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quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Guardião do Caminho

O Guardião do Caminho


     Ele fora convidado para uma missão basicamente impossível. Estavam todos correndo, queriam chegar do outro lado da terra o mais rápido que pudessem. Mas para chegarem lá, teriam que entrar naquela escada de emergência e subir aquele prédio de infinitos andares, onde habitava um gigante enorme que queria impedir todo mundo de chegar lá, usando um bastão como arma. Só chegaria quem fosse corajoso o suficiente, pois o gigante mediria o nível da sua disposição em se arriscar pela jornada.
     Havia dois lados na terra: o lado obscuro, que era lá em baixo, onde se encontravam, e o lado iluminado, que era depois de escalado o prédio. O lado obscuro era onde viviam a princípio - antes da escalada -; não tinha o céu, não tinham as nuvens, não tinha paisagem; só tinha as quatro paredes. Era como se estivessem vivendo dentro de uma rocha. Era como um subsolo, ou uma mina profunda; onde você não enxergava o céu e nem o horizonte. 
     O que havia no topo do prédio, ninguém sabia. Assim que você entrasse naquela escada de emergência, você era transportado para a região aberta, onde tinha o céu, as nuvens, e o gigante. Era como um portal. Você nascia e vivia no subsolo, sem saber da existência do céu, do horizonte, e das nuvens. Mas, atravessando aquele portal, você chegava em uma região aberta, tendo seu primeiro contato com o céu. Você dava de cara com um prédio que se escalava pelos seus arredores, como se você o escalasse pelas varandas, circundando-o.
     Você subia a escada de emergência, e tinha que arrodear o prédio até encontrar a próxima escada para continuar subindo. Nesse arrodear, era onde muitas pessoas ficavam atrás, porque o gigante, que devia ter milhares de metros de altura, ficava dando porradas no prédio, destruindo-o e tentando atingir as pessoas. O gigante era tão enorme, que você não o via, você só via aquele bastão surgindo dos céus, e descendo em direção ao solo firme. Quando se via o bastão vindo, era desesperador, porque ele vinha descendo de tão longe, que demorava alguns segundos para atingir a base, e você o via se aproximando, e se aproximando, e era quando se via alguém apontando para o céu e gritando bem alto: “O Bastão está vindo! Corram!”. E na mesma hora, aquela confusão de gente fugindo para todos os lados, uma gritaria e uma correria sem fim.
     Quando você conseguia arrodear e finalmente encontrar uma nova escada de emergência, você ganhava alguns minutos de descanso, pois se teletransportava para um lugar seguro, e lá o gigante não estava presente. Lá você podia se alimentar, reunir suprimentos, e seguir em frente.
     Para continuar subindo, você teria que subir novamente a escada de emergência, que dava para as partes abertas, arrodear encarando o gigante, e encontrar outra escada de emergência que levaria a um lugar ainda mais alto.
     A cada andar que você subisse, você encontrava menos gente. Só os realmente corajosos e aventureiros chegavam nos andares superiores. Quanto mais alto chegava, mais visível ao gigante você se tornava, então você teria que encará-lo cada vez mais de perto, e cada vez mais sozinho. O gigante era o desafio.
     O que tinha no topo do prédio ninguém sabia, pois só quem chegava lá poderia saber; e, uma vez lá, ninguém voltava ao subsolo para contar. Então você só poderia saber mesmo se chegasse lá.
     Ele - e talvez outros também - escutava uma voz que o chamava sem parar: “Venha rápido, venha rápido! Vamos logo chegar lá em cima e acabar com essa luta de uma vez por todas”.



~* Palavras que saem da Boca