Desde que o menino encontrou e se apaixonou pela bruxa, a bruxa havia ficado muito contente. Eles entraram em um relacionamento. A alegria da bruxa, além de ter encontrado um garoto cheio de magia, era que ele havia aceitado-a mesmo depois de ter confessado abertamente ser uma bruxa. Ela sabia que os magos sempre aceitam, mesmo ainda não tendo o conhecimento de si mesmos, porque a magia se reconhecesse além da carne e da razão. Mas sabia também que corria o risco de a venda estar tão firmada nos olhos do menino, que poderia estar completamente cego, então que a rejeitaria mesmo sendo um mago.
Quando começaram a entrar no assunto e falar de magia, o relacionamento acabou mudando um pouco de aspecto e a bruxa estava se tornando mentora do menino. Isso era necessário, pois ele precisava aprender, e se não reconhecesse que agora havia alguém que tinha algo a lhe ensinar, certamente perderia o ensinamento. A bruxa queria que ele atingisse logo a compreensão, pois assim poderia parar de interpretar o papel de mentora e se relacionar com ele apenas como outro ser humano, na mesma altura, no mesmo nível. Mas sabia que até isso acontecer, o papel era necessário.
O garoto estava absolutamente entusiasmado, querendo saber de tudo. Estava encontrando-se com um novo mundo que, de acordo com o que a bruxa dizia, era totalmente dele também. Em algum sentido, era verdade, sentia que o mundo também era dele. Perguntou a ela como era possível ser um mago e nunca ter sabido disso.
Ela respondeu que isso, em verdade, nunca tinha acontecido, porque em seu âmago mais profundo sempre soube que era um mago. Mas que estava protegido desse conhecimento até que o autoreconhecimento da magia se fizesse necessário. Até lá, viveria como um ser humano comum e que isso era bom. Estava protegido assim. A magia estaria acontecendo independente dele, preparando o palco para a sua chegada. Falou que cada aspecto tinha o seu espaço e que tudo era arquitetado nos mínimos detalhes.
Disse ainda que a magia sempre esteve com ele, mesmo sem ele saber disso. Desde pequeno, em cada etapa de sua experiência, falou que se parasse para analisar e ver com atenção o que sempre esteve caminhando ao seu lado, encontraria a magia. Sentia atração por ela e não sabia o porquê. Estavam sempre caminhando juntos. Eram as asas dos anjos vindas de longe, não o deixando se perder e concedendo proteção até que pudesse saber sobre essas coisas. Falou que até esse dia, a magia era vista como um lazer, um prazer; mas que já estava trabalhando nele, alimentando a sua energia e memória.
O garoto parou um pouco para pensar... Quando era um garotinho, gostava de jogos de RPG. A bruxa contou que era uma criação dos bruxos, que passavam o conhecimento oculto através dela. Depois passou a gostar de um baralho de cartas parecido com os jogos de RPG. A bruxa contou que também era uma criação dos bruxos. Falou que depois se apaixonou por música. A bruxa perguntou que tipos de música. Ele mencionou os tipos, dizendo as bandas. A bruxa disse que os músicos também eram todos bruxos. O menino contou depois que, perto de sua fase adulta, começou a ler livros de pessoas que se diziam bruxos. Foi aí que se deu conta... meu Deus, a bruxa tinha razão. A magia sempre esteve caminhando com ele e ele nem ao menos percebia.
A certeza do garoto crescia mais a cada dia. Tudo estava fazendo um sentindo tão grande que era impossível ser apenas coincidência. A bruxa contou que os bruxos vieram preparando-o para o seu destino. Contou que, mesmo sem ele saber, todo o conhecimento dos bruxos estava sendo passado enquanto acreditava estar brincando ou se divertindo. Falou que quando o seu Dom começasse a se revelar, todo o arcabouço de conhecimento que os bruxos o deram começaria a se encaixar e tomar forma. Falou que essa era a herança que a sua verdadeira família tinha deixado para ele com tanto amor.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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