Desde que o menino resolveu conhecer a magia intimamente, o mago não escondeu o jogo. Deixou bem claro ao garoto que essa era uma escolha audaciosa. Declarou que a magia viria como um terremoto, tremendo em grande escala o mundo interno. Afirmou, com todas as letras possíveis, que a magia é a transformação mais profunda que um homem pode percorrer. Que nenhum mago jamais chegou à magia sem antes não ter cruzado os sete infernos.
Mesmo tendo dito isso, o menino não fraquejou. Continuou firme em sua decisão. Queria conhecer a magia de qualquer jeito. Estava encantado com ela, com a sua graça e beleza. O mago abanou as mãos e disse: "você é quem sabe, a escolha é sua". Não estava brincando. Talvez o menino não tivesse entendido direito.
O mago então mostrou a porta: "é por ali". Falou que a magia iria torná-lo um filho da vida, em outras palavras, um filho de Deus. Para isso, teria que morrer o homem. Lá se foi o menino: entrou pela porta por vontade própria. Estava alarmado, já sabia o que iria encontrar. Aos poucos, foi perdendo o controle de si mesmo. Algo além dele estava tomando conta de sua energia. Aonde ia, o que fazia, com quem se encontrava; já não podia mais se controlar. O que sentia vinha do invisível, de forças que estavam além do seu controle. Se quisesse ficar e a energia mandasse ir embora, teria que sair dali imediatamente se não entraria em um amargo conflito interno. Sua energia não era mais dele. Era do criador e por isso se alinhou a uma ordem superior.
Às vezes isso o machucava. Possuía uma série de desejos humanos que tiveram que ser abandonados, sem questionar. Estava caminhando numa estrada que não tinha mais volta. Quando entregou o seu espírito para se tornar um mago, uma nova trilha mágica foi traçada junto com a entrega. Não podia mais se desviar dela. Assim que pisasse fora, era colocado de volta. Os anjos estavam ao seu lado, movendo as peças. Além de protegerem o garoto, estavam vigiando-o. Traçaram um acordo juntos, então teriam que caminhar juntos a partir de agora. Era melhor se acostumar logo. Quanto mais lutasse contra, mais sentia dores. Mais embarcava em confusões.
O seu corpo se tornou ultrassensível. A pele parecia ter se extinguido. Não havia mais como se defender dos homens. Qualquer forma de agressão, agredia a si mesmo e somente. Sofreu bastante até aprender a ter um cuidado excessivo consigo mesmo. Até aprender por onde andar e por onde não, com quem compartilhar a experiência e com quem não. Sofreu com cada erro. A dor ganhou um volume desproporcional. Era o seu novo professor. Caminhou com ela ao longo de meia década.
Sua distância espiritual dos homens o tornou um homem solitário. Estava vivendo experiências profundas, uma atrás da outra. O seu espírito deu um salto evolutivo muito largo e muito rápido. Sentia estar vivendo 10 anos em um semestre. Em cinco anos, percebeu que já não existia mais ser vivo capaz de compreendê-lo. Só outro mago, talvez. E outro mago era um evento raro... caminhar sozinho se tornou o seu fardo. Quando caía, já não havia alguém capaz de ajudar. No máximo, oferecê-lo colo; mas nunca uma solução. Tinha que lidar com cada queda, sozinho. Era ele e Deus.
Mas havia a magia, e as suas promessas. Sabia que traria o mundo dela à terra, que veria o seu tesouro em vida. Mas tinha que percorrer uma longa trilha... não poderia reclamar. Foi ele mesmo quem escolheu ao entrar por aquela porta.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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