Antes de ser batizado por João Batista e se tornar Jesus Cristo, Jesus de Nazaré era um homem calado, com uma expressão distante, que volta e meia abria a boca e falava umas coisas estranhas. Ele dizia que o Reino dos Céus estava chegando e que Deus desceria do céu para selecionar os seus homens. Dizia que os últimos seriam os primeiros. Que os grandes cairiam enquanto, pela glória, os pequenos seriam levantados. Que o homem teria a chance de se arrepender dos seus caminhos e de abraçar a vontade Deus, ganhando assim uma nova vida.
Todos achavam que era um louco. De alguma maneira, ele acabava contribuindo com essa ideia. Era um homem diferente. Mesmo o seu jeito de caminhar, o seu jeito de se expressar e de se vestir, eram diferentes. Ele tinha uma mania de se cobrir com uns panos compridos, que pareciam edredons de cama cortados; o que todo mundo achava para lá de estranho. Às vezes ficava olhando para baixo, desenhando umas coisas no chão. Parecia um homem que precisava urgentemente de uma ajuda psicológica. Parecia ter uma mente infantil, fantasiosa, de criança. Era como se não tivesse crescido.
Algumas vezes aparecia nas sinagogas e começava a falar de amor. Ele mudava ali. O homem carente desaparecia do seu corpo. Era como se estivesse em casa, em seu lugar. Algumas pessoas se sentiam profundamente tocadas pelas suas palavras. Soavam muito verdadeiras. Por a ideia do messias que estava prestes a chegar estar bem difundida e já ter se tornado um assunto corriqueiro, estava na mente de todos, então alguns olhavam para aquele garoto cheio de brilho falando de amor e acreditavam que era o enviado de Deus. Outros achavam a ideia absurda. Como poderia ser o messias um homem excluso socialmente?
Depois de algumas horas falando, ele se retirava humildemente e ia embora sem dizer mais nenhuma palavra. Um dia, um homem, apaixonado pelo seu discurso, o seguiu. Quando Jesus já tinha se distanciado alguns quilômetros da sinagoga, o homem gritou:
- Ei, moço!
Jesus parou de caminhar e virou-se para o homem.
- Você fala de amor tão bem, estou muito agradecido por tê-lo ouvido.
Jesus deu um largo sorriso e fez uma reverência. Era raro alguém reconhecê-lo. Ele gostou.
- Sou um homem que não entendo nada de amor, todos os meus casamentos foram mal sucedidos. - Era um homem carregado de dores, surrado. Estava sempre pelos bares se embebedando. Tentando escapar da vida dura em que tinha se metido.
- O amor é algo simples - disse Jesus. - Muitas pessoas se perdem em maus caminhos porque não o conhecem, então estacionam na primeira parada que encontram e que aparenta ser uma parada de amor. Se os homens soubessem o que é o amor, não estacionariam em qualquer lugar. Continuariam buscando. Já que todo aquele que busca, encontra; não tardaria muito e o amor surgiria vindo como uma brisa gentil que chega antes da primavera.
- O amor é aquilo que te eleva. Não importa se você é uma prostituta, alguém marginalizado ou um criminoso. O amor não pune, ele oferece uma mão. Se algo te denigre, te julga, te impulsiona para mais fundo no poço; não é amor, por mais que as palavras possam dizer ser. O amor te puxa para fora do buraco. Ele dá uma força mesmo para o homem mais fraco.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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