O menino estava inquieto, e já estava cansado de ficar assim. Acontecia quase sempre, como uma visita mensal ou bimestral. Não conseguia se encaixar nos grupos, não se interessava pelos assuntos. Achava tudo pequeno, sem sentido. Se sentia excluído, estranho ao meio. Não conseguia dialogar, participar das conversas. Não sentia interesse pelas coisas que discutiam. Por vezes, sentia raiva de tudo, abandonado no mundo. Queria ser querido, amado. Odiava ser tratado como os outros. Queria ser tratado com valor.
Quando ia se abrir com alguém, as coisas que falava eram tão incomuns, que ele mesmo chegava a se achar um louco e preferia até ficar calado. Os pensamentos pareciam mais coesos dentro de sua mente. Quando compartilhava-os, eles pareciam distorcidos. Talvez fosse verdade, talvez sentisse a energia mudando. Ou talvez fosse apenas mais uma coisa louca de sua cabeça.
Até que conheceu o mago. De algum jeito muito esquisito, começou a se abrir com ele como se o conhecesse há vidas. O mago chegava perto e as palavras começavam a sair nuas de sua boca, cruas; como se estivessem sendo puxadas por alguma gravidade peito a fora. Era quase incontrolável não soltá-las. Queria contar tudo o que sentia. Falar de toda a sua vida.
Quando comentava que todo mundo o achava um louco, que se sentia um alienígena na terra; esperava que o mago fosse lhe dar algum consolo, mas o mago não o fazia. Ao invés disso, dizia que todos estavam certos, inclusive ele. Dizia que ele era mesmo um louco, alguém completamente insano, fora de si. Alguém de outro planeta.
Contou que ele era um mago, e a experiência de um mago, vista isoladamente, pode parecer muito perturbadora. Mas, quando vista pela perspectiva de outros magos, encontra ressonância e acalma o espírito. Disse que todos os magos passam por isso: por essa sensação de não pertencerem ao meio, ao grupo, ao contexto. E que é justamente isso que os leva às estrelas. Na verdade, o mago já nasceu nelas, só que caiu na terra. É a inquietação quem o guia de volta para casa.
Contou que alguns magos, por não compreenderem o que se passa, tentam se ajustar. Conseguem, mas não saudavelmente. Eles se forçam a serem iguais; talvez por terem ouvido alguém, ou talvez até por um desejo pessoal de si mesmos. Mas acabam destruindo a magia. Não conseguem ser felizes. Sofrem até o último respiro.
Mas que tem outros, que não, que por alguma razão, seguem perturbados, em conflito, inquietos, e que confiam que isso tem uma razão de ser - que foi Deus quem os fez desse jeito e que Ele sabe bem o que fez e o que está fazendo. Esses sobem, encontram o céu. Os magos têm experiências de gigantes, que geralmente englobam todo o planeta. A inquietação deles é o que os fazem não se tornarem pequenos. A inquietação é a sua Luz. É ela quem mostra o caminho.
~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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