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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Buraco Negro


     Ele era um cientista, um rapaz muito inteligente.
     Durante sua faculdade, cursando o curso de física, ele era muito bem falado por todos e todos colocavam grande esperança e expectativas nele. Aquela faculdade nunca houvera tido um garoto tão inteligente em seus institutos, e a maioria do corpo docente apostava tudo que ele, de alguma forma, revolucionaria os conceitos mundiais da física moderna.
     Antes de terminar o curso, nos últimos semestres, aquele garoto começou a ficar diferente, estranho...
     Seu olhar tomou um aspecto distante e sua fala ficou confusa. Ele não dizia coisa com coisa.
     Ele falava com frequência as seguintes frases: buraco negro. Preciso abrir o buraco negro. A gravidade vai puxar todo o universo até mim. Buraco negro... Gravidade...
     Ele tinha enlouquecido. Na verdade, não parecia mais que era aquele garoto. Ele estava excessivamente estranho.
     As pessoas começaram a achar que ele estava possuído, possuído por algum demônio ou algo do tipo. Ele estava sempre com olheiras e tinha um aspecto sempre perturbado. Estava sempre agitado, andando de um lado e para o outro, como se estivesse com problemas.
     Só que o mais estranho de tudo era que suas notas ainda eram as melhores. Apesar de todo o seu aspecto, ele ainda era o destaque.
     O tempo ia passando - ele se formou - e ele parecia cada vez mais louco, mais obcecado. Não conversava mais com ninguém, as pessoas falavam com ele e ele permanecia calado, como se não estivesse presente. E, ainda por cima, quando abria a boca, era para falar do buraco negro.

     Depois que se formou, ele mergulhou a fundo na busca do buraco negro e esqueceu o mundo.
     Um dia, um dos rapazes que se formou junto com ele percebeu que não era totalmente maluquice, que havia certo sentido nas coisas que ele falava. Então, ficou curioso e foi ao rapaz perguntá-lo o que era o buraco negro.
     O rapaz respondeu:
     - Eu sou o buraco negro e estou fazendo as experiências em mim. Quando eu conseguir abrir o buraco, vou atrair o universo inteiro; porque uma grande gravidade, um grande magnetismo, vai se desprender de mim e atrair tudo. Me desculpe, não tenho tempo para conversar. Me deixe só! Estou no final de minha experiência. Já eliminei boa parte do que havia em mim, estou terminando de eliminar o resto. Estou para injetar a ultima injeção. Depois dela eu vou ficar vazio, então vou subir no alto da montanha e de lá irei atrair o primeiro raio. Depois que ele me atingir, o buraco irá se abrir por inteiro. Saia daqui! Me deixe só!

     Então o rapaz o deixou só e ele injetou a última injeção. 
     Tudo estava pronto. Ele estava vazio, sem nada. Era a hora de subir na montanha.

     Saiu de casa e se dirigiu às montanhas. Atravessou o bosque e começou a escalar.
     Chegando lá em cima, ele tirou suas roupas e se despiu. Eram as únicas coisas que lhe sobraram. Então ele olhou para o céu, esticou os braços abertos e, gritando, disse:
     - Estou preparado! Fiz tudo o que o senhor mandou fazer desde que você me encontrou! Me leve! Termine seu trabalho!

     Então, na mesma hora, um grande raio desceu e atingiu o centro do peito dele. Ele ficou negro como carvão.
     Logo depois, o vento ao seu redor começou a ser sugado e a entrar dentro dele. Ele sentia grande dor, muita dor, e gritava.
     As árvores à volta, eram sugadas por aquela intensa gravidade que vinha dele e suas raízes se desprendiam do chão. Então elas vinham puxadas pelo ar e entravam nele também. Ele sentia grande dor.
     A fundação dos prédios à volta, começaram a rachar. E então eles se desprendiam do chão e eram sugados por aquela intensa gravidade. Os prédios entravam nele e ele sentia grande dor.
     As pessoas, começaram a ser puxadas também. Elas tentavam se agarrar no chão, nos postes, em qualquer coisa; mas aquela coisa também era sugada pela gravidade e ambos entravam nele. Ele sentia muita dor.
     Pouco a pouco, o universo inteiro foi sugado e entrou nele. Foi um grande sofrimento. Mas, quando não havia mais nada, acabou a dor. 
     Ele era o universo inteiro - o universo inteiro era ele.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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