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terça-feira, 14 de abril de 2015

A Batalha Mais Sangrenta


O menino vivia com muito medo, uma timidez que o travava e que não o permitia fazer as coisas que realmente queria, onde queria. Essa timidez veio caminhando com ele desde a infância, mas não incomodava tanto. Sempre encontrava um cantinho tranquilo, com amigos, onde podia ficar escondidinho em segurança.

Quando foi crescendo, ficando mais velho, esse cantinho foi ficando cada vez mais escasso. As pessoas iam tomando rumos diferentes, encontrando parceiros, se afastando dele para longe. E ele, por alguma razão, não. Continuava no mesmo lugar. Foi ficando cada vez mais só.

Essa solidão que veio sem pedir, que invadiu o peito como uma visita que chega sem avisar, começou a fazê-lo sentir falta do calor humano. Estava gerando uma angústia. Ainda assim não era o suficiente para fazê-lo encarar os medos de frente e atravessar a barreira do desconhecido, dando passos corajosos para além da zona de conforto.

Mas a angústia só ia aumentando... devagarinho, ficou enorme. Chegou ao ponto de pressioná-lo a fazer algo. Por coincidência, nessa mesma época, algumas mortes chegaram de surpresa. Perdeu o pai, um amigo e um vizinho que nem tinha chegado à adolescência. Começou a refletir na natureza da morte. Ela chegava sempre de repente, e levava a pessoa embora sem deixar espaço algum para arrependimento. O que tivesse vivido, viveu, o que não, perdeu. Se deu conta de que poderia morrer a qualquer momento.

"Meu Deus, se eu morresse agora, não teria feito nem um terço do que queria ter feito", pensou. Essa reflexão mergulhou tão profunda em seu peito, que mudou a sua forma de ver as coisas. O medo não era mais aceitável. O medo era uma armadilha, precisava vencê-lo. Travou a batalha mais sangrenta de sua vida. Ninguém poderia ajudá-lo, era uma guerra solitária. O seu inimigo era o medo e estava dentro de si mesmo. Ou matava-o ou morreria tentando.

Aonde ia, o seu inimigo o provocava. Estava sempre sondando. Quando declarou guerra, o inimigo começou a lutar. Vinha de todos os cantos possíveis, atacando com seus soldados. Mas ele também estava lutando, e não iria ceder. Lentamente, foi compreendendo as táticas do inimigo e desenvolvendo estratégias de combate. Conseguia resistir às suas tentadoras seduções. Aos poucos, foi aprendendo a agir numa zona independente do medo.

Quando passou a viver nessa zona - onde o medo não era mais um fator influente -, descobriu como a vida era gostosa. Tudo estava ali, acessível. Era só ele pegar. Havia companhia, havia amor; havia cuidado, carinho e calor.

"Meu Deus, o mundo precisa saber disso... é só o medo. O culpado é só o medo. A vida é extremamente linda. É uma delicia. É um conforto. Um presente de Deus. Meu Deus... é o só o medo... só o medo..."




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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