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domingo, 10 de maio de 2015

A Invenção Secreta


Era um garoto doce, meigo, gentil; mas que nasceu numa família de gente meio maluca. O pessoal ficava brigando. Na maioria das vezes era por motivos bestas; coisa que ele não conseguia entender. Ficava todo mundo irritado, com a cara grande e feia, deixando no ar um clima enfadonho. Era uma família, mas o medo era quem prevalecia. Não era para ser assim, tinha certeza disso. Sentia dor. Não estava certo. Sentia ser um príncipe vivendo na masmorra de um castelo.

Cresceu metade da vida com uma sensação estranha de que não pertencia àquele lugar. Seu lugar não era ali. Ali, era um menino estranho, tosco; como um alienígena. Todo mundo ficava brigando enquanto era ele quem sentia. E não fazia absolutamente nada, então era injusto. Enquanto a guerra explodia, tudo o que queria fazer era ficar cheirando as flores do jardim e sonhando com os amores que viriam de terras distantes. Era o patinho feio do grupo.

Sua desconfiança em ser alguém diferente o fez questionar as razões. Investigando, descobriu que tinha nascido com magia. Isso respondeu muitas das questões. Respondeu por que vivia em "outro mundo", num mundo mais bonito. Respondeu por que sentia o peso doloroso da tensão que pairava no ar. Também respondeu por que tinha no peito um amor grande apesar de todas as condições sombrias. Era um mago.

Quando veio a descoberta, percebeu que não podia mais ficar por ali, distante da magia, distante do seu verdadeiro mundo. Começaria a usar do seu poder. Em silêncio, em baixo da cama, começou a montar uma ferramenta. Ela iria tirá-lo dali, tirá-lo da guerra. Sempre quando alguém chegava por perto, a escondia. Ninguém iria compreender, era magia. Era capaz de criticarem. O menino sabia que isso poderia prejudicar a sua invenção, porque era tão delicada quanto ele. Precisava ser muito cuidadoso.

Passou um ano, dois anos, e o menino continuava trabalhando em segredo. Foi ficando a cada dia mais tranquilo. A esperança havia nascido. Mais cedo ou mais tarde, a sua invenção estaria pronta e isso mudaria todas as coisas. Estaria a salvo. Encontraria os seus amores, os seus jardins, as suas flores. Mal podia esperar.

Sua família de gente maluca continuava brigando, gritando uns com os outros, vivendo em clima de guerra. Mas já estava vestindo a sua coroa, sem se importar mais com o que acontecia ali por perto. Sua invenção estava quase pronta. Estava eufórico. Tentavam brigar com ele, mas a sua alegria já vibrava com tanta força que só ignorava em silêncio. Tomava o baque da energia, mas abraçava-a como se fosse uma bênção de Deus.

Quando ficou pronta, tirou-a da cama e a colocou em cima da cômoda. Era só apertar um botão... um botãozinho e tudo mudaria. Respirou fundo. Apertou. Todos os seus amigos imaginários ganharam vida. Eles pegaram na mão do menino e o levaram embora. Montaram um castelo, com um jardim gigantesco. Trouxeram amores, presentes; também pessoas gentis e doces, como ele. Agora sim, estava vivendo. Pela primeira vez em toda a vida.




~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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