunicando com as pessoas através de uma melodia que seduzia por seu intenso encanto. Era demais para alguns, que acabavam por reagir em resistência acreditando ser o encanto de alguma natureza maligna. A resposta disso era avassaladora para o menino, que sofria rejeições cruéis por parte dela.

Proferiam ser o menino portador de algum mal. Mas o garoto era apenas um anjo, porque, de tanta beleza que carregava sem propósito no peito, encantava o ambiente naturalmente por onde passava. Mesmo se ficasse calado, a beleza começava a vibrar em sua pele e acabava encantando as pessoas do mesmo jeito. Seu encanto levava os encantados até os campos floridos do céu, levando-os a enxergar a beleza da vida e aliviando o peso do mundo contido em seus corações. Então era um bom acontecimento, um bom encanto. Mas era mal interpretado e julgado como um fruto pecaminoso.

Ele ficava irritado com isso, porque sabia que tudo não passava de sua pureza transparente de espírito. Isso o conduzia a brigar internamente com os julgamentos. A bruxa, sua atual confidente íntima, já havia passado por tudo isso. Conhecia essa porta e o seu caminho a fundo, pois havia mergulhado nela sem freio ao ponto de quase perder o seu amor de bruxa.

Quando o menino começou a relatar essas experiências, a bruxa passou a se ver refletida. Isso era comum, vinha acontecendo com bastante frequência entre os dois. Eram experiências muito parecidas. Ela sentia que o menino estava trilhando os seus mesmos passos, estando a apenas alguns quilômetros atrás da mesma estrada. Seu coração se confortava ao perceber isso, porque sentia que poderia ajudá-lo como ninguém. Era isso o que sempre tinha desejado a si mesma enquanto trilhava esses passos: alguém que a ajudasse. Mas durante os seus passos particulares, não havia encontrado ninguém, nenhuma ajuda, e teve que aprender a escapar das armadilhas sozinha, o que deve ter rendido dez vezes mais tempo, sofrimento e esforço.

A bruxa falou para ele firmar no peito que assim era o amor natural de bruxo. Que não havia culpa, que era um amor totalmente benigno. Falou que o amor de bruxo é mesmo sedutor, e que isso é bom, porque compete com a sedução do mundo. A sedução do mundo seduz os homens a se perderem, enquanto o amor dos bruxos seduz os homens a se encontrarem. Então disse que o mundo, um dia, talvez não hoje, acabaria por entender isso, passando a celebrar a existência dos bruxos e da magia.

Até lá, disse que ele deveria firmar essa verdade no peito cada vez com mais intensidade, não se deixando ser afetado pelos julgamentos. Mas o menino não estava escutando direito... a inquietação da resposta negativa estava perturbando os seus pensamentos, o levando a começar a murmurar desavenças. A bruxa deu um beliscão nele tão forte, mas não forte, que ele nunca mais se esqueceria desse acontecimento.

- Deixa de ser tolo, menino - disse ela num tom severo. Ele ficou puto. O beliscão com certeza deixaria uma marca enorme. - Nunca desperdice o seu amor, mantenha-o em movimento, sempre indo. Se encontrar uma barreira, contorne-a com a graça de uma menina e continue seguindo em frente. Se o amor dado for rejeitado, se por algum motivo você for alvo de ofensas ou julgamentos; volte o amor a si mesmo, mas não o perca com a energia de conflito. Continue subindo no amor. Se não puder ser para o outro, que seja para você. Esse amor que não descansa levará a sua alma cada vez mais para o alto. Não tenha dúvidas, a alma não vai sozinha... o corpo subirá junto com ela.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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