Havia uma família de patos que só crescia. O lago estava ficando cada vez mais habitado. Os patos iam cruzando e se reproduzindo, então depois de alguns anos, o lago já estava cheio de lindos patinhos. Eram todos amarelos, bonitinhos - uma bela paisagem.
Dentre aquele conjunto de patos, um deles começou a ficar incomodado. Todos passavam por ali e admiravam o grupo, mas ninguém olhava para ele. Era só mais um no bando. Não tinha nada de especial. Começou a se perguntar por que todos aceitavam isso.
Quando discutia o assunto com os companheiros, eles diziam: "é porque é assim que as coisas são. Aceite". Mas era impossível, não conseguia aceitar. Continuava investigando. Era mais forte do que ele.
Em sua investigação silenciosa, notou que os patos estavam mentindo. Eles não estavam aceitando coisa nenhuma, estavam era com medo. No bando, estavam todos escondidos. Era cômodo. Seria um ato de muita coragem sair do bando. Nas conversas pessoais, notou que todos queriam ser especiais. Queriam contar as suas estórias, queriam ser notados. Havia esse desejo, essa vontade dentro de cada um. Depois de um tempo, reparou que muitos patos estavam sofrendo. Só poderia ser esse o motivo. Estavam se sentindo não especiais e isso estava tirando toda a alegria deles. O grupo era admirado, mas nenhum dos patos ganhava admiração particular.
Como ninguém estava reparando nesse detalhe, ou mesmo que tivessem, não tinham coragem para assumir; era ele quem teria que fazer alguma coisa. Faria por ele e pelo bando. Sabia que correria um risco enorme, mas iria fazer de qualquer jeito. Sentia que era a sua missão. A loucura foi tão além que começou a acreditar que era o seu destino, que tinha nascido para isso. Pegou uma raspa das folhas, misturou, fez uma tinta e pintou o pelo. Virou um pato vermelho.
O choque foi radical. Ao olhar para o bando, o olho dos paisagistas era atraído imediatamente para o pato vermelho. Era a única coisa vermelha naquela imensidão amarela. O pato vermelho estava ganhando atenção particular. Começou a ser massacrado pelos próprios companheiros, que proferiam diversos tipos de julgamentos. Alguns sentiam vontade de ser como ele, de ter aquela coragem. Também queriam ter atenção especial. Mas não tinham a coragem, então julgavam. Era o modo que encontraram de se proteger, de se sentirem menos mal. O pato vermelho foi exposto a uma grande amplitude de forças em todos os sentidos, contraditórias entre si. Estava sendo pressionado por elas.
Essa pressão toda fez o pato começar a desenvolver novas habilidades que antes não estavam presentes. Precisava sobreviver a toda aquela exposição, então a sua natureza foi encontrando modos, meios, desenvolveu uma intuição. Alguns queriam caçá-lo, exterminá-lo, mas ele sempre sumia exatamente neste momento.
Alguns patos entenderam e fizeram o mesmo. Uns se pintaram de azul, outros de rosa, outros de preto. Todos esses começaram a viver mais alegres. Agora eram especiais. Estavam desenvolvendo novas habilidades, ficando mais inteligentes. Ao saírem do bando, ficaram mais espontâneos. Podiam ser eles mesmos. Não havia mais exigência alguma de ser igual aos outros.
A boa nova se espalhou. Cada pato foi se diferenciando, encontrando suas especialidades. Não tardou muito e o lago estava todo colorido. A comunidade de patos enriqueceu. Havia de tudo. Artistas de todos os tipos, vários atrativos. Cada um desenvolveu uma habilidade especial. O lago estava bem mais bonito agora.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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