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segunda-feira, 6 de abril de 2015

O menino que falava com árvores


Sempre quando alguém morria naquela pacata cidade do oeste, ficava todo mundo triste, lamentando a morte do falecido. Tinha um estranho garoto na cidade que se alegrava, que queria comemorar, mas era impedido pela ética. As pessoas não conseguiam entender a razão de sua alegria com as mortes.

Ele falava que ninguém deveria se preocupar com o morto, que deveriam permitir que a terra tivesse o doce prazer de enterrá-lo ela mesma. Dizia que ela tinha cuidado dele a vida inteira muito melhor do que qualquer um poderia fazer, então que estava no mais pleno direito de enterrá-lo ao seu próprio modo. Dizia que era egoísmo demais do homem querer segurar um morto numa vida quando ele estava partindo dessa para uma melhor.

Na concepção do garoto, se o homem tinha evoluído, se o espírito tinha progredido mesmo que um pouco - o que era praticamente impossível de não acontecer -; teria a sorte de uma vida melhor, de uma linha de vida iniciada numa frequência mais alta. Ele só conseguia aceitar que as pessoas sofriam as mortes porque eram cegas. Em sua concepção, as mortes deveriam ser celebradas. Era uma felicidade pro morto, uma nova oportunidade, um novo recomeço, em outro lugar, em outra jornada, com mais luz...

Mas ninguém deveria dar ouvidos ao garoto. Era apenas um louco sorridente que falava com as árvores.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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