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sexta-feira, 17 de abril de 2015

A Teia do Universo


O menino estava no salão da torre do mago, em uma daquelas costumeiras conversas que os dois costumavam ter. Nas últimas semanas, o mago havia contado que todo homem pode acessar uma parte, dentro de si mesmo, onde entra em contato com tudo o que ocorre no universo. Disse que o homem pode tocar a teia que interconecta todos os homens, acontecimentos e coisas, tornando-os inseparáveis, uma coisa só. Que podia acessar o plano em que tudo estava presente e acontecendo simultaneamente. Contou que dali o homem podia ter revelações, podendo até ver o outro em tempo real. Sentir o que o outro está sentindo.

Falou que isso não era nenhuma novidade, que Cristo já sabia disso, assim como qualquer outro homem poderia saber. Disse que era por isso que Cristo teve revelações sobre coisas que ainda não tinham acontecido e pôde prever o que alguns dos que estavam com ele iriam fazer. Mas falou que isso já não era novidade nem na época de cristo. Disse que um dos primeiros homens a descobrir isso foi Platão, 500 anos antes dele.

Desde que o mago havia mencionado isso, o menino, todo dia, encostava num cantinho sentado - inspirado em buda e tentando manter a sua postura - e meditava. Olhava para dentro de si mesmo em busca de sentir o que havia ali dentro. O mago havia dito que a interconexão começa por dentro. Quando o homem olha para lá, novas coisas passa a perceber. Que o perceber dessas coisas - não importando o que elas sejam - estava despertando o outro sentido. Falou que esse sentir o mundo interno funciona como esfregar a mão na lâmpada do gênio. Em algum momento, o gênio sairá de lá de dentro.

Já havia se passado seis meses de prática e o gênio já tinha dado as caras. Já estava tendo revelações. Sabia que seria um grande homem, que ajudaria metade do mundo a crescer espiritualmente. Podia ver as pessoas com quem estava tendo relacionamentos íntimos, a reação delas pós-encontro. Podia sentir as pessoas que se aproximavam, prever os seus movimentos, traduzir os seus desejos mesmo que não fossem expostos. Podia ver para onde a atenção das pessoas estava se dirigindo, mesmo que não demostrassem isso fisicamente com os olhos. Sentia-se muito contente com tudo. Um novo universo inteirinho estava se abrindo.

Mas, às vezes, era imerso numa grande confusão e não conseguia ver nada. Suas percepções ficavam confusas, escuras, indo e voltando em sentidos desordenados, como se o seu espaço interno, subitamente, estivesse sendo embaralhado como um jogo de cartas.

O mago disse que era assim mesmo, que às vezes a percepção do homem era apagada. Falou que ela não estava a controle do homem e que o homem deveria logo se habituar a isso, porque isso o protegia. Falou que desde que o homem libertou o gênio, o gênio cuida do homem. Há certas coisas que o homem não deve ver se não perderá o seu caminho, então o gênio escurece a percepção. Disse que se o garoto fosse mais atento, ele mesmo já teria percebido isso; porque sempre que a sua percepção era escurecida, acabava fazendo coisas que não faria em total clareza. Coisas que pareciam erros e que, mesmo assim, no fim, acabavam levando-o a encontrar algo que fazia sentido e parte da comunicação sincrônica do universo.

- O que você acha que isso significa? - perguntou ao garoto.

- Não sei...

- Isso é um sinal de que o escurecimento da percepção é trabalho do seu anjo da guarda, daquela parte do espírito que te protege. Tudo o que o leva a algum sinal, a uma sucessão sincrônica, é o espírito trabalhando. Esteja mais alerta, observe, conecte as coisas. Logo descobrirá acontecimentos que fazem completo sentido. X levou a Y. Em Y, você encontrou algo que também existia em X. Isso quer dizer que X teve que acontecer para você chegar a Y. Isso faz você compreender que certos acontecimentos, por mais caóticos que sejam, fazem parte do contexto.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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