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terça-feira, 2 de junho de 2015

A Coisa Verdadeira


Por longos anos o menino veio buscando aprender magia. Era um menino assíduo, dedicado, que mastigava os ensinamentos dos falecidos mestres como se eles fossem comida. Sentia saber muito, ser entendido do assunto. Mas mal poderia suspeitar ele o que viria pela sua frente. Se tivesse atentado ao dito mágico que sobrevivia ao tempo, não teria se surpreendido tanto com o choque.

"Sempre que o discípulo está pronto, o mestre aparece."

Então conheceu o mago. Parecia ser um homem comum, que falava pouco, reservado. Não fazia a mínima ideia das coisas que o homem fazia. De seu mundo incomum, de suas maluquices. Quando se aproximou e foi conhecendo-o mais a fundo, começaram a chover coincidências.

Recentemente, vinha falando de alquimia, de magia, de coisas espirituais; e tudo o que falava, por algum motivo, estava ali agora, à sua frente, na experiência do mago. Parecia até uma brincadeira. Como se o mago tivesse preparado tudo antes mesmo dele chegar, ou como se estivesse fazendo tudo agora mesmo apenas para impressionar.

Mas as primeiras coisas que aconteceram não foram realmente boas. Ao ver a magia espontânea fluir do mago, todo o seu saber de magia entrou em questionamento. Não tinha mais certeza se conhecia mesmo a magia ou não. Uma interrogação brotou no que antes era convicção.

O mago falou para ele ficar tranquilo. Contou que é sempre assim que acontece. Enquanto a coisa verdadeira não aparece, os homens se divertem. Inventam, acreditam, tomam posse, compartilham, usam as palavras dos mestres; mas a coisa real faz tudo isso desabar. Está tão além daquilo que acreditavam conhecer, que causa um certo choque. Às vezes, os homens preferem até negar a coisa. Investiram tanto tempo em uma noção de si mesmos, que não podem simplesmente de uma hora para a outra aceitar que tudo aquilo que investiram foi em vão. Eles fazem a curva e fingem que não viram o mago. Vão embora sem o saber.

Mas falou que, se ele fosse mais inteligente do que esses, abaixaria a cabeça e lavaria os pés do mestre. Reconheceria que alguém realmente conhecia a Tradição. Se fizesse isso, logo estaria recebendo o tesouro. A porta abriria para o acontecimento. Deixando o tesouro entrar e fazer o seu trabalho, logo estaria fazendo magia como o mago. Não demoraria muito para assumir o papel pelo qual chegou até aqui. Tornar-se o mestre. Tornar-se um bruxo.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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