Antes de se tornar um mestre, o menino conheceu um homem que se dizia sábio. O homem tinha resposta para tudo. Não havia uma única pergunta que o homem não encontrava um jeito quase que automático de responder. O menino ficou encantado. Nunca havia visto algo parecido. E olhe que já tinha conversado com muitas pessoas idosas, de idades avançadas, frequentando os asilos em suas ações comunitárias. Mas nada, absolutamente nada, se comparava àquilo. Aquele homem parecia um Deus.
O menino se rendeu por completo. Entregou toda a sua vida nas mãos do homem. O homem disse que iria fazer dele o mesmo que ele estava vendo, então queria isso. Como não? Se pudesse, é claro que queria ser um Deus. Imagine possuir o conhecimento universal? O leque que a mente dele se abria em oportunidades era gigantesco.
Mas o que o mestre não contou ao menino era que o ensinamento era, na verdade, uma armadilha. Ao invés de fazê-lo se encontrar, faria-o se perder. Chegaria a tal ponto de perda, que ninguém mais poderia ajudar. Nenhum mestre, nenhum clínico, nenhum familiar, nenhum amigo, nenhum homem. Só a luz seria capaz de fazer isso. Teria que encontrá-la de qualquer jeito. Agora, era caso de vida ou morte. O mestre não contou isso porque se contasse, o menino ficaria com medo e não cairia na armadilha. Então nunca teria a oportunidade de dar o salto quântico e atingir a iluminação.
Depois de dois anos ouvindo o mestre, quando o menino já tinha se perdido por completo, o mestre contou que o ensinamento era, na verdade, uma armadilha. O menino riu. Se sentia agradecido por ter caído nela. Já havia encontrado a luz, e ela já havia traçado um caminho de Magia junto a ele. Um caminho independente, que não dependia de ninguém. Era a luz quem estava armando o palco. Ele era apenas o ator da peça. Era um segredo entre os dois. Um caminho onde seria um Rei. Mas depois disse ao mestre que se sentia um pouco tolo por ter caído na armadilha...
O mestre contou a ele:
- Essa é a grande dádiva de ser um tolo. Só os tolos podem cair em armadilhas, então só os tolos podem ser pescados pelos mestres. Os astutos sabem muito. Nunca vão buscar outra via, porque não tem sentido em fazê-lo. Eles já estão sabendo. Podem até ouvir o mestre, se encantar como os tolos fazem; mas nunca vão dar um passo além do chão conhecido. Não tem como fazê-los se perderem. Já estão encontrados. Bom, pelo menos é assim que pensam...
- É por isso que todo iluminado é um pouco tolo. Ele era tolo em essência, então continua carregando a sua tolice. Mas só ele é feliz, porque só ele é presenteado pela luz. Só ele ganha sem trabalhar. Só ele vive para ganhar.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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