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quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Feitiço: "Construindo a Minha Realidade"

O Feitiço: "Construindo a Minha Realidade"




O mago andava para lá e para cá pelo castelo, vestido em seu manto azul de estrelas e carregando um livro grosso, com um pincel de tinta na mão.

Às vezes, ele sentava na grama do jardim, em baixo de uma árvore, outras vezes sentava num banco, e outras vezes ele ficava em pé; mas sempre carregando o livro.

Ele parava, abria o livro, e ficava grande parte do tempo olhando diretamente para ele. Ele estava tão absorto em sua atividade, que alguns passarinhos volta e meia pousavam em cima dele, e ele permanecia imóvel, como se nada tivesse acontecido. As formigas também faziam passagem sobre suas pernas, andando em fileirinha, e ele continuava imóvel, olhando para o livro e, bem ocasionalmente - de hora em hora -, ele passava uma folha ou outra.

Às vezes ele pegava o pincel de tinta e começava a rabiscar no livro, mas isso era bem raro, na maioria do tempo ele só observava.

Já havia dias que ele só fazia isso. Para quem observava-o, parecia que o mago não estava na terra. Parecia que ele estava em outro planeta, em outra galáxia.

Mas as pessoas já estavam acostumadas com isso. Só que dessa vez, era peculiar, estava extrapolando os limites; ele já estava assim a dias, sem dar sinal de que estava vivo e presente na terra. Nada desviava sua atenção, e ele não olhava para ninguém, como se nada mais existisse.

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As pessoas estavam sempre andando para lá e para cá no castelo, pareciam estar sempre atrás de alguma coisa, sempre ocupadas; principalmente os adultos. Eles mal reparavam no comportamento excêntrico do mago.

Mas as crianças não; elas eram muito observadoras. Estavam sempre atentas ao que estava acontecendo, talvez fossem assim porque não tinham muitas ocupações.

Elas começaram então a reparar que o mago estava "out in space" por um tempo longo demais, e temeram que o mago nunca mais voltasse. Elas discutiam entre si: "o que será que está acontecendo com o mago? Porque ele não tira os olhos desse livro?" Mas elas não faziam ideia alguma do que estava acontecendo.

Um pequeno grupinho de garotos curiosos se reuniram no jardim - depois de alguns dias vendo o mago agindo assim - e, inconformados, resolveram tomar uma atitude:

- Gente, tenho medo de ir até lá falar com o mago sozinho - confessou um dos garotos -, pois não sei o que está acontecendo. Vamos todos juntos lá falar com ele e descobrir? -
 Todos concordaram, era a vontade daquela garotada.

Os garotos estavam receosos, mas eram meninos corajosos, então caminharam lentamente ao encontro do mago, que estava a uns 93 metros de distância deles, sentado sob uma árvore idosa, de troncos largos, e preenchida de folhas. Era uma castanheira. O mago estava daquela mesma forma, olhando para o livro, distante da terra.

Quando os meninos estavam já a uns 12 metros de distância, uma castanha gorda caiu exatamente em cima da cabeça do mago, e então ele gritou: "aííííí!!!" Na mesma hora, notou que os meninos se aproximavam.

- Sabia que essa castanha não tinha me acertado à toa, hehe... - Riu o mago. - Ela veio me dizer que a chegada de vocês foi elaborada pelas estrelas, e, portanto, devo permanecer alerta para não perder o propósito delas.


Alguns meninos ficaram confusos, mas o mago notou que outros haviam entendido.

- Vamos! Venham cá - chamou o mago, convidando com um aceno de mãos. - Sentem-se aqui perto de mim. Como vocês sabem, não precisam temer um mago, pois ele ama todas as formas de vida da natureza.


Então os meninos se aproximaram, e se reuniram sentados na grama, formando um círculo junto com ao mago.

 - Então... - Prosseguiu o mago. - O que os traz a mim?

- Mago, estamos curiosos e preocupados - disse uma garotinha do grupo, que estava sentada ao lado oposto do mago no círculo, de frente a ele. O mago apurou os ouvidos, redobrando a atenção. - Você anda tão distante, e por tanto tempo, que estamos com medo que você nunca mais volte, e que nunca mais brinque conosco e nos conte historinhas.


Enquanto dizia suas últimas palavras, seu rostinho foi corando e as sobrancelhas se curvando em um aspecto triste - ó_ò.

- Ôh, minha amiguinha... Venha cá - chamou o mago em tom amigável, e abrindo os braços, convidando-a a se sentar a seu lado. O peito do mago se aqueceu de compaixão. - Eu vou contar historinhas a você sempre que você precisar, eu prometo!

A menininha deu um sorriso confortante, abraçando o mago em sinal de gratidão. O mago se derreteu, e uma lágrima morna escorreu pelo seu rosto.

     
Um dos meninos apontou para o mago e disse: - olha gente, o mago está chorando!! - E todo mundo caiu na gargalhada, inclusive o mago e a menina.

- Sou tão criança quanto vocês - afirmou o mago, ainda rindo. - A única diferença é que eu ando descalço - e novamente todo mundo tornou a rir.


- Mago, você está de volta! - Disse um dos garotos, apontando para ele, contente.

- Eu nunca fui embora bobinho -  disse o mago, sorrindo e fechando os olhos em par com o sorriso.


- Então porque você estava tão longe, e nem falava mais conosco?

- Ahh, sim... - Deixou escapar o mago, levantando um dedo em sinal de atenção. - Eu estava fazendo um feitiço... - Apontou para o livro.

A garotada arregalou os olhos de curiosidade, avançando em cima do mago para ver o que havia no livro. O mago abraçou o livro com força, e começou a rir.

- Calma, calma - disse o mago, limpando as lágrimas de riso com as mãos. - Eu vou mostrar a vocês. Tome - disse ele entregando o livro nas mãos de um dos meninos. - Mostre a seus coleguinhas.

Eles abriram o livro apressadamente, e, na mesma hora, tiveram uma grande decepção. Não havia nada escrito em grande parte do livro, eram apenas folhas em branco. Em algumas folhas, havia desenhinhos infantis, ou algumas palavras escritas de forma avulsa; como: amor, carinho, paz, amigos, brincadeiras...
 Em algumas páginas, havia desenhos de um monte de gente de mãos dadas, estrelas, e gente cantando. Desenhos em bonecos de palito. Parecia que era um menino de cinco anos que os havia desenhado. Os garotos ficaram extremamente decepcionados.
     

- Mas mago, que feitiço é esse? - Perguntou um dos garotos. - Eu não vejo nada, só algumas palavras e uns desenhos infantis.

- Oh ho ho... - O mago deu um riso estranho. - Meu amiguinho, esse é o feitiço mais poderoso que já conheci! - Disse ele orgulhoso. - Eu o chamo de "Construindo a Minha Realidade".


- Porque? - Perguntou de novo o menino. - Porque você constrói a realidade de sua vida com ele? É isso? - O mago confirmou com a cabeça, e então o menino continuou: - eu não vejo como, só vejo rabiscos e folhas de papel em branco.


- Hum... - Pensou o mago por um instante. - É porque não importa o que está no papel, e sim os pensamentos que estou criando e enviando com eles.

Os meninos trocaram olhares confusos.

- Por exemplo - continuou o mago -, se eu quero minha vida cheia de amor, eu começo a pensar no amor e a imaginá-lo, criando situações onde ele esteja presente, e ai eu escrevo. O universo recebe minha mensagem-magia, e envia a resposta do meu pedido no tempo.

Os meninos começaram a olhar para ele muito interessados. Vendo isso, o mago prosseguiu:

- Veja, tenho este castelo rodeado de pessoas porque usei este feitiço por um longo tempo, e as peças para construí-lo começaram a aparecer nesse decorrer. Eu não tive esforço nenhum, ah não ser o esforço de mover minhas energias para realizar este feitiço; mas eu estava gostando, estava me divertindo, estava brincando. Se eu não tivesse usado esse feitiço para construí-lo, ele não teria como se materializar e se tornar real.

- Hoje - continuou o mago -, que adquiri plena confiança no feitiço, eu apenas faço desenhinhos ou escrevo as palavras, porque o que vale é o meu pensamento. O papel é apenas o que me ajuda a criá-los e a torná-los forte. Criando eles, pela minha experiência, eu já tenho confiança plena de que eles irão se materializar.

- Quando eu estava me iniciando no mundo da magia - continuou ele -, eu não tinha essa confiança. Então eu duvidava. Com a dúvida, o pensamento não conseguia ser enviado e captado pelo mundo da magia, e assim ele nunca se materializava. Então, o que eu fazia? Eu escrevia longas histórias no papel, para que pudesse criar pensamentos fortes, que atravessassem a barreira da dúvida e conseguissem chegar ao mundo da magia e serem materializados no tempo.

- Hoje - continuou ele -, não existe mais a dúvida, então basta eu simplesmente enviá-los. Às vezes, eu fico só observando o que escrevi, pois é como se eu tivesse mentalmente enviando os pensamentos mais uma vez, e assim apressando sua chegada no tempo.

- Que legal mago! - Disse a criançada animada. - Então podemos criar e ter qualquer coisa que quisermos?

- Sim, meus queridos - confirmou o mago, contente que eles estavam entendendo. - Mas tenham cuidado com o que pedem. Só peçam se tiverem certeza de que é isso mesmo que vocês querem, pois há uma grande possibilidade de que os pedidos realmente aconteçam. Quando ganha maestria, é certo. Vocês podem acabar criando o caos, pois é um feitiço muito poderoso. Imagine se alguém pede para ser rico, poderoso, e se esquece de pedir boas pessoas com quem compartilhar? Ele terá tudo o que quer e estará no inferno, sozinho, sem amor, sem ninguém... - Os meninos fizeram uma cara de reflexão. Eles não tinham pensado nisso. - Acontece com muita gente. Eles oram pedindo coisas, e quando acontece, percebem que criaram o seu próprio inferno.

Os meninos se assustaram.

- Mas não se assustem - disse o mago, numa tentativa de melhorar o que havia dito. - Se vocês seguirem os pedidos de seus corações, não haverá erro, terão criado um paraíso. Por isso é bom meditar, ver o que não querem, e ouvirem bem o coração antes de começarem a criar sua realidade.


- Devo alertá-los de que no começo é comum a presença de muita dúvida - prosseguiu o mago. - Foi assim comigo antes de ganhar maestria nesse feitiço. Para serem magos e dominarem esta técnica, vocês terão que atravessar a barreira da dúvida. Eu consegui, e todos os que se tornaram magos também conseguiram. Ninguém nasce um mago, são vocês que se tornam um buscando esse caminho. Se todos nós conseguimos vencer o mundo da dúvida, vocês também podem vencer! E então terão tudo o que desejarem, e terão sem demora. 


- E o mais legal é depois dos feitiços prontos... - Concluiu o mago. - Agora é só segurar na onda e esperar ela chegar.


~* Palavras que saem da Boca