Ele era um rapaz jovem, devia ter em torno dos vinte a trinta anos. Navegando pela internet, encontrou uma imagem interessante: uma estátua de um rapaz também jovem cheio de coques no cabelo, sentado de pernas cruzadas, sem camisa e de olhos fechados. Ele tinha uma expressão no rosto mista entre alegre e sereno.
Aquela imagem transmitia alguma coisa oculta, o rapaz não entendia bem o que era... Mas foi seduzido pela imagem. Em baixo da imagem, no canto direito, havia escrito: "Siga a sua natureza. Flua com ela como um rio flui em direção ao oceano. Buda"
Então aquele era Buda! "Que legal", pensou o rapaz. Ele já tinha ouvido falar de Buda, que era um grande sábio, mas ele não fazia ideia alguma de como era Buda. Depois que descobriu que a imagem era de Buda, ficou uns minutos contemplando a estátua daquele jovem de rosto sereno...
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O rapaz estava passando por tempos um pouco atormentados... Ele estava meio que sendo forçado a trabalhar. Seu pai contava a ele que todo homem deveria acumular uma certa quantia de dinheiro, se não nunca se casaria e nenhuma mulher iria querer ficar com ele. Além disso, sua mãe também reforçava a ideia. Então a mente do rapaz acabava acreditando nessa baboseira.
E ele ainda estudava. Essa rotina não dava espaço para ele fazer o que o seu coração adorava fazer: brincar, ficar à toa, escrever, sonhar, namorar e cantar. Ele sentia imensas saudades da infância, que era onde ele podia fazer tudo aquilo que gostava sem medidas. Quando estava conversando com seus amigos e dizia sentir saudades da infância, todos diziam: "é, todos nós sentimos. Mas é assim que a vida é. Depois que a gente cresce a gente começa a ter responsabilidades e a vida fica séria."
Como era a maioria que dizia isso, sua mente acabava convencida de ser verdade. Mas depois de ouvir as palavras de Buda: "Siga a sua natureza. Flua com ela como um rio flui em direção ao oceano", alguma coisa mexeu com o rapaz. Aquelas palavras entraram no seu coração com mais força do que o que diziam as outras pessoas. Foi Buda quem falou. Não existia ninguém mais inteligente do que Buda.
O rapaz passou a caminhar com essas palavras. Ele acordava de manhã sem nenhuma vontade de ir trabalhar, mas ia mesmo assim, como de costume. Só que depois de ouvir Buda, ele já ia um pouquinho mais alerta: "eu não estou querendo fazer isso, porque eu estou fazendo então? Sim. Não é a minha natureza. Eu não deveria estar fazendo..."
Depois de alguns meses, a cada dia que passava o garoto ficava mais alerta. Ele tinha cada vez mais certeza de que trabalhar não tinha nada a ver com a sua natureza. Acabou que ele abandonou o trabalho. Brigou com seu pai, brigou com sua mãe, brigou inclusive com a ideia de não conseguir casar; mandou tudo pra bosta e abandonou o emprego.
No começo ele ficou um pouco confuso e com um pouco de medo. Será que tinha feito a coisa certa? Mas notou que a cada dia que passava aquele tormento que vinha sentindo estava diminuindo... Ele tinha tempo para ficar à toa, para ficar com os pensamentos ao ar, sonhando, e podia se dedicar um pouquinho à música. Notou que fazer essas coisas que ele não vinha fazendo confortava o seu coração. Ele sentia paz, um prazer. Se sentia vivo. Ele não recordava de estar sentindo isso enquanto só trabalhava.
Como vinha trabalhando pesado, o rapaz estava sempre cansado... Então chegava à faculdade à noite e não conseguia prestar atenção às aulas. Tudo o que ele queria era dormir. Acabava que ele se dava mal nos exames. Isso reduzia a sua autoestima e preenchia a sua cabeça de preocupações. Quando ia deitar-se, mesmo cansado, demorava horas para dormir, porque sua cabeça ficava borbulhando com toda a preocupação de estar se dando mal na faculdade e de não ter tempo para se dedicar aos estudos.
Quando o rapaz abandonou o trabalho e começou a fazer as coisas que deixavam o seu coração alegre, sua mente ficou mais espaçosa, receptiva a coisas novas. Seu rendimento na faculdade melhorou e isso cresceu a sua autoestima. O seu sono também começou a melhorar, ele não tinha mais insônia. Quando ia deitar-se, o seu coração estava leve e tranquilo. Havia um calor no peito. Ele sabia que aquele calor nascera quando passou a ouvir o seu coração - a sua natureza mais profunda - e fazer o que lhe dava prazer. Aquele calor no peito tornava a vida mais confortável em todos os sentidos. Parecia que mesmo a sua mente ficava mais inteligente, funcionando melhor.
Talvez Buda estivesse mesmo certo, seguir a natureza estava funcionando... Então a ideia de Buda foi reforçada ainda mais em seu ser.
A rapaz passou a olhar para tudo em sua vida através do olhar de Buda: "siga a sua natureza". Se alguém o chamasse para sair e ele não sentisse vontade, mesmo com medo de magoar a pessoa ele dizia "não". Quando sentia vontade de andar com outras pessoas, se afastava do seu grupo habitual e migrava. Às vezes parecia um pouco radical, mas era a natureza dele, então ele só acompanha o fluir dela.
Às vezes ele não queria abrir a boca, então não abria. As pessoas falavam com ele e ele simplesmente não respondia... E assim o rapaz foi seguindo, cada vez mais forte na ideia de Buda.
Ele passou a se dedicar cada vez mais às coisas que gostava de fazer; escrita, música e sonhos. O rapaz passou a sentir um prazer cada vez maior em estar vivo. Tudo na vida dele começou a dar certo. Parecia magia, porque havia uma sintonia. Mesmo a sua aparência melhorou. Ele ficou mais bonito, começou a atrair a atenção das pessoas. As pessoas estavam gostando mais dele. A vida também começou a se comunicar com ele, sua vida se preencheu de um sincronismo.
O rapaz sentia uma gratidão tremenda por Buda, uma simples ideia revolucionou toda a sua vida. Tirou ele do tormento e lhe trouxe uma vida de gozo, preenchida de alegrias e surpresas. E o mais incrível de tudo era que ele estava fazendo somente o que o seu coração mandava fazer, de forma radical mesmo, e tudo começou a dar certo desde então.
As pessoas precisavam saber disso também. Talvez fosse por isso que Buda começou a falar com as pessoas, a falar que era possível viver uma vida iluminada. O rapaz passou a escrever sobre isso em livros, para salvar as pessoas. Ele vendia milhões de cópias. Ficou imensamente rico.
Tudo isso aconteceu porque ele confiou num homem sábio e numa simples ideia: "Siga a sua natureza. Flua com ela como um rio flui em direção ao oceano."
Tudo bem que foi preciso um pouco de coragem no início, mas só no início. Depois que o prazer por estar vivendo de acordo com a natureza começou a acontecer, esse prazer por si só promovia toda a coragem necessária para fazer o que quer que fosse preciso.
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