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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Passagem


     O mago estava indignado. As pessoas o estavam escutando demais, e ele não via ninguém pegando o seu próprio barco e navegando. Alguma coisa deveria estar errada.
     Talvez eles estivessem entendendo errado. - Pensava ele. - Minha fala é tão profunda, e ressoa em um lugar tão profundo neles, que eles devem estar pensando que eu sou algum tipo de messias ou coisa parecida. Mas o messias é alguém muito pobre; ele tem que perder toda a sua liberdade para assumir esse papel, e isso levaria embora toda a magia de um mago. O mago não quer isso para ele. Ele gosta de estar vivo justamente porque possui a magia da liberdade.
     Ele queria ter a liberdade de chegar no meio da rua, e sair correndo nu se quisesse, arrancando risos de quem observava. Um messias não poderia fazer isso, um messias teria que ser alguém muito sério.
     O mago então resolveu fazer um cartaz e colocar no salão principal do castelo, onde havia o maior fluxo de pessoas. Então ele encheu o cartaz de estrelinhas mágicas que ficavam brilhando no reflexo do luz, e escreveu com um pincel de tinta:


     
Gente,
     Isso é muito importante, então leiam com atenção. Se minhas palavras tocam vocês, é porque elas vêm de um lugar que já existe ai dentro, e esse lugar simplesmente responde a elas. Como se houvesse um reconhecimento mútuo, notas ressonantes.
     Gostaria de lembrar-lhes também que o messias não existe. Aquele que vocês chamam de messias foi alguém que mergulhou tão profundo em si mesmo, que ele desapareceu completamente dali, deixando que a vida tomasse conta de seu corpo. Então a vida é o messias, e ela não está dentro de ninguém especificamente. Bem, está sim, mas está dentro de todos igualmente, e está também por fora percorrendo todo o universo.
     Se quiserem me chamar de messias, lembrem-se de que eu olharei para vocês confuso, e direi: - Você está falando comigo, com a árvore, ou com você mesmo?




Saudações,
O mago.








*~~~~~~~~~~~~~~* Palavras que saem da Boca