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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Adolescência de Cristo


     Quando Jesus Cristo tinha vinte e dois anos de idade, ele começou a agir estranho.
     Sempre trabalhara com seu pai, ajudando nos afazeres do campo. Mas, à partir daquela época, ele começou a ficar relutante. Não queria trabalhar, queria ficar quieto, sozinho.
     Alguma coisa estranha estava acontecendo com ele, o deixando confuso, e nem mesmo ele conseguia compreender.
     Seu pai dizia a ele que era falta de trabalho. Que desde que ele começou a ficar sozinho, ele estava ficando confuso, doente, sem rumo e preguiçoso.
     Jesus tentava explicá-lo, mas o pai dele não conseguia compreender bem o que Jesus dizia, era confuso para ele. Bem no fundo, depois de um tempo, Jesus entendeu perfeitamente o que estava acontecendo, e sabia que não estava doente.
     Nesta época, os amigos de Jesus passavam na humilde casa deles para procurá-lo. Aquilo era comum, em algumas noites eles passavam lá, batendo na porta e convidando-o para sair para algum dos bordéis da cidade, beber vinho e curtirem a noite.
     Jesus era apaixonado por festas, mas naqueles dias específicos, ele pedia para a mãe dele dizer aos seus amigos que ele não estava em casa, que tinha saído. Ele passou a se sentir mal quando saía para esses lugares, lugares que as pessoas costumavam socializar e conversar. Estava mesmo querendo ficar só, se sentia melhor assim.
     Maria respeitava seu pedido e mentia para os amigos dele. Ela achava até melhor, preferia não ver seu garoto saindo pela noite. Mas, com o passar do tempo, aquilo se repetia sempre e ela começou então a se preocupar.
     Ele não saía mais. Ficava todos os dias em casa, calado em um canto. Sempre que sua mãe vinha lhe perguntar o que ele tinha, ele dizia coisas estranhas, como: "mãe, eu estou renascendo. A água de meu copo está sendo transformada em vinho, sangue de Deus." - ou - "Mãe, não se preocupe comigo. Eu vou mudar o mundo inteiro. Minhas palavras vão chegar do outro lado do mar."
     A mãe dele se preocupava mais a cada coisa nova que ele dizia. Percebeu que aquilo estava crescendo e achou que seu filho estava ficando maluco.
     Ela chamou então seu marido para ter uma conversa séria, e contou as coisas que o garoto estava falando. Ele também se apavorou. O pai dele estava sempre trabalhando, então era a mãe dele quem sempre ouvia aquelas coisas doidas dentro de casa.
     Então, numa noite, eles decidiram chamar o menino até a mesa da sala para terem uma conversa séria com ele. Eles pediram para o garoto acompanhar eles até um médico da cidade, porque ele estava agindo estranho ultimamente e poderia estar endoidando. Alegaram que, quanto antes ele fosse ao médico, melhor seria. Haveria mais tempo para resgatá-lo de sua loucura.
     O menino negou ferozmente:
     - Vocês não entendem! - Disse ele dando um tapa forte na mesa. - Eu não sou louco. Vocês seguem as coisas dos homens, por isso são normais, como todo mundo. Eu sou o filho de Deus, ele me escolheu para mudar o mundo, para trazer o reino dele até a terra. Eu não posso ser como vocês, eu preciso beber deste cálice de sofrimento, angústia e solidão. É isso que me erguerá até os céus. Então eu estarei sentado à direita de Deus pai, todo poderoso.
     Os irmãos dele também estavam na sala, ouvindo a conversa. Um deles riu desdenhoso. O outros ficaram um pouco assustados, pensando: "meu Deus, meu irmão está completamente doido."
     Os pais dele tiveram um choque nessa hora. Agora eles tinham certeza absoluta que o seu filho estava louco e que apenas ele não estava vendo isso.

     À partir deste dia em diante, Jesus percebeu que era inútil ele falar ou tocar no assunto. Cada vez que ele dizia algo, ele percebia que sua família o achava mais louco. Sua convicção ao falar era ainda maior, então a loucura que sua família via nele tomava a mesma proporção.
     Então, todos os dias, ele saía de casa e ficava dando voltas pelos campos, sozinho.
     Enquanto dava essas voltas, ele observava as árvores, os pássaros, a natureza; e então sua mente começava a imaginar histórias. De sementes de árvore, de semeadores, de pescadores, do Reino dos Céus, de ervas daninhas... Ocorria tudo muito naturalmente, como se as histórias simplesmente brotassem em sua mente.
     Ele descobriu grande diversão e alegria nisso, começou a se sentir então muito bem sozinho. Ele inventava as histórias e se imaginava dentro delas. Se divertia à beça. Essa diversão fez as histórias acabarem memorizadas por ele. Ele sabia cada uma de cór.
     
     Jesus não trabalhava mais, ficava andando para lá e para cá. Não conversava mais com seus pais e nem com seus irmãos, ficava a maior parte do tempo sozinho. 
     Toda vez que eles tentavam conversar, o garoto sempre falava de Deus como se ele fosse o único que sabia. Jesus só sabia falar disso. Então ambos se irritavam; seus familiares não queriam ouvir sobre Deus e nem as baboseiras das histórias que Jesus contava, e ele não sabia falar de outra coisa a não ser aquilo. Jesus se sentia ruim com a irritação, então aquela energia fez Jesus Cristo se afastar.
     Ele estava sentindo grande paz e queria continuar se sentindo assim. Independente do que fosse preciso fazer, sua escolha era permanecer em paz. Então ele estava disposto a fazer qualquer coisa, até largar tudo se fosse preciso. Amigos, família, posses, lar... tudo.
     Um dia, a mãe dele o parou e perguntou:
     - Filho, de verdade, como você acha que você vai se sustentar? Eu não vejo você fazendo nada, você fica sozinho o tempo todo, andando de um lado para o outro. O tempo passa rápido, quando você se der conta, já perdeu a oportunidade de ser alguém.
     - Mãe - respondeu Jesus -, eu sei que você não vai me compreender, mas eu vou te dizer a verdade do jeitinho que ela é. Eu sou o herdeiro de Deus. Deus escreveu uma história, montou um quebra cabeça, e me colocou bem no centro dele. Eu não tive escolha, eu estava vivendo normal até isso me ser revelado.
     - Então - continuou ele -, tudo o que aconteceu na história até hoje, todas as pessoas que nasceram e morreram, todas as revoltas que houveram, cada palavra que foi dita, cada música cantada, cada quadro que foi pintado, tudo aquilo que foi escrito; foi apenas para preparar a minha chegada. Tudo o que aconteceu no passado até este momento, foi feito para mim. Tudo o que aconteceu no passado até este momento, preparou o terreno para eu ser visto. Eu sou a peça que ele escolheu para fechar o quebra cabeça, o último pedaço do bolo.


~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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