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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Menino Chorão


     Ele era um garoto comum, um menino de classe média da cidade. Vivera sua vida normal, como todos. Quando era garotinho, frequentou a escola, depois que se tornou jovem, cursou a faculdade e então houve um período, durante seu curso, que ele passou a sentir coisas estranhas.
     Ele sentia solidão, angustia e dor. Muita dor. Se afastou dos amigos, da família e mesmo do curso. Passou muito tempo sozinho, tentando compreender o que acontecia consigo.
     Depois de um tempo, depois de ter finalmente compreendido, ele parou de sentir solidão, de sentir angústia e de sentir dor. Mas aconteceu algo novo, ele começou a chorar.
     Ele ia para a faculdade, e chorava. Ele ia para sua casa, encontrava com sua família, e chorava. Ele saía na rua, sentava num banco de praça, observava as pessoas, e chorava. Ele saía com os amigos, e chorava. Ele ia para festas da cidade, e chorava. Visitava a igreja, e chorava. Ia ao médico fazer exames, e chorava. Ia ao dentista, e chorava. Ia em centros de meditação, e chorava... Todo lugar que ele encontrava com alguém, ele chorava.
     Isso era muito incomum e começou a chamar a atenção das pessoas ao seu redor. Elas não conseguiam entender e não encontravam nenhuma razão para um garoto chorar tanto. Elas imaginavam que talvez alguém querido houvesse morrido, ou que ele estivesse passando por algum momento muito difícil... Mas tinham vergonha de perguntar a ele.
     Com o tempo, ele continuava chorando, então a curiosidade das pessoas ficou maior que a vergonha, e algumas iam até ele perguntar o porque. Com boas intenções, queriam consolá-lo.
     Então as pessoas vinham e perguntavam:

     - Garoto, porque você está chorando? Não chore, para tudo há uma solução. Não é o fim, acredite em mim...
     - Não é nada disso - dizia o garoto. - Eu não estou sofrendo, estou em imensa paz. Não é sofrimento que me faz chorar, são vocês. É olhar para vocês e não saber o que fazer.
     As pessoas ficavam numa confusão absurda quando ele dizia isso. Não entendo bulhufas.
     - O que você quer dizer? - Diziam elas. - Estou te incomodando? Quer que eu saia?
     - Não, não é isso - dizia o garoto. - Vou tentar te explicar. Depois de eu sofrer minhas dores, descobri a paz. Uma paz infinita e duradoura. Então, eu mudei, mas o mundo ao meu redor não mudou. O mundo está igual como era antes.
     - Então - continuou ele -, depois que eu compreendi a origem dessa paz, eu sei que todo mundo pode tê-la e que é de graça. É até um direito de cada um obtê-la. E, além disso, não é preciso de nada nem de ninguém, só da pessoa mesmo. Então é totalmente gratuito e acessível.
     - É por isso que eu choro - contou ele. - Eu saiu na rua e vejo as pessoas sofrendo, sofrendo e buscando a solução. Buscando a solução ali, aculá, naquele lugar, com aquela pessoa... E eu sei que é tudo em vão. Perda de tempo, jamais encontrarão. Estão procurando a luz no escuro, e a luz está logo ao lado deles, logo ao ladinho mesmo, está praticamente tocando neles... é só mudar a direção e puft
     - Então sinto uma tristeza profunda, porque eu estou vendo tudo isso e não posso fazer nada. Me sinto impotente. Vejo o sofrimento e também vejo a saída dele, mas eu não posso mostrar. Eu posso falar, apontar a direção, mas não posso mostrar... E quando falo, é algo tão simples, que é difícil de acreditar. É preciso que a pessoa vá e confira por si mesmo. E como é algo tão simples, como a solução do sofrimento é algo tão simples... Ninguém opta pelo simples. Não pode ser isso, é muito simples para ser, elas pensam. Porque o sofrimento parece ser complicado, então as pessoas imaginam que a solução também deva ser complicada; que é preciso grande esforço, grande luta, grande empenho para conquistá-la... Então, o caminho que mostra grande luta, parece ser verdadeiro.
     - Mas não é - contou ele -, é um beco sem saída. Todos que estão nele ainda não encontraram a paz, estão buscando. E eu sei porque eu encontrei a paz. 
     - Por isso eu choro, choro em todo lugar que vou. Todo mundo está sofrendo e eu tenho a solução. Mas não posso mostrar porque vocês não podem ver, não podem acreditar. Então eu choro por não saber o que fazer. É como se dependesse apenas de mim acabar com o sofrimento do mundo, e eu, impotente, tento mostrar e não consigo, então eu choro. E choro muito. Sei que vou chorar até conseguir poder mostrar.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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