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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Esmeralda



     Esmeralda era uma linda lagartinha que trabalhava na fábrica de lã de seu avô, Berilo.
     Sempre fora uma lagartinha muito contente, animada, que adorava comemorações e sair com suas amiguinhas.
     De uns tempos para cá, no decorrer do último ano, Esmeralda começou a sentir coisas que nunca houvera sentido antes.
     Ela estava tendo sentimentos confusos, vontade de ficar distante e sozinha, mas ainda assim sentindo grande solidão. Ela começou a sentir repulsa por algumas amiguinhas, o que era muito estranho a ela, pois aquilo não tinha nada a ver com ela. 
     Ela se sentia estranha por dentro, como se houvesse alguma coisa mudando dentro dela e ela não tendo nenhum controle sobre isso. Ela agora também estranhava as outras lagartinhas, como se, de repente, todas à sua volta estivessem se tornando de certo modo, estranhos. Ela se sentia diferente das lagartinhas ao seu redor.
     Ela não conseguia compreender o que estava acontecendo, e saiu então perguntando e pedindo ajuda para as outras lagartinhas.
     Quanto mais ela pedia ajuda, mais ela ficava confusa e mais ela se sentia estranha e diferente, porque as lagartinhas nunca haviam passado por aquilo. Então, algumas delas diziam a ela que ela podia estar ficando louquinha da cuca, e que devia buscar um médico.
     Mas, no fundo, ela sabia que não estava louquinha. Ela só não sabia o que estava acontecendo direito, não sabia o porque daqueles sentimentos tão confusos. Bem no fundo mesmo, ela acreditava que deveria ter alguma razão para ela estar sentindo tudo aquilo.
     Com o agravar daquelas sensações, Esmeralda começou a sentir repulsa pelo trabalho e uma vontade de ficar distante de tudo. Ela achou que isso logo iria passar, que era momentâneo... Só que quanto mais o tempo passava, mais vontade de ficar longe de tudo ela sentia.
     Um dia ela resolveu sair para dar uma volta sozinha, porque aquela sensação de querer ficar longe de tudo estava grande demais, chegava até a corroê-la se ela não obedecesse imediatamente. Então ela saiu, cabisbaixa, tristinha e muito confusa.
     Ela se sentou em cima de uma pedra, sem saber o que fazer. Nem orar estava ajudando mais. Ela estava realmente perdida. Mergulhou então a cabeça em seu corpo e começou a chorar...
     Uma borboletinha que estava voando no céu, olhou para a lagartinha lá em baixo e ficou muito sentida. Então ela desceu, batendo suas lindas asinhas no ar, e pousou logo ao lado dela.

     - Lagartinha... - disse carinhosamente a borboleta. - O que está acontecendo?
     A lagartinha levantou a cabeça e olhou para aquela borboleta linda. Ela era algo tão lindo que, na mesma hora, o choro passou. Que lindas asas, como será que ela tinha conseguido elas?
     - Eu não sei... - respondeu Esmeralda. - Ultimamente, no último ano para ser mais exata, eu venho me sentindo muito estranha, confusa e perdida, querendo me distanciar de tudo e de todos... Não consigo compreender. Minhas amiguinhas não conseguem me ajudar, elas me dizem que nunca passaram por isso, então eu fico mesmo muito perdida.
     A borboletinha deu uma risada suave e agradável. Esmeralda não entendeu.
     - Lagartinha - disse ela -, alegre-se!
     - Ahn? - Retrucou Esmeralda.
     - Meu bebezinho, chegou sua hora...
     - Minha hora de que? - Perguntou Esmeralda, um pouco confusa.
     - Sua hora de virar uma borboletinha e ganhar lindas asinhas, como as minhas, e voar.
     - Eu vou ganhar asas também? - Perguntou Esmeralda, não entendendo muito.
     - Claro que sim, meu anjo - respondeu a borboleta. - Eu também era uma lagartinha e, quando chegou minha hora, senti tudo isso também. Então eu escutei minha intuição, me distanciei, montei meu próprio casulo, e saí dele voando!
     - Sério? - Esmeralda estava um pouco espantada, ela não fazia ideia disso.
     - Uhum - confirmou a borboleta com um sorriso. - É por isso que suas amiguinhas não conseguem te entender. A hora delas ainda não chegou, elas não passaram por isso, não podem compreender.

     Esmeralda ficou um pouco pensativa, aquilo era novidade para ela.

     - Lagartinha - disse calmamente a borboleta -, siga sua intuição que ela te levará a algum lugar seguro. Então, com ela mesmo, você montará um casulo à sua volta e ficará distante do resto do mundo por um tempo. Muita coisa acontecerá dentro de você nesse tempo, muito movimento, e talvez você sinta um pouquinho de dor... resista, você tem que esperar. 
     - Acontecerá uma metamorfose em você - continuou contando a borboleta - e, quando ela já estiver terminado, você sentirá um impulso para rachar a casca que construiu. Nessa hora você irá sair do casulo e descobrirá que já não é mais a mesma lagartinha. Você estará diferente; mais bonita, mais leve, mais graciosa... Então, você abrirá suas lindas asinhas e voará em direção ao céu.
     - Encontrará diversas lindas borboletas, como eu, que terão imenso prazer em te receber de asas abertas.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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