O menino estava puto da vida com o mago. Desde que começou a seguir as suas ideias idiotas, começou a se machucar. Abria o coração e recebia pedrada. Mostrava a paixão e recebia fora. O mago contou que se tornaria iluminado se seguisse os seus ensinamentos. Então, que brincadeira de mau gosto era essa? Com certeza sofrimento não era iluminação.
Não estava suportando a raiva, precisava descontar em alguém. O mago era o culpado de tudo. Foi ele quem mandou fazer essas tolices. Ah, ele teria o troco... ah se teria...
Lá se foi o menino, chegou à torre. Deu umas três porradas com toda a força na porta e o mago a abriu, meio assustado:
- Oi?
O que veio logo em seguida não deve ser descrito. Foi uma sequência de desaforos sem medida. O mago sentou enquanto ouvia, em silêncio.
Toda pergunta que o menino fazia, o mago não respondia. Sua raiva foi ficando maior a cada silêncio que recebia em resposta. O mago permaneceu impassível. Até que o menino cansou de falar, se aproximou dele e começou a cutucá-lo. "Estou falando com você, seu idiota. Não vai me responder não? Vai ficar fingindo que não está me ouvindo?" - O mago ficou morrendo de medo de tomar uma porrada, mas nada fez. O menino deu umas cutucadas mais fortes, mais fortes, até que desistiu.
Depois que cansou, não obteve reação, e a raiva já tinha atingido um auge; o menino se jogou ao sofá se sentindo completamente perdido. O mago permaneceu em silêncio, sem fazer movimento algum a não ser o de balançar as mãos sem sentido que nem um bebê. O menino começou a chorar. Despejou tudo. Abandonou o controle.
O mago manteve sua impassividade durante longos trinta minutos, enquanto o menino não parava de chorar. Ficou aguardando, compartilhando secretamente da mesma energia. Depois que grande parte da energia havia sido extirpada, o mago abriu a boca:
- Por hora alguma eu te falei que seria fácil e você sabe disso. Eu disse que iria fazer de você um mago, te dando compreensão e te fazendo despertar da ignorância. Há uma longa caminhada até se tornar iluminado e tomar posse da Espada.
- Espada? - perguntou o menino.
- Sim, a Espada da Magia, aquela que abre todas as portas. Uma em cada cem pessoas está vivendo enquanto todo o restante está morrendo. Esses que estão morrendo abandonaram os desejos pessoais e aceitaram a imposição do mundo. Estão ficando a cada dia mais negativos; sem esperanças, sem sonhos, sem desejos e sem sofrimentos. Esse é o padrão. Eles não estão sofrendo, mas também não estão vivendo. Já estão mortos. Estão apenas caminhando à morte do corpo, sem vida alguma.
- O homem que vai em busca da magia é aquele que vai em busca dos seus desejos. Ele pega uma via contrária ao padrão. Esse homem está sujeito a todas as decepções, a todas as quedas. Ele começa a viver.
- O meu ensinamento é impulsioná-lo com confiança atrás do que deseja. Esse caminho é como uma escalada: você subirá degrau por degrau com paciência, até chegar ao topo. Experimentará todos os tipos de sofrimento possíveis no caminho, porque estará vivo. É através da dor que desenvolverá a sua Espada.
- Quanto mais busca os desejos, mais decepções experimenta. É assim com todos, porque há algo a se desenvolver. Essas decepções te moldam se você não desistir. A cada decepção, se continua em frente, passa a desejar mais ainda aquilo que se deseja. O poder do desejo vai ficando mais forte, com mais energia, com mais poder. Chega a um momento em que atinge um pico e dá um salto. Você aprende o caminho sem curvas, direto a eles.
- É quando tomou posse da Espada. Desenvolveu uma habilidade definitiva. É a maior conquista do homem. A Espada ficará com ele para sempre, conduzindo-o ao que deseja pelo resto da vida.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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