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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Jesus de Nazaré


Antes de ser batizado por João Batista e se tornar Jesus Cristo, Jesus de Nazaré era um homem calado, com uma expressão distante, que volta e meia abria a boca e falava umas coisas estranhas. Ele dizia que o Reino dos Céus estava chegando e que Deus desceria do céu para selecionar os seus homens. Dizia que os últimos seriam os primeiros. Que os grandes cairiam enquanto, pela glória, os pequenos seriam levantados. Que o homem teria a chance de se arrepender dos seus caminhos e de abraçar a vontade Deus, ganhando assim uma nova vida.

Todos achavam que era um louco. De alguma maneira, ele acabava contribuindo com essa ideia. Era um homem diferente. Mesmo o seu jeito de caminhar, o seu jeito de se expressar e de se vestir, eram diferentes. Ele tinha uma mania de se cobrir com uns panos compridos, que pareciam edredons de cama cortados; o que todo mundo achava para lá de estranho. Às vezes ficava olhando para baixo, desenhando umas coisas no chão. Parecia um homem que precisava urgentemente de uma ajuda psicológica. Parecia ter uma mente infantil, fantasiosa, de criança. Era como se não tivesse crescido.

Algumas vezes aparecia nas sinagogas e começava a falar de amor. Ele mudava ali. O homem carente desaparecia do seu corpo. Era como se estivesse em casa, em seu lugar. Algumas pessoas se sentiam profundamente tocadas pelas suas palavras. Soavam muito verdadeiras. Por a ideia do messias que estava prestes a chegar estar bem difundida e já ter se tornado um assunto corriqueiro, estava na mente de todos, então alguns olhavam para aquele garoto cheio de brilho falando de amor e acreditavam que era o enviado de Deus. Outros achavam a ideia absurda. Como poderia ser o messias um homem excluso socialmente?

Depois de algumas horas falando, ele se retirava humildemente e ia embora sem dizer mais nenhuma palavra. Um dia, um homem, apaixonado pelo seu discurso, o seguiu. Quando Jesus já tinha se distanciado alguns quilômetros da sinagoga, o homem gritou:

- Ei, moço!

Jesus parou de caminhar e virou-se para o homem.

- Você fala de amor tão bem, estou muito agradecido por tê-lo ouvido.

Jesus deu um largo sorriso e fez uma reverência. Era raro alguém reconhecê-lo. Ele gostou.

- Sou um homem que não entendo nada de amor, todos os meus casamentos foram mal sucedidos. - Era um homem carregado de dores, surrado. Estava sempre pelos bares se embebedando. Tentando escapar da vida dura em que tinha se metido.

- O amor é algo simples - disse Jesus. - Muitas pessoas se perdem em maus caminhos porque não o conhecem, então estacionam na primeira parada que encontram e que aparenta ser uma parada de amor. Se os homens soubessem o que é o amor, não estacionariam em qualquer lugar. Continuariam buscando. Já que todo aquele que busca, encontra; não tardaria muito e o amor surgiria vindo como uma brisa gentil que chega antes da primavera.

- O amor é aquilo que te eleva. Não importa se você é uma prostituta, alguém marginalizado ou um criminoso. O amor não pune, ele oferece uma mão. Se algo te denigre, te julga, te impulsiona para mais fundo no poço; não é amor, por mais que as palavras possam dizer ser. O amor te puxa para fora do buraco. Ele dá uma força mesmo para o homem mais fraco.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Encontro Humano


Ao tocar outra alma humana, não importa se você está no consultório, se é paciente ou doutor, se está no mercado ou no ambiente de trabalho; lembre-se que à sua frente está uma grande oportunidade de ter todos os seus problemas resolvidos. O encontro humano - quando os papéis se dissolvem e o olhar encontra-se num mesmo lugar, num mesmo patamar, num mesmo nível - é a alquimia mais poderosa. O mundo à volta desaparece com seus problemas e, naquele momento, nasce um compartilhar inocente, que movimenta as energias e leva todas as amarguras diretamente para o vácuo.

Os homens inteligentes perceberam esse fato e, apesar de todos os pesares e distâncias estabelecidas pelo condicionamento humano, tentam, aonde forem, ao máximo, quebrar essa barreira e encontrar-se com a outra alma. Esse encontro cura os dois. 

É um trabalho individual, feito por poucos, mas são esses poucos que mudam as coisas. As pessoas não sabem mais como se encontrarem, não encontram nem mais com seus entes queridos. É preciso firmar isso na mente, abrir os olhos e ver que, se deseja a mudança, o agente que muda tem que ser você. O mundo inteiro está perdido. Ninguém sabe mais como ser humano, salvo raras exceções.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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A Moça dos Desejos


Havia uma estátua de uma moça de cabelos compridos e cacheados, segurando uma jarra, no meio da praça central. Tinha um motorzinho no engenho fazendo a água circular por dentro da moça, sair pela jarra e cair num pequeno canteiro, à volta dela, cercado por um murinho baixo, parecendo uma piscina rasa. Era inevitável a comparação com um poço de desejos.

Como aquela praça estava sempre cheia de turistas, não demorou muito e o canteirinho já estava cheio de moedas, de vários países diferentes. Logo o monumento foi apelidado de "A Moça dos Desejos" e passou a atrair a atenção de todos. Contava-se que aquele que removesse uma moedinha daquelas sequer, seria amaldiçoado pelo desejo contrário ao que foi proferido. Ninguém queria isso. Então o canteiro foi ficando cada vez mais cheio.

Tinha um menino que debochava da crença. Sempre que alguém fazia um pedido e jogava uma moeda, ele dizia que a pessoa era idiota. Só que todos que o faziam estavam parecendo muito contentes. Depois de jogar as moedas, o pessoal se juntava e tirava fotos, fazendo várias poses e caretas diferentes. Alguns agradeciam à moça que, simbolicamente, estava atendendo aos pedidos de todos. Verdade ou não, estava gerando momentos de profunda alegria.

Apesar de tentar convencer a todos de que aquilo era uma completa idiotice, mesmo os seus melhores amigos estavam cedendo à brincadeira. Quando estavam tristes, em crise; eles iam até lá cheios de fé e depositavam a sua humilde moedinha. Faziam uma pequena prece, um sinal de cruz, e iam embora acreditando que o seu desejo seria realizado.

Depois de algum tempo insistindo, a moeda foi virando de lado e o menino começou a sentir atração pelo acontecimento. Todos estavam gostando. Secretamente, passou a desejar fazer o mesmo. Não obteve sucesso algum ao criticar... as pessoas pareciam simplesmente ignorar... Deveria ter algum benefício para estar inutilizando todas as suas críticas.

Como já não podia mais ir ali, na frente de todos, porque certamente estaria pagando um mico enorme depois de tudo o que dissera, esperou descer a madrugar para então realizar o seu desejo de também participar. Lá pelas duas da manhã, quando não havia mais nada na praça a não ser umas corujas noturnas, o garoto se aproximou da estátua e retirou uma moedinha do bolso. Fechou os olhos, fez um pedido e estendeu a mão para lançar a moeda.

Antes que conseguisse lançá-la, algo segurou com força em seu braço e o impediu. No instinto, abriu os olhos. A moça da estátua estava segurando-o pelo punho. Estava viva.

- Por favor, menino... você não faz ideia de a quanto tempo estou esperando por essa oportunidade. Não podia fazer isso à luz do dia, na frente de todos; ninguém iria acreditar na bondade da magia. Iriam me por à baixo, me destruir, acreditando que sou algo ruim. Por favor, menino, todos estão me dando tanta atenção... me fazendo tão feliz com toda a alegria que estão vibrando por perto de mim... Por favor, menino, por favor... faça-me um favor, de todo o meu coração: agradeça a todos por mim.




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terça-feira, 28 de abril de 2015

As Vontades do Coração


Antes do florescimento do seu verdadeiro ser, é comum seguir vontades que podem parecer suas, só que em verdade talvez possam não ser. São influenciadas de algum modo. Se você constantemente experimenta uma ausência, uma falta, uma carência de sentido; é porque não está seguindo as suas verdadeiras vontades, aquelas que vêm do seu coração. Isso mudaria todo o padrão.

Isso acontece porque, desde pequeno, você veio se espelhando nos outros, como se eles soubessem mais das coisas. É natural, porque eles pareciam ser mais inteligentes, mais maduros e mais sábios. Eles também contribuíam com isso, te dando conceitos e te mostrando um melhor caminho; exercendo o papel de homens superiores e mais entendidos. Mas isso só acontecia porque eles também não descobriram as vontades do coração, se não estariam ensinando-o a encontrá-las e não te oferecendo outras vias.

As vontades do coração preenchem porque começa-se a gostar de viver. Elas desenvolvem algo que, por vir tão profundamente do coração, surge com muito amor. Todo aquele amor que se sentia estar ausente começa a fluir desse desenvolvimento e inundar os espaços antes vazios. Esse fluxo chega a ser tão intenso que transborda do corpo. Não cabe tanto amor num corpo só, começa a pesar. Ele tem que sair, ir para fora, ser compartilhado.

Não seguimos as vontades do coração porque, muitas das vezes, são vontades completamente tolas. São coisas que não fazem sentido algum, então a mente rejeita. É culpa do nosso condicionamento que necessita que tudo tenha uma explicação lógica. Mas as vontades do coração são coisas que realmente não possuem lógica, coisas que não trarão benefício imediato algum. Coisas que, vistas de fora, podem até parecer um pouco estranhas. A pessoa chega a parecer idiota. "Por que ela está fazendo isso?" Talvez nem ela mesmo saiba. É o que o coração dela quer fazer e isso já descarta a necessidade de qualquer explicação.

Então é natural que, no começo, quando se está migrando para as vontades do peito, se sinta um pouco estranho. Estamos migrando de um campo onde se agia através da completa razão para um campo onde a razão simplesmente passa a ser ignorada. Se aquilo faz sentido ou não, deixa de ter importância. O que importa é ser aquilo o que o coração quer fazer.

É desse jeito que começa a nascer a magia. Caminhando no sentido do peito, a felicidade caminha no sentido do corpo. O amor se aproxima, chega mais perto. O corpo está vibrando-o, então ele se sente confortável em sua presença. Dons são descobertos, talentos; porque surge uma ação que é feita com espontaneidade e total amor. O amor tem um brilho, uma cor, uma força. Ele é encantador. Tem magia. Sua energia é poderosa, porque parte de um "querer". Esse querer vem com entusiasmo. É diferente de fazer as coisas por obrigação.

Tudo isso pode parecer extraordinário demais, porque é fora do comum. Mas é apenas por esse motivo, por não ser comum, porque é o jeito natural de se levar a vida. Como poucos de nós estamos levando a vida do jeito natural, aquele que a leva desse jeito pode parecer um pouquinho sobrenatural. Mas isso não é verdade. A culpa desse erro de entendimento é totalmente nossa. Fomos nós mesmos quem nos perdemos de nossa verdadeira natureza, perdendo assim toda a vida colorida que brota desse sentido.




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A Chave do Paraíso


Você pode rodar o mundo inteiro. Pode aprender todos os conceitos, línguas e culturas. Pode ler todos os livros, conhecer todas as palavras. Pode invadir as pirâmides, tirar os faraós das tumbas e roubar os seus maiores tesouros. Mas se você não desvendar o mistério oculto em seu coração, terá perdido a maior oportunidade. Tudo o que tem importância está ali, registrado em um código que só você é capaz de compreender. Compreender esse código é obter uma chave. Essa chave abre as portas do seu paraíso.



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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Viver Inteligente


Cuida de teu espírito, independente do que esteja acontecendo no mundo. É preciso considerar que é possível viver de um modo mais inteligente, e a primeira coisa nesse caminho é compreender que é raro alguém viver assim. Sendo raro, não se pode usar o outro como referência, porque muito provavelmente ele não é um desses. Aquele que deseja viver inteligente tem de ser o primeiro. Tem de ser a sua própria referência.

Se o mundo está em guerra, a decisão de entrar na guerra é exclusivamente de cada um. Não é obrigatório ir com a maré. Isso é uma escolha. Ao entrar para a guerra, a guerra também está entrando no corpo. Então é melhor pensar bem. Eu sei que noventa por cento entra para a guerra, seguem o fluxo, mas sei também que apenas os outros dez vivem bem. Cabe a mim escolher qual deles eu quero ser.

Um dos grandes erros é seguir a "razão". Muitos homens se seguram na razão e acabam se perdendo com ela; condicionados por ela. Se alguém age mal, a razão pede para puni-lo. É irresistível, porque a punição tem razão. A razão é muito sedutora. Mas é uma sedução perigosa, porque pode corromper. Ao punir alguém, o próprio espírito está sendo contaminado com a ação - com agressão, com conflito. Isso fica grudado na energia do corpo. São sementes de um futuro. Então, às vezes, vale mais a pena abandonar a razão e deixá-la de lado. Não castigar, deixar para lá. Deus cuida de cada um de Seus filhos, então só a Ele deveria caber julgar. Esse papel é muito duro, muito rude. Se Deus pode fazê-lo, melhor deixar com Ele. Para que sujar as mãos? Não vale muito. Vale mais manter o espírito limpo.

Use o seu espírito como um campo de cultivo. Cultive ali o que você deseja ter em vida, mesmo que isso não exista ou que seja escasso no mundo. O trabalho de jardinagem é um trabalho de paciência, de anos. O jardineiro planta hoje para colher daqui a 10 anos. Mas a colheita é garantida. E quando começa, é larga, porque o jardineiro não planta uma semente só, ele planta mais de 100. Quando as árvores crescem e começam a dar frutos, os frutos são sequenciais, porque as árvores já estão adultas. Sazonalmente, elas estarão dando frutos, e o jardineiro apenas precisará ficar atento para que continuem saudáveis.

O viver inteligente é um viver raro. Se você se comparar com o meio, se tentar ser igual, provavelmente estará caindo num buraco. Não enxergue o mundo com os olhos, procure vê-lo com o coração. Muitos estão comendo os frutos hoje, mas não estão plantando as sementes. Os frutos vão acabar logo, logo, porque são emprestados. Têm um limite. Isso é o que você não está vendo. Então não se compare, plante o seu próprio jardim. Espere, seja paciente. Quem planta sempre colhe.




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domingo, 26 de abril de 2015

Processo Criativo


Da mesma maneira que o sangue circula no corpo, no espírito, ocorre uma circulação de energia. Energia vem de fora, energia vem de dentro, se mistura e começa a formar um bolo. Dentro do corpo, a massa do bolo vai esquentando e tomando forma... crescendo. Quando chega no ponto, quando está cheirando, o forno deve ser aberto e o bolo retirado. Depois disso, servido à mesa para os visitantes saborearem.

Se passar do ponto, se, mesmo com os sinais de que está na hora de retirar o bolo, o bolo não for retirado; o cheiro que antes era bom se tornará amargo, cheiro de queimado. O bolo começará a estragar por dentro. Ficará escuro, perderá as cores. Quando for retirado, estará sem sabor e ninguém irá querer saboreá-lo. Perdemos o que poderia ser uma ótima degustação.

Portanto, quando sentir que está no ponto, vomite o seu arco-íris. Não deixe o acúmulo chegar a te perturbar. Isso significa que já está passando do ponto. Se o que vem de dentro de você está a ponto de grito, explosivo - é porque você não veio dando forma. Deixou acumular demais. O processo criativo é natural do homem; é uma maneira de manter o seu espírito sempre leve e saudável. É como um descarte de toxinas, porém de modo que contenha beleza. 

Não tenha medo de expor as suas cores, é o seu jeito de pintar o mundo. Você também faz parte dele, ele também é seu. Então pinte-o.




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sábado, 25 de abril de 2015

Expresse-se


Expresse-se. Todo homem possui uma carga, uma história. Algo que quer ser desabafado, compartilhado e jogado para fora. É como uma bagagem: se você desfaz a mala, se tira o conteúdo dela, ela logo fica mais leve e isso te ajuda a caminhar. Você passa a caminhar com leveza, com mais suavidade, com uma graça maior. Se livrou de um peso e isso te fez um bem enorme. Sua alma descansa.

Mas se você segura o conteúdo por algum motivo - talvez medo de não ser compreendido ou de não ter uma história bonita -, ele se torna corrosivo e começa a machucar. O corpo vai adoecendo. Aos poucos, começa a demonstrar mau funcionamento. Avançando para um estágio mais grave, começa a se autodestruir - drogas, agressividade a si mesmo e ao outro, ou apenas uma renúncia a tudo o que a vida tem de bom. O homem abraça o negativo.

Então expresse-se, é natural. Não precisa impressionar. Basta ser sincero e isso já é mais do que suficiente. Todo homem tem algo a contar.




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A Porta da Magia


Desde que o menino resolveu conhecer a magia intimamente, o mago não escondeu o jogo. Deixou bem claro ao garoto que essa era uma escolha audaciosa. Declarou que a magia viria como um terremoto, tremendo em grande escala o mundo interno. Afirmou, com todas as letras possíveis, que a magia é a transformação mais profunda que um homem pode percorrer. Que nenhum mago jamais chegou à magia sem antes não ter cruzado os sete infernos.

Mesmo tendo dito isso, o menino não fraquejou. Continuou firme em sua decisão. Queria conhecer a magia de qualquer jeito. Estava encantado com ela, com a sua graça e beleza. O mago abanou as mãos e disse: "você é quem sabe, a escolha é sua". Não estava brincando. Talvez o menino não tivesse entendido direito.

O mago então mostrou a porta: "é por ali". Falou que a magia iria torná-lo um filho da vida, em outras palavras, um filho de Deus. Para isso, teria que morrer o homem. Lá se foi o menino: entrou pela porta por vontade própria. Estava alarmado, já sabia o que iria encontrar. Aos poucos, foi perdendo o controle de si mesmo. Algo além dele estava tomando conta de sua energia. Aonde ia, o que fazia, com quem se encontrava; já não podia mais se controlar. O que sentia vinha do invisível, de forças que estavam além do seu controle. Se quisesse ficar e a energia mandasse ir embora, teria que sair dali imediatamente se não entraria em um amargo conflito interno. Sua energia não era mais dele. Era do criador e por isso se alinhou a uma ordem superior.

Às vezes isso o machucava. Possuía uma série de desejos humanos que tiveram que ser abandonados, sem questionar. Estava caminhando numa estrada que não tinha mais volta. Quando entregou o seu espírito para se tornar um mago, uma nova trilha mágica foi traçada junto com a entrega. Não podia mais se desviar dela. Assim que pisasse fora, era colocado de volta. Os anjos estavam ao seu lado, movendo as peças. Além de protegerem o garoto, estavam vigiando-o. Traçaram um acordo juntos, então teriam que caminhar juntos a partir de agora. Era melhor se acostumar logo. Quanto mais lutasse contra, mais sentia dores. Mais embarcava em confusões.

O seu corpo se tornou ultrassensível. A pele parecia ter se extinguido. Não havia mais como se defender dos homens. Qualquer forma de agressão, agredia a si mesmo e somente. Sofreu bastante até aprender a ter um cuidado excessivo consigo mesmo. Até aprender por onde andar e por onde não, com quem compartilhar a experiência e com quem não. Sofreu com cada erro. A dor ganhou um volume desproporcional. Era o seu novo professor. Caminhou com ela ao longo de meia década.

Sua distância espiritual dos homens o tornou um homem solitário. Estava vivendo experiências profundas, uma atrás da outra. O seu espírito deu um salto evolutivo muito largo e muito rápido. Sentia estar vivendo 10 anos em um semestre. Em cinco anos, percebeu que já não existia mais ser vivo capaz de compreendê-lo. Só outro mago, talvez. E outro mago era um evento raro... caminhar sozinho se tornou o seu fardo. Quando caía, já não havia alguém capaz de ajudar. No máximo, oferecê-lo colo; mas nunca uma solução. Tinha que lidar com cada queda, sozinho. Era ele e Deus.

Mas havia a magia, e as suas promessas. Sabia que traria o mundo dela à terra, que veria o seu tesouro em vida. Mas tinha que percorrer uma longa trilha... não poderia reclamar. Foi ele mesmo quem escolheu ao entrar por aquela porta.




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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Laços


Crie laços, se envolva. Não fique na escuridão se não o mal pode tomar conta de você. No começo pode haver muito medo... você nunca foi muito de compartilhar momentos, de se comunicar. Mas logo a natureza te leva e você começa a ser conduzido por ela, sem medo. O medo some mesmo do mais tímido dos homens, porque é apenas uma ilusão. Um calor toma conta dele. É o poder de Deus.

O medo faz parte do mal. Ele está te controlando porque você está isolado, no escuro. Deus fica cada vez mais impossibilitado de chegar a você, porque Ele usa de seus outros filhos. Ele está na energia de cada um. Subitamente, sem saber o porquê, alguém pode dizer, trazer ou fazer algo que seja muito importante para você. Não foi o homem quem fez, foi Deus através dele.

Você precisa estar acessível, jamais escondido. É aí que o seu mundo se abre de uma maneira indescritível. Muita coisa acontece quando você está envolvido, quando o seu mundo está aberto a receber o que vem da natureza. Os outros fazem parte da natureza. São seus irmãos. Eles podem enriquecer a sua vida, fazê-lo mais feliz.




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Bruxos das Trevas


O menino estava descansando na torre do mago. Desde que se tornaram amigos, de vez em quando, ia para lá só para ficar sentado ao sofá enquanto o mago mexia com a sua montanha de papelada. O mago tinha uma presença boa. Não havia exigência alguma perto dele. O menino se sentia meio livre, uma sensação difícil de explicar. Podia falar qualquer coisa, ser de qualquer jeito. O mago nunca parecia se importar.

Mas essa não era a melhor parte... o seu espírito descansava ali. A energia do mago era um calmante. Deveria ser um fruto do seu amor.

- Ei, mago - disse o menino interrompendo o seu trabalho. Sabia que o mago não se importaria, inclusive o motivava a ser mais espontâneo. Mas evitava abusar da liberdade. - O mal existe?!

- Claro que sim - respondeu ele -, mas não pode ser visto. Então nem espere vê-lo. Ele só atua escondido, nas sombras...

O menino ficou confuso.

- E como posso saber então que algo é mal?

- Sabe - disse o mago -, boa pergunta. Foi bom você ter perguntado isso. É bom os meninos da luz terem esse conhecimento. Tudo aquilo que se esconde com a luz, é maligno. Se você jogar luz em algo e ele se esconder, fugir, é porque é um fruto do mal.

- Como assim?

- Olha, existem bruxos das trevas. O nome não é à toa. Eles atuam em parceria com a escuridão. Se houver luz, não podem atuar. Se escondem, procuram uma rota de fuga. Assim nunca são vistos. Os seus frutos são enganosos, partem de algo que não é verdadeiro. Partem de alguma mentira, de alguma atuação. Suas ações, são egoístas. São ações que não se preocupam com o bem estar do meio ou com o bem estar do outro. Ações que se preocupam apenas com o prazer pessoal. Muitos meninos, como você, são seduzidos por bruxas das trevas e não sabem o que está acontecendo. Eles sofrem sem saberem a razão.

O menino ficou um pouco assustado. Como é que iria saber se estava sendo seduzido por uma dessas bruxas? Não sabia nem que o mal existia, quanto menos reconhecê-lo. Será que alguma de suas colegas era uma delas?

- Tem alguma maneira de descobri-las? - perguntou pensando em uma das garotas sedutoras de sua sala.

- Tem, sim - respondeu o mago. - Quando tinha a sua idade, eu era um garoto muito apaixonado. Qualquer garota bonita que me seduzia obtinha sucesso. Para ser sincero com você, sofria mais do que amava. A maioria delas me trazia uma dor. Eu não entendia bem o porquê, mas então fui conhecendo a magia. A magia me ensinou a ser mais corajoso, a confiar na vida e correr mais riscos. Dar a cara à tapa. Confiar na bondade dos homens e de Deus.

- Então sempre que me apaixonava por alguém, sempre que alguma garota encantadora me seduzia, eu ia atrás dela. Queria me envolver, estava encantado. Por alguma razão, elas se escondiam com a minha aproximação e eu ficava sem entender. Me seduziam, demonstravam querer um romance; mas quando eu chegava mais perto, quando trazia a ideia oculta à luz, fugiam. Então fui compreendendo que eram bruxas das trevas. Temiam a luz porque a mentira não poderia mais sobreviver oculta. Ficariam expostas. Não queriam um romance, estavam só me seduzindo. Era por prazer. Estava sendo usado sem saber.




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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Não desista


Continue crescendo no amor. Sim, sim, sim... você vai sofrer. Vai atravessar vales de profunda escuridão e de grande confusão. Ficará perdido no vale, sem saber para onde ir ou que fazer, sem ninguém para te ajudar. Sentirá medo, desespero, desamparo. Sim. É até bom você já estar ciente disso, porque quando chegar, estará preparado e não se assustará tanto. Aceitará melhor. Saberá que faz parte da trilha.

O amor não é um acontecimento isolado, alguém chega e o amor vem junto, mudando a sua vida para sempre. O amor é uma busca. Ele não se encerra em um ciclo, ele continua um após o outro. É uma busca incansável, uma aventura. É um crescimento, uma subida, uma escalada. Alguns desistem no meio do caminho, desistem nos primeiros desafios. Mas outros continuam, vão em frente, seguindo até o fim. Pedra por pedra, rocha por rocha, degrau por degrau, lágrima por lágrima - lá estão eles: de pé, bravejando o seu grito de glória. São esses que se tornam iluminados.

Se encontrar uma porta que seja demais para o seu amor, que não aceite-o; procure outra, mas não permita que ela se torne uma barreira. Se insistir nela, começará a destruir o seu próprio amor. É nesse jogo de errar sem desistir que você encontra aquela porta segura, onde o seu amor conseguirá fluir e ser aceito pelo mundo. É aí que todas as sementes plantadas por eras começarão a dar frutos.

Não desista.




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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Desafios




Lá dentro, lá no fundo, existe algo que floresce em direção ao mundo. O perfume desse florescimento toca todos, gerando milhares de bons frutos para a árvore. Ele é tão atrativo quanto o perfume de uma flor. Se você reparar atentamente, é quase irresistível passar por uma árvore de flores perfumadas e não reparar na beleza do acontecimento.

É preciso coragem para permitir o movimento externo do perfume, porque ele irá querer tocar os outros, e são muitas as barreiras nesse caminho: medos, inseguranças, riscos sociais...

São os desafios. Nenhum céu é conquistado sem desafios. Os desafios fazem parte do caminho. É preciso abraçá-los com a coragem de um leão. É o único meio.


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Filho da Magia


O menino estava sentado na mesa da sala, um pouco agitado das ideias. Quando ficava curioso, não conseguia calma. Permanecia inquieto até conseguir resolver o problema ou encontrar uma resposta. Se não conseguisse, seguia com aquela pequena perturbação. Às vezes demorava dias com o mesmo parafuso entortando dentro da cabeça.

Ele queria saber se a magia era real. Ultimamente, para todo lugar em que olhasse, encontrava algo falando dela. Filmes, seriados, livros, músicas, desenhos, pessoas... até novelas. A magia estava em todo lugar. Parecia estar perseguindo-o. Não poderia ser apenas coincidência, ou poderia? Talvez fosse só imaginação...

- Mamãe...

- Oi, bebê?

- A magia existe?!

A mãe dele parou por um tempo, em choque. Não sabia o que dizer. Ai meu Deus, será que o seu filho era um mago? Se fosse, sabia que iria perdê-lo. Os magos são filhos do mundo, não têm pais. Sua família é o mundo inteiro.

- Sim, meu filho - disse ela com um tom meio triste. - A magia existe.

- Como você sabe?

- Seu pai era um mago - respondeu engolindo a seco. Pressentiu que isso fosse despertar ainda mais o seu interesse. - Reze para você nunca encontrar um mago no seu caminho - disse ela tentando desviá-lo. Sabia que poderia estar fazendo uma besteira, agindo por puro egoísmo. Mas era humana, amava ele. Não queria perdê-lo.

- Por quê? - perguntou ele cheio de interesse. Talvez a mãe dele não soubesse, mas, para os filhos da magia, o perigo é bem sedutor. Ao tentar afastá-lo criando um drama, estava aproximando-o ainda mais.

- Porque eles mexem com você, te trocam de lugar, fazem sua vida desmoronar. É difícil escapar da armadilha deles, são muito sedutores. Afastam você de sua família, enchem seu coração de rebeldia. Por favor, filho... pare de pensar nisso...

O menino confirmou com a cabeça e se levantou da cadeira. Foi caminhando em direção à varanda. Na sua cabeça, estava apitando que nem uma sirene de ambulância:

"A magia existe... Ual!! Que massa! É real, é verdade!"




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terça-feira, 21 de abril de 2015

Magia? Sim ou não?


"Toc, toc, toc..."

Um novo menino chegou à torre do mago. Era um garoto jovem, de cabelos castanhos até a base do pescoço. Pediu para ser iniciado nos seus ensinamentos. Queria aprender magia.

O mago olhou para ele por um tempo enquanto o seu olhar era conduzido a outro planeta. Olhou para baixo e aparentou não estar mais presente. O menino ficou olhando para o mago, um pouco inquieto. Tinha acabado de se expor e não receber uma resposta. Será que o mago não sabia como isso era perturbador?

Passado alguns segundos, o mago olhou de novo nos olhos do garoto. O seu olhar penetrou fundo, tocou a alma. O menino sentiu algo arranhar por dentro.

- Você tem certeza disso? - perguntou o mago.

- Érrr... tenho... Sim, tenho - ele não tinha certeza. Via o mago fazendo magia e isso despertava imensamente os seus desejos. Mas agora que a pergunta tinha atravessado a pele, ficou confuso. Teve dúvidas se era isso mesmo o que queria. O tom do mago deixou transparecer que havia muita coisa envolvida.

O mago percebeu que o menino havia ficado confuso. Mas não esperava algo diferente. A porta da magia se abre pela confusão.

- É porque é o seguinte... - continuou o mago - você precisa saber que a magia é um caminho sem volta. Se entrar, não haverá retorno. Você é da magia e a magia será sua. O que a magia quiser de você, você terá que fazer. E o que você quiser da magia, ela terá que fazer por você. Mas é um relacionamento que não tem como ser quebrado. É como um pacto.

"Pacto?", que palavra forte. Não trazia bons pensamentos.

- A magia fará você entrar num encontro consigo mesmo. Isso nem sempre é gostoso... na verdade, na maioria dos casos, isso não é nem um pouco agradável. O homem vem guardando muitas coisas ruins dentro dele. A magia virá das profundezas do ser, abrindo o peito e trazendo tudo de volta à superfície. Cada camada acumulada terá que ser sentida e encarada. Alguns chamam isso de "dores do parto", as dores sofridas quando se está renascendo. Quando começar, não haverá como parar. Então pense bem...

Quanto mais o mago falava, mais o menino ficava confuso. Estava ficando dividido. Pacto... dores... não parecia nem um pouquinho bom. Mas havia a magia, o brilho, a beleza, a clareza, o mistério e o encanto. Os dois hemisférios do seu cérebro entraram em um conflito. Uma parte queria o poder, a outra não queria o sacrifício. Não havia como escolher.

- Volte para casa - disse o mago. - Você não está preparado. Você veio até aqui por um fruto de pensamento, por um mero desejo. Os herdeiros da magia vêm por intuição. Eles não escolhem, são escolhidos. A vida os traz até aqui. A magia é uma decisão que não pode ser feita pela mente. O cérebro não consegue decidir. Uma parte diz sim enquanto a outra diz não, sem haver um encontro definitivo. Aqueles que vieram para ficar, vieram com o coração. A mente pode falar o que for, eles entrarão pela porta de qualquer jeito. Nada os fará desistir.




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Pintar o Espírito


Se você aprender a dar o seu próprio direcionamento ao seu espírito, nunca mais se perderá. Caminhará numa trilha sua, segura, do seu jeito. Acontecia com buda... seus discípulos se inspiravam em sua paz, em sua confiança. Queriam ser como ele, conhecer o seu segredo. Quando perguntavam-no o que deveriam fazer para obter a mesma espiritualidade, buda dizia: "seja você mesmo a sua luz."

É preciso compreender que o espírito é modelável. Ele não é algo concreto, sujeito apenas ao meio ao qual vive e à cultura. Ele é mais como uma tela de quadro, que pode ser pintada ou por você ou pelos outros. Quem vai pintar depende de sua escolha, porque o quadro é seu. Se você dá acesso ao outro, se entrega o quadro livremente em suas mãos; ele pintará, e você não poderá reclamar depois do resultado. Não tem coerência, já que foi você mesmo quem permitiu.

Sempre que algo acontece, algo que te chateia, algo que te perturba, que te tira o chão - algo que não te faz bem; esse acontecimento é um grande direcionamento, porque te mostra a direção a seguir. Você pode direcionar o seu espírito por um caminho que não caia mais ali. Desse jeito, pode acabar encontrando um caminho cheio de luz, de paz, de canções e alegrias. Desviando das pedras e intuindo onde estão as flores, você direcionou a si mesmo e encontrou o caminho.

Esse é um dos grandes segredos dos artistas: além de estarem criando obras belíssimas, estão pintando sobre si mesmos. Estão construindo os seus próprios espíritos. Seus sonhos projetados em suas obras, moldam eles mesmos. É por isso que eles têm um brilho mais forte, uma alegria maior; que foge um pouco ao comum. Eles se tornam aquilo que desejam. Foram eles mesmos quem se construíram.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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O Mundo Pessoal


Além do encanto por seus poderes mágicos, tinha algo a mais que despertava profunda atenção do garoto. Já havia mais de um ano de amizade entre os dois e o mago estava sempre ali, de pé, no mesmo lugar, firme como uma parede de rocha.

Tudo bem que às vezes estava com um aspecto meio para baixo, embaraçado; mas não demorava muito e o mago já estava em pé de novo, vibrando tanta vida que ofuscaria até a mais brilhante das estrelas. E o pior de tudo é que não havia razão alguma para o mago ter essa vida toda. Era um homem solitário, que estava na maioria das vezes caminhando sozinho. Mas caminhando com aquela alegria e aquele brilho no olhar. Era um evento que não fazia muito sentido.

Normalmente, costumava ver as pessoas passarem por profundas crises. Tinham um mundo à volta delas para lhes dar suporte: companheiros, amigos, família e, ainda assim, desabavam de uma maneira que parecia irreversível. Era desastroso, escandaloso. O chão desaparecia dos pés. O mago não tinha tanta companhia. E por alguma razão, isso não acontecia com ele.

O menino também passava por crises, na verdade, vinha passando por elas com grande frequência ultimamente. Quanto mais caía em buracos, mais admirava a estabilidade do mago. Era como se o mago tivesse encontrado um jeito mais inteligente de se viver. Um jeito mais seguro, mais protegido.

Numa conversa entre os dois, tocou o assunto e questionou de onde vinha aquela constância que parecia independer de condições. Perguntou se era algum feitiço. O mago riu e falou que não, que não era feitiço. Que era na verdade algo bem simples...

Contou que o grande erro dos homens é não ter o mundo pessoal deles. Acreditam que tudo o que existe é aquilo que os olhos estão tendo contato, então acabam vivendo só nesse plano. Esse mundo que os olhos estão vendo está em constante movimento, porque assim é a sua dinâmica. Nada é estático. É uma oscilação entre morte e vida, nunca parando num meio termo. A qualquer momento ele pode ser destruído apenas por uma leve borboleta que cruzou o caminho. Quando ele for destruído, o homem irá junto, porque construiu a sua fundação nele.

Falou que o homem inteligente cultiva um mundo interno, um mundo só dele. Esse homem viverá no mundo físico também, porque é ali que a vida acontece; mas o seu espírito habitará um lugar impenetrável, um lugar distante do mundo compartilhado. O mundo poderá desabar, mas o espírito continuará seguro ali, no mundo particular. Nesse mundo, ninguém poderá entrar a não ser que o homem permita. Sempre que algo não ocorrer bem no físico, aquele mundo estará ali. É um lugar eterno.




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segunda-feira, 20 de abril de 2015

O amor nunca falha




Não se preocupe se as pessoas estão passando na sua frente, atraindo mais atenção ou ganhando mais destaque aos olhos dos outros. Se você ama, permaneça no seu amor, com calma. O amor é algo muito delicado, silencioso; ele não pode sair competindo com outras energias se não é destruído.

Mas o amor é mais verdadeiro. Tudo cai, menos ele. Ele permanece. Então siga calminho, tentando não se importar ao ver os competidores passando à frente. Se você não destruir o seu amor para entrar na competição, será recompensado imensamente no final. Quando a competição perder o sentido, os competidores perderão junto com ela. O seu amor estará de pé. Brilhando como um fogo flamejante.

Aqueles que amam precisam caminhar com fé, enxergando além do que os olhos estão vendo. O amor nunca falha. Tem sido assim desde o início dos tempos.


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domingo, 19 de abril de 2015

A Carta Mestre


O mago, nos últimos anos, veio publicando uma série de livros e os seus livros vendiam desenfreadamente. As pessoas não conseguiam compreender o que tinha em seus livros de tão especial, porque o seu vocabulário era bem simples e não havia nada de extraordinário; nenhuma técnica. Eram livros simples com estórias simples. Mas que vendiam, que conquistavam público.

O mago deixava bem claro a todos ser magia, mas isso não satisfazia a ânsia do menino. O menino sabia que tinha algo a mais, que tinha algum segredo. O menino queria conhecer esse segredo também, porque, se pudesse fazer algo parecido, teria uma vida tranquila. Poderia viver de sua arte e estar livre das cobranças exigentes dos patrões das empresas e das firmas. O menino sabia, conforme observava em sua família, que era isso que deixava as pessoas carregadas de estresse. Não tinham tempo para viver as suas paixões e ainda tinham que aturar um amontoado de exigências que os afastavam cada vez mais delas.

O menino gostava de cantar, tinha um talento musical que parecia inato. Desde que começou a praticar, sua voz e habilidade para o instrumento se desenvolveram com facilidade. Gostava de compor umas musiquinhas, que geralmente mandava para as garotas com quem se apaixonava. Imaginou que se conseguisse a mesma magia que conquistava todo mundo, poderia fazer o mesmo que o mago havia feito com os livros, só que para a música. Então foi perguntar ao mago pessoalmente.

O mago disse que era magia, como dizia para todos. Mas o menino insistiu e ficou enchendo a sua paciência dia após dia: "ah vai, me conta... me conta, por favor!" Mas o mago não contava. Era um segredo da magia. Não iria revelá-lo a qualquer um só por um fruto de uma curiosidade.

O menino continuou insistindo, e insistindo incansavelmente. Quanto mais o mago negava, mais ele queria saber, mais o seu interesse crescia. O mago percebeu que era verdadeiro, que o garoto queria mesmo conhecer o segredo e não apenas matar uma curiosidade. Talvez fosse um herdeiro da magia e estivesse errando em não revelá-lo. Decidiu contar.

- Olha, o segredo da magia é ter a "Carta Mestre". A Carta Mestre toma a forma dela, pela vontade dela, e o mago só a leva adiante.

- E como eu faço para tê-la? - perguntou o menino.

- O caminho não é muito complicado... No mundo da magia, nós ensinamos aos discípulos a atingir um estado livre de influências. Não é um estado positivo, é um estado negativo. É um estado que não tem direção alguma, um estado de plena neutralidade. É um estado que nasce da negação de todos os impulsos direcionados a algo ou alguém. É um estado que não tem objetivo algum. Nesse estado, alguma coisa acontece com o homem e começa a conduzi-lo. Essa condução o levar a criar coisas, porque há um potencial criativo que nasce dessa neutralidade. Esse potencial criativo é a Carta Mestre. Ela cria algo que, por não ter direção alguma, acaba atingindo todas as direções ao mesmo tempo. É o coringa da magia.

- Não pense que é fácil tomar posse da Carta Mestre - disse o mago -, poucos conseguem e isso é bom. A magia é feita por alguns para ser usufruída por muitos. É assim que funciona. Muitos podem buscá-la, mas só os verdadeiros a conquistam. Não é fácil porque requer completa dedicação do aspirante. Ele precisa negar a própria vida, morrer completamente para tudo. Só então ele renasce no estado neutro. Nesse renascimento, a Carta vem junto. O renascimento é a conquista do baralho.




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