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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O Segredo do Garoto Feliz


     Um garoto passava todos os dias andando naquela rua.
     As vezes ele estava sorrindo, as vezes estava chorando, as vezes estava calado e as vezes estava cantando. As vezes ele passava machucado. Mas ele sempre passava com um brilho diferente nos olhos.
     As pessoas o observavam pela janela; ele era diferente, e estava sempre sozinho.
     Houveram se passado cinco anos e, todos os dias, o garoto ainda passava por ali. A cada dia novo, o brilho em seu olhar parecia maior.
     Independente de como ele estava, se triste ou alegre, ele parecia sempre bem. O brilho em seus olhos dizia isso.
     Um menino começou a ficar bastante curioso, então, todos os dias quando entardecia, que era o horário que o garoto costumava passar, ele esperava na janela para observá-lo. Sempre que observava o garoto vindo no horizonte, ele apurava a atenção para observar como ele ia passar naquele dia.
     Com o tempo, a curiosidade do garoto foi crescendo, até que se tornou irresistível. No lugar da curiosidade, surgiu uma vontade espontânea de falar com aquele garoto. Mas ele sentia medo, então não ia. Mas essa vontade, assim como a curiosidade, não reduzia, pelo contrário, ela só crescia.
     Então, um dia, ele resolveu tomar coragem e, logo que entardeceu, ficou na calçada, tremendo de medo, mas decidido. Assim que o garoto passasse, ele ia interrompê-lo.
     Então ele viu o garoto, vindo lá longe. Tremeu com mais medo ainda, mas, já estava ali, ia pará-lo de qualquer jeito.
     O garoto foi então chegando perto, nesse dia ele estava cantando. Quanto mais chegava perto, mas o menino sentia-se apreensivo. Então agora ele estava passando bem ao seu lado...
     
     - Ei! - Exclamou o menino para o garoto. 
     O garoto olhou para ele e parou de andar e cantar. Estranho, agora que soltara a voz, o medo desapareceu.
     - Pois não? - disse o garoto.
     - O que você tem, hein? - Perguntou o menino.
     O garoto levantou uma sobrancelha. Não havia entendido.
     - Eu sei que você tem alguma coisa - insistiu o menino. - Eu observo você todos os dias.
     O garoto sorriu.
     - Eu sou apenas feliz... - disse ele.
     - Não - retrucou o garoto. - Não é apenas isso, eu também sou feliz. Você não, você tem alguma coisa...
     - Não, de verdade - disse o garoto. - Eu sou mesmo feliz.

     O menino ficou olhando para ele um tempo. 
    O garoto, em resposta, ficou parado olhando para ele também. Os olhos do garoto cintilavam, pareciam fogo, brilhantes.

     - Não, não, não - disse o menino balançando negativamente a cabeça. - Você tem alguma coisa. O que você faz da vida?
     - Nada.

     O menino achou aquilo muito estranho.
     - Como assim, nada?
     - Nada, eu não faço nada - respondeu o garoto. - Faço isso todos os dias, por isso sou feliz.

     O menino ficou muito confuso. Agora era ele quem não estava entendendo.

     O garoto viu que o menino ficou perturbado. Talvez estivesse esperando ouvir algum segredo... Então o garoto disse:

     - Olha, eu não sei te dizer a razão deu ser feliz, mas é mesmo verdade, eu o sou. Eu sou mesmo feliz, não falo para tentar te convencer e nem para tentar convencer a mim mesmo. Já que não posso te contar a razão, pois não sei, vou te contar como me tornei feliz.
     - Eu era muito ativo, fazia muitas coisas - contou ele.

     O menino olhava para ele, atento. Então ele continuou:

     - Me sentia sempre ocupado, sempre tendo que fazer alguma coisa. Comecei então a ficar infeliz. Um momento de paz era algo muito raro. A cada sete dias na semana, um ou dois deles eu me sentia bem. Ainda assim, não era totalmente, pois sabia que logo mais voltaria a ficar infeliz e então isso não me deixava ter paz.
     - Chegou um dia - continuou contando o garoto -, que eu decidi abandonar tudo. Sério, simplesmente joguei tudo para cima e parei. Era algo muito radical, ninguém me apoiou, todos diziam que eu ia ser infeliz.
     - Nos primeiros dias, eu me senti estranho, sem função. Comecei a sentir muita dúvida, incerteza e perturbação. Será que eu tinha feito a coisa certa? Eu me perguntava sem parar. Mas os dias foram passando e aquelas pressões foram desaparecendo. Então, aos poucos, eu fui ficando feliz. E, a cada dia, eu fui ficando mais feliz ainda...

     - Pera aí - o garoto interrompeu. - Você abandonou o mundo, as pessoas, as atividades; então ficou sem fazer nada e ficou feliz? Isso não faz sentido. Ninguém é feliz isolado do mundo.

     O garoto riu.

     - Não foi bem assim que aconteceu... - contou ele. - No começo, eu não fazia nada mesmo e isso era até estranho. Mas comecei a sentir uma paz, pois senti uma liberdade. Mesmo sem ter o que fazer, eu podia fazer qualquer coisa, e não era ninguém que estava me empurrando a fazer, eu mesmo quem tinha a escolha.
     - Então - continuou ele -, eu comecei a sentir uma felicidade sem lógica, sem razão. Devagarinho, ela foi crescendo. Quando ela foi crescendo, novas coisas começaram a acontecer na minha vida, coisas que faziam ela crescer ainda mais. Então eu voltei a fazer coisas, muitas coisas, mas eu comecei a fazê-las de coração. Eu mesmo as estava fazendo. Eu mesmo. Ninguém me obrigava, era totalmente natural.
     - Foi ai que... - o garoto fez um ar de mistério. - Tcharam! Eu descobri algo fenomenal.

     O menino arregalou os olhos.

     - Quando eu abandonei o mundo que me era imposto, outro mundo me foi exposto. Um mundo gigantesco, que eu desconhecia. Um mundo de paz e alegria. E, por incrível que possa parecer, esse mundo me dá tudo. Tudo mesmo!
     - Então - continuou o menino -, eu passei a andar para lá e para cá. Agora eu não faço mais nada, mas ainda assim faço muita coisa. A diferença é que, antes eu fazia pelo mundo, agora é o mundo quem faz por mim.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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