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quinta-feira, 16 de abril de 2015

A Confusão do Menino


O menino estava com um pouco de raiva no coração. A raiva ficava indo e voltando, mostrando o rosto e se escondendo de novo. Não conseguia ficar totalmente por perto. Estava parecendo um visitante, alguém vindo de fora... tentando entrar mas não conseguindo. Não era gostoso ter aquele estranho ali, todo o seu passado amoroso era escurecido. Não conseguia mais vê-lo, muito menos tocá-lo. Queria tê-lo de volta. Era mais gostoso do que o que estava sentindo agora.

Como estava borbulhando de confusão e não conseguia encontrar uma resposta, sabia de alguém que possivelmente a teria. Já confiava em si mesmo o bastante para seguir sozinho, mas quando a confusão pressionava a mente, sabedoria parecia ser uma palavra distante. Carência era uma palavra muito próxima, necessidade era outra. Na confusão, ele precisava de alguém.

Geralmente, quando isso acontecia, recorria a seu pai. Seu pai sempre tinha umas palavras boas. Muito do que sabia havia aprendido com ele. Era um homem inteligente, que sempre concedeu liberdade ao filho. Permitia que desse os seus próprios passos, mesmo que fossem errados e soubesse disso. Não interferia. Na concepção do pai, o filho aprenderia com os erros. Então queria vê-lo errando o mais cedo possível, para na fase adulta estar com uma boa condição de inteligência, independência, e assim poder encarar a vida como um homem de conhecimento, tropeçando menos. Sabia que os tropeços do adulto eram mais dolorosos do que os da criança, então queria vê-lo tropeçando logo.

Quando chegou ao pai, o pai logo percebeu pelo aspecto do garoto que havia alguma coisa acontecendo. De uns tempos para cá, o menino estava sempre alegre, saltitante, como uma criança prestes a começar uma brincadeira. Devia ter se encontrado, então essa euforia alegre era mais do que esperada. Mas dessa vez o olhar do garoto estava distante, ausente, sem brilho. Parecia estar vivendo um sonho ruim.

- Meu filho, está tudo bem? Para você ter vindo até aqui, alguma coisa deve estar acontecendo... Quer conversar?

O garoto contou ao pai o que estava sentindo. Disse que tinha entrado numa imensa confusão e que começou a procurar pessoas com quem compartilhar o coração. Falou que estava habituado a sentir isso, que às vezes acontecia, e que sempre resistia até o fim, em solidão. Disse que funcionava. Que passado um ou dois dias, estava vibrando de novo. Mas falou que ultimamente vinha ficando muito doloroso e que havia descoberto pela própria experiência que ao compartilhar com alguém, o alívio era tão imenso que conseguia descansar em meio à confusão como se ela fosse um céu tranquilo.

- Sim, com certeza - disse o pai. - Ao compartilhar a experiência dolorosa, você abre uma brecha que pode ser preenchida pelo amor do outro. Então um grande alívio é sentido. O amor que estava faltando em você é recebido pela fonte do outro, então você consegue ficar imerso em escuridão sentindo profundo amor. Essa é a magia do amor, de ter alguém que te ama. As dores são dissolvidas no amor do outro e vice versa.

- Mas ao compartilhar o coração, é preciso ter um pouco de cuidado. Quando você abre a porta e exibe a essência, ela está susceptível ao outro. O outro pode colocar ali dentro o que ele quiser. Se você estiver compartilhando o seu coração com alguém que está sentindo raiva de você, quando você colocar a essência em suas mãos, a pessoa poderá colocar raiva ali dentro. Então a experiência de compartilhar, que era para anestesiar a dor e aliviá-la, colocará mais uma dose de coisas ruins ali dentro. Então você ficará no meio da escuridão com mais coisas ruins, além dela. Poderá até piorar o seu estado.

- A raiva é profundamente desgostosa a você, porque você conheceu o amor. Isso é bom, porque você nunca perderá o amor de vista. Os que não conhecem o amor, não sentem esse desgosto profundo com a presença da raiva. Não existe algo acima dela a que eles foram expostos ao conhecimento. Então estão susceptíveis a abraçar a raiva e dar mais forma a ela. Já você, deveria agradecer a Deus por sentir dor quando essa energia se apresenta. A raiva nunca tomará vontade própria dentro do seu organismo. Dói, sim, mas você está livre de sua influência. Quando ela se aproxima, pode reparar, ela fica indo e voltando. Ela não consegue penetrar num coração que conheceu o amor.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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