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domingo, 19 de janeiro de 2014

A Profecia dos Anjos



     Dez anjinhos dançavam e sobrevoavam à volta dele todos os dias; protegendo, incentivando, dando forças e contando uma porção de estorinhas para o garoto.
     Ninguém podia vê-los, só ele. Por causa disso, mesmo achando eles encantadores, durante meses ele achou que era apenas sua imaginação. 
     Não se importava se fosse, era divertido observá-los; eram belos, coloridos, misteriosos e mágicos. Se fosse apenas imaginação, ele estava grato por conseguir aquele feito. Só que, com o tempo, coisas aconteceram e o garoto começou então a estranhar...
     Os anjinhos contavam coisas sobre as outras pessoas, sobre o universo, e até alguns segredinhos, que ele descobria depois serem mesmo verdade. Então como é que eles eram só imaginação?
     Eles tinham que ter algo de real em sua existência, algum tipo de inteligência pessoal.
     Quando o garoto perguntava a eles de onde eles tinham vindo, eles nunca respondiam. Então ele perguntou porque é que somente ele os viam.
     Os anjos responderam que ele havia escolhido assim.
     Mas o garoto não havia escolhido coisa alguma, então negou tal afirmação.
     Eles disseram que não foi hoje, nem foi ontem e que também não foi nem a mil anos atrás. Disse que isso já fazia muito tempo.
     O menino não entendeu bem, mas ele tinha certeza absoluta que ele não houvera escolhido coisa alguma.
     Os anjos contaram que aquela não era a primeira vida dele. Ele já houvera vivido muitas vidas antes, e que sempre que ele encarnava em um novo corpo, sua memória só era revelada com o tempo, geralmente quando ele chegava na fase adulta. Disseram que ela só era revelada na hora certa, quando ele já estava amadurecido, porque antes disso poderia ser perigoso.
     Ele ficou um pouco curioso, então perguntou aos anjinhos porque é que ele precisara ter vivido tantas vidas em corpos diferentes.
     Os anjos disseram mais uma vez que aquilo foi escolha dele.
     O garoto não entendeu.
     Então eles contaram que sempre que uma nova alma nasce, ela tem o direito de pedir um desejo a Deus. Então ela inicia uma nova jornada pela vida até a concretização daquele desejo.
     Contaram que o desejo do garoto impressionou Deus. Deus não esperava que um ser fosse pedir aquilo, então disse que o pedido dele era algo muito grandioso. Tão grande mesmo, que ele poderia até viver cem vidas e não ter conseguido concretizá-lo ainda. Mas que era um desejo tão nobre, que mesmo ele, Deus, se comoveu e quis também ajudá-lo. Então ele ordenou que seus anjos o acompanhassem em cada vida, porque seria muito trabalho, e que, para poder dar certo, cada vida teria que ser uma peça de um grande quebra-cabeça.
     Contaram também que algumas almas pedem para ser feliz, que outras pedem para viver um grande amor, que outras pedem para ajudarem os necessitados e que outras pedem ainda para se divertirem muito e viverem grandes aventuras. Esses são os desejos comuns, coisas que em uma ou algumas vidas, já é o suficiente.
     Mas o menino não havia pedido nenhuma dessas coisas. Ele havia pedido que toda a humanidade se unisse e passasse a viver como se fossem todos um único espírito. Se um sentisse dor, todos sentiriam também, então todos precisariam ter cuidado um com o outro, estando unidos assim por laços eternos.
     Foi com esse desejo que, em sua primeira vida, ele nasceu com algo diferente dos outros seres. Ele nasceu com uma nova percepção, uma nova forma de sentir o mundo, que ele poderia passar adiante se as pessoas se permitissem serem transformadas.
     Essa nova percepção o mantinha unido ao universo, era a compaixão.
     Ele não estava separado, não era mais uma única pessoa desassociada do resto. Ele era a humanidade inteira. Se a humanidade sentisse dor, ele sentia. Se a humanidade sentisse angústia, ele sentia. Se a humanidade sentisse alegria, ele sentia. Era uma benção, mas também uma maldição.
     Quando a compaixão conseguisse finalmente invadir todos os corações, o desejo dele finalmente se realizaria e as pessoas seriam transformadas. Essa era a sua tarefa.
     Então um novo sentido de vida surgiria disso, pois estariam todos agora conectados. Trabalhando juntos, um só coração. Uma só vida em vários corpos. Então ninguém ia mais fazer mal a ninguém, pelo contrário, todos se amariam e fariam uns aos outros coisas boas, para sentirem isso em retorno, pois agora todos eram a humanidade inteira.
     Os anjinhos contaram ainda que em todas as vidas que eles passaram juntos, eles conseguiram ir fazendo a compaixão invadir novas almas, e conseguiram fazer com que outras almas ficassem latentes. Então o terreno estava ficando preparado, um único empurrãozinho poderia ser o suficiente para as almas latentes rapidamente serem transformadas. Então elas iam se juntar à mesma causa, pois iam se tornar o universo inteiro também.
     Então, a cada nova vida, eles já não eram mais um. Eram três, quatro e por aí vai. Se ele conseguisse fazer a compaixão invadir um corpo, já estava no lucro. Pois na próxima vida seriam dois corpos agora trabalhando.
    Então eles contaram que, finalmente, essa seria a última vida de trabalho. As próximas seriam só amor e descanso, porque nesta vida, todos os corações seriam invadidos como uma explosão.
     Já haviam muitas almas aderidas à causa, que também já estavam trabalhando, e que agora eles tinham uma nova ferramenta; a arma secreta de Deus. Chegaram ambas na hora exata. O quebra-cabeça estava pronto.
     Deus havia criado uma arma que poderia ser usada por qualquer um, para enviar ondas sonoras e visuais pelo ar em velocidade da luz, atingindo o mundo inteiro, com apenas um toque. Ferramenta perfeita para espalhar rapidamente a mensagem em proporção cósmica, atingindo rapidamente todos os corações.
     O desejo agora poderia ser concretizado. Não por uma, mas por todas as pessoas.


~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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