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sábado, 11 de janeiro de 2014

O Homem Abençoado



     Ele ouvira falar do rapaz mais abençoado do mundo. Morava em sua cidade.
     Como todas as pessoas que ouviam falar dele, aquele adolescente ficou muito curioso. 
     O que esse rapaz tem para ser tão abençoado? Ele deve ter alguma coisa que eu não tenho, ele se perguntava.
     As pessoas ouviam falar dele e ficavam bastante curiosas. Mas elas pensavam que se chegassem lá, talvez ele não quisesse recebê-las. Então sentiam vergonha e ficavam com medo de ir. Resolviam então reprimir a curiosidade.
     Este garoto, durante toda a sua infância, ouvira seus pais dizerem com frequência que ele era muito corajoso. Apesar de não ser diferente dos outros, de não possuir nenhuma coragem especial, ele se sentia corajoso. De alguma forma, isso o fazia realmente ser.
     Então ele não resistiu à curiosidade e resolver ir lá. Tomou um banho, passou um perfume e saiu de casa.
     Chegando lá, era uma cabana simples, de palha e de madeira. Ele bateu na porta.

     Toc, toc, toc...

     - É só empurrar - disse uma voz lá de dentro -, está aberta.

     Ele empurrou e viu algo realmente estranho. Era um rapaz, devia ter uns trinta anos, e estava coberto de band-aids por todo o corpo. Dava para ver apenas seus olhos, cabelos e boca, saltando para fora daquela massa de band-aid.
     O menino achou aquilo super estranho e teve certeza de que ele era um farsante. Como é que o rapaz mais abençoado era a pessoa mais machucada que ele já vira?
     Sentiu vontade de ir embora, mas já tinha feito todo o percurso até lá... Seria sensato, pelo menos, levar algum conhecimento dali, mesmo que fosse da farsa daquele rapaz.

     - Sente-se - disse o rapaz, apontando para um puff vazio que havia ali dentro da cabana.
     O menino se sentou.
     - Então, me diga - prosseguiu ele. - O que o trás aqui?
     - Ouvi dizer que você era o rapaz mais abençoado que existia - disse o garoto. - Eu acreditei. Mas, aqui, olhando para você, eu não acredito mais. O rapaz mais abençoado não poderia estar tão machucado.
     - Ah, meu jovem - disse ele bem calmo, não se sentindo ofendido -, você reparou na parte errada da coisa. Eu sou sim o homem mais abençoado, mas isso não é lá grande coisa assim. É na verdade algo muito simples que me deu tantas bençãos. Qualquer um pode tê-las também.
     - É o amor que abençoa um ser humano - continuou ele. - É só procurar vivê-lo que, mais cedo ou mais tarde, milhões de bençãos serão derramadas sobre você.
     - E eu não estou machucado - disse ainda o rapaz.

     O menino olhou para ele, confuso. Então ele continuou:

     - Todos esses band-aids representam minhas cicatrizes. Um dia elas foram machucados, mas quando as bençãos começaram a chover, elas me curaram. Então as feridas cicatrizaram e não doem mais.
     - Resolvi mantê-las - continuou ele -, apenas para ajudar as pessoas a compreenderem o segredo...
     Ele fez um ar de mistério.
     - Que segredo? - Perguntou o menino curioso.
     - Quando um ser quer ser também abençoado, ele precisa optar por viver o amor - explicou ele. - Então, esse caminho é duro no começo. Essa pessoa se machucará muito até as bençãos começarem.
     - Mas eu posso garantir - prosseguiu ele -, porque aconteceu comigo; quando as bençãos começarem a vir, e elas sempre vêm para aquele que escolheu este caminho, elas não irão parar. Serão tempestades delas, muitas enxurradas - contou ele, imitando, com um gesto no ar e um som de boca, uma tempestade. - Então esse ser para de sentir as dores e passa a sentir-se no céu. Para sempre. É uma sensação crescente.

     O menino não sabia o que dizer. Ficou apenas parado e olhando para o rapaz...
     O rapaz sorriu.

     - Está sentindo? - Perguntou ao menino.
     - Estou - respondeu o garoto.
     O rapaz deu uma gargalhada morna.
     - Isso só cresce. 


~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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