Além do encanto por seus poderes mágicos, tinha algo a mais que despertava profunda atenção do garoto. Já havia mais de um ano de amizade entre os dois e o mago estava sempre ali, de pé, no mesmo lugar, firme como uma parede de rocha.
Tudo bem que às vezes estava com um aspecto meio para baixo, embaraçado; mas não demorava muito e o mago já estava em pé de novo, vibrando tanta vida que ofuscaria até a mais brilhante das estrelas. E o pior de tudo é que não havia razão alguma para o mago ter essa vida toda. Era um homem solitário, que estava na maioria das vezes caminhando sozinho. Mas caminhando com aquela alegria e aquele brilho no olhar. Era um evento que não fazia muito sentido.
Normalmente, costumava ver as pessoas passarem por profundas crises. Tinham um mundo à volta delas para lhes dar suporte: companheiros, amigos, família e, ainda assim, desabavam de uma maneira que parecia irreversível. Era desastroso, escandaloso. O chão desaparecia dos pés. O mago não tinha tanta companhia. E por alguma razão, isso não acontecia com ele.
O menino também passava por crises, na verdade, vinha passando por elas com grande frequência ultimamente. Quanto mais caía em buracos, mais admirava a estabilidade do mago. Era como se o mago tivesse encontrado um jeito mais inteligente de se viver. Um jeito mais seguro, mais protegido.
Numa conversa entre os dois, tocou o assunto e questionou de onde vinha aquela constância que parecia independer de condições. Perguntou se era algum feitiço. O mago riu e falou que não, que não era feitiço. Que era na verdade algo bem simples...
Contou que o grande erro dos homens é não ter o mundo pessoal deles. Acreditam que tudo o que existe é aquilo que os olhos estão tendo contato, então acabam vivendo só nesse plano. Esse mundo que os olhos estão vendo está em constante movimento, porque assim é a sua dinâmica. Nada é estático. É uma oscilação entre morte e vida, nunca parando num meio termo. A qualquer momento ele pode ser destruído apenas por uma leve borboleta que cruzou o caminho. Quando ele for destruído, o homem irá junto, porque construiu a sua fundação nele.
Falou que o homem inteligente cultiva um mundo interno, um mundo só dele. Esse homem viverá no mundo físico também, porque é ali que a vida acontece; mas o seu espírito habitará um lugar impenetrável, um lugar distante do mundo compartilhado. O mundo poderá desabar, mas o espírito continuará seguro ali, no mundo particular. Nesse mundo, ninguém poderá entrar a não ser que o homem permita. Sempre que algo não ocorrer bem no físico, aquele mundo estará ali. É um lugar eterno.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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