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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Do Carbono ao Diamante



Ele era um simples amontoado de carbono, indiferente, igual a todos os outros amontoados de carbono. Por estar constantemente se comparando e buscando não ser diferente de um simples carbono, o carbono mantinha-se inlapidado.

Sem nenhuma especialidade, sem nenhuma qualidade de precioso, o carbono aos poucos foi ficando triste. A vida do simples carbono aos poucos se tornou intemperada. Todos os dias o carbono vivia a mesma coisa, encontrava outros carbonos, e parecia que viveria assim até o fim de sua vida.

Esse pensamento limitado tornou-o um ser a cada dia mais depressivo. A vida do simples carbono perdeu o sentido. Não havia nenhuma novidade, nenhuma grande realização, nenhuma grande conquista e nenhum desafio. O carbono, se sentindo mais um na multidão, esmoreceu-se por completo. Seu olhar perdeu o brilho, o seu corpo perdeu a luz...

O carbono possuía verdades escondidas no seu peito, mas nunca houvera tido coragem de expô-las. De alguma forma, ele sentia que expor a sua verdade seria um enorme perigo. Expor a sua verdade significaria se destacar da multidão, de forma positiva ou negativa, ele não sabia, mas sabia que expor a verdade seria se tornar alguém único. Todo mundo notaria a sua presença. Ele sentia um enorme temor em ter a sua presença notada.

Vivendo anos sem vida, na rotina sombria, o simples carbono passou a desejar a morte. Todo o sentido havia se esvaído, não havia por que continuar vivo. Sua experiência tornara-se negativa. Tudo possuía mais vida do que ele e ele era um mero ser inútil.

Cansado da dor e do sofrimento, o carbono foi aos poucos se tornando introspectivo e distante do mundo. Acidentalmente, em visão das circunstâncias em que caíra, ele passou a olhar mais para si mesmo. Olhando para dentro e a partir desse sentido para fora, o seu sofrimento foi ganhando um aspecto de revolta. Ele sentia que nem suicídio poderia cometer, que não tinha esse direito porque iria magoar os outros. Ele não estava vivendo e também não podia se matar. A rebeldia em seu peito foi progressivamente crescendo.

Com o progresso de sua rebeldia, a opinião alheia passou a interferir menos nos seus processos mentais e aquela verdade que a muito havia sido escondida no peito começou a chamar a sua própria atenção. Por que não vivê-la? "Foda-se o mundo." Era assim que ele pensava.

O carbono passou a expor a sua verdade. No começo, de forma bastante tímida, porque nas primeiras exposições ele já recebia críticas; tanto dos familiares quanto dos amigos. Ninguém queria que o carbono se tornasse alguém diferente. As pessoas tentavam fazer com que o carbono retornasse a ser alguém comum, igual a todos, como era antes de "pirar". Só que o carbono não se importava mais com isso. Sua experiência havia chegado ao limite.

Quando começou a expor a sua verdade, a vida do carbono, antes seguindo o mesmo ritmo de suicídio lento, foi adquirindo desafios e novidades. As pessoas o criticavam, o chamavam de louco; e algo mexia dentro dele com tudo isso. Sua verdade ficava mais conhecida pelo seu ser, sua rebeldia mais segura... Ele estava sendo desafiado por forças absolutamente contraditórias. Sua depressão foi perdendo ibope, pois a sua vida, apesar de estar se movimentando agitadamente, estava se preenchendo de desafios que o instigavam a seguir em frente e se fortalecer.

A verdade do carbono foi ficando mais forte à medida em que era exposta. Quando o movimento de sua verdade foi se dirigindo para fora, não havia mais volta. O impulso crescia a cada dia mais, ficava mais forte. Ela foi sendo combatida e pressionada em todas as direções. Quanto mais a sua verdade vinha para a sua vida, mais as pressões opostas a ela pareciam surgir.

Chegou a um momento em que o carbono e a sua verdade não poderiam mais ser distinguidos. Tudo o que ele trouxe lá de dentro se tornara o que ele era. Isso significa que toda a sua vida passou a ser vivida à partir de sua verdade, então toda a sua vida passou a sofrer pressão externa. Ele vivia numa constante zona de pressão e insegurança.

Com tantas forças pressionando o carbono, ele chegou a um ponto crítico. Sua pele começou a mudar, suas emoções se tornaram poderosas. Seus olhos, expostos a tantas experiências, ganhou um brilho. O carbono estava plenamente seguro de si mesmo. Nenhuma força opositora poderia interferir mais em sua experiência.

O carbono teve uma estranha surpresa: sua estrutura interna havia sido rearranjada. O carbono constantemente exposto a tantas pressões, se transformou. Ele não era mais um simples carbono, havia se tornado um ser precioso. A pressão constante havia transformado o amontoado de carbono em um diamante encantador.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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