Ele estava dando uma caminhada pela areia da praia, chutando pedrinhas cabisbaixo, como vinha andando nos últimos dias...
Ele pintava quadros e eram belíssimas pinturas. Não eram pinturas comuns... Elas tinham um significado, uma mensagem, e ele sabia disso. Ele sabia que tinha um precioso talento e que poderia ajudar milhões de pessoas com ele.
Mas ele estava decepcionado com a vida. Ele colocava todo o seu coração em suas pinturas e sempre quando ia mostrá-las cheio de esperança para os seus amigos e familiares... Nenhum deles reconhecia o seu talento. Era como se ele nada estivesse fazendo. Isso o deixava bastante magoado, decepcionado e triste...
Mesmo assim ele continuava seguindo em frente e pintando os seus quadros, porque era de total coração. Mas estava se sentindo a cada dia mais sozinho e surrado com a falta de reconhecimento.
Ainda caminhando pela areia da praia, subiu numa margem rochosa e começou a andar descalço por cima de pedras, circundando à volta da base de um desfiladeiro.
Caminhando algumas centenas de metros para distante, encontrou uma sombra em um local onde não havia ninguém por perto. Sentou-se sobre um bloco de rocha e não conseguiu mais conter-se: o choro se desprendeu.
Após alguns minutos assim, pedaços de rocha caíram do topo do desfiladeiro e colidiram ao chão. Logo em seguida outros pedaços de rocha começaram a cair por cima dos primeiros, formando um morrinho de pedras.
Quando cessaram de cair, os pedaços de rocha do morrinho começaram a se movimentar e a se encaixar uns aos outros. O garoto observava um pouco assustado, esquecendo-se até de suas tristezas.
As pedrinhas se movimentando pareciam estar desenhando um homem... Sim, era isso mesmo... Elas formaram um homem de pedra baixinho que deveria ter um metro e meio de altura.
Aquele homem de pedra deu um longo bocejo como se estivesse acordando agora mesmo de um sono profundo.
O garoto observou aquele homem de pedra sentindo uma ligeira familiaridade...
- Papai? - Perguntou o menino desconfiado.
- Oi, meu filho... - respondeu o homem de pedra agora caminhando para mais perto do garoto. A voz dele ecoava ao som de milhares, como se fossem centenas de vozes em uma só. Mas não era assustador, emitia um conforto...
O homem de pedra chegou ao lado do garoto e sentou-se sobre o mesmo bloco de rocha.
- Filhinho - disse o homem de pedra -, você não deve entristecer-se assim.
- Como não? - Retrucou o garoto se sentindo nada esperançoso. - Ninguém me compreende, ninguém me reconhece. Parece que apenas eu me vejo. Estou sozinho num mundo estranho...
- Meu querido, não é bem assim - respondeu o homem de pedra em tom compassivo. - Você está fazendo um ótimo trabalho, nós estamos bastante orgulhosos de você.
O garoto deu um longo suspiro.
- Eu agradeço o reconhecimento de vocês - disse ele -, de verdade, mas não vejo como isso pode me ajudar aqui. Eu continuarei sozinho enquanto eles não me reconhecerem...
O homem de pedra abriu um sorriso.
- Filho, nós já conversamos sobre isso... Você precisa esperar mais um pouquinho...
- Esperar para quê? - Devolveu o garoto sem paciência. - Nós conversamos, é?
- Ah, você já esqueceu - disse o homem de pedra com um riso amigável. - Lembra do homem de barba do campo?
- Sim, eu me lembro - respondeu o menino.
- Você se lembra do que ele contou sobre os profetas?
- Sim... Que um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre os seus parentes e em sua família - respondeu o garoto. - Tudo bem, mas não vejo como isso se aplica a mim...
- Filhinho... - disse o homem de pedra em tom suave. - Um profeta não é somente alguém que fala de Deus, que diz profecias, que prevê o futuro ou quando o mundo vai acabar ou não. Muitos que o fazem não são profetas. Profeta é todo aquele que trabalha para a luz e não para o mundo, ou para os outros, ou para si mesmo.
- Ai - o garoto deu um gemido de dor levando a mão à cabeça e tapando os olhos -, toda essa estória já me deu muitas dores de cabeça...
- Então quanto tempo eu ainda tenho que esperar? - Perguntou destapando os olhos e dirigindo o olhar novamente ao homem de pedra.
O homem de pedra não estava mais lá. Havia desaparecido.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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