Ele fora convidado para uma missão
basicamente impossível. Estavam todos correndo, queriam chegar do outro lado da
terra o mais rápido que pudessem. Mas para chegarem lá, teriam que entrar naquela escada de emergência e subir
aquele prédio de infinitos andares, onde habitava um gigante enorme que queria
impedir todo mundo de chegar lá, usando um bastão como arma. Só chegaria quem fosse corajoso o suficiente, pois o gigante mediria o nível da sua disposição em se arriscar pela jornada.
Havia dois lados na terra: o lado obscuro,
que era lá em baixo, onde se encontravam, e o lado iluminado, que era depois de
escalado o prédio. O lado obscuro era onde viviam a princípio - antes da escalada -; não tinha o céu, não tinham as
nuvens, não tinha paisagem; só tinha as quatro paredes. Era como se estivessem vivendo
dentro de uma rocha. Era como um subsolo, ou uma mina profunda; onde você não enxergava o céu e nem o horizonte.
O que havia no topo do prédio, ninguém sabia. Assim que você entrasse naquela escada de
emergência, você era transportado para a região aberta, onde tinha o céu, as nuvens, e o
gigante. Era como um portal. Você nascia e vivia no subsolo, sem saber da
existência do céu, do horizonte, e das nuvens. Mas, atravessando aquele portal,
você chegava em uma região aberta, tendo seu primeiro contato com o céu. Você dava de cara com um prédio que se escalava pelos seus arredores, como se você o escalasse pelas varandas, circundando-o.
Você subia a escada de emergência, e tinha
que arrodear o prédio até encontrar a próxima escada para continuar subindo.
Nesse arrodear, era onde muitas pessoas ficavam atrás, porque o gigante, que devia
ter milhares de metros de altura, ficava dando porradas no prédio, destruindo-o
e tentando atingir as pessoas. O gigante era tão enorme, que você não o via,
você só via aquele bastão surgindo dos céus, e descendo em direção ao solo
firme. Quando se via o bastão vindo, era desesperador, porque ele vinha
descendo de tão longe, que demorava alguns segundos para atingir a base,
e você o via se aproximando, e se aproximando, e era quando se via alguém
apontando para o céu e gritando bem alto: “O Bastão está vindo! Corram!”. E na
mesma hora, aquela confusão de gente fugindo para todos os lados, uma
gritaria e uma correria sem fim.
Quando você conseguia arrodear e finalmente
encontrar uma nova escada de emergência, você ganhava alguns minutos de descanso, pois se teletransportava para um
lugar seguro, e lá o gigante não estava presente. Lá você podia se alimentar,
reunir suprimentos, e seguir em frente.
Para continuar subindo, você teria que
subir novamente a escada de emergência, que dava para as partes abertas,
arrodear encarando o gigante, e encontrar outra escada de emergência que
levaria a um lugar ainda mais alto.
A cada andar que você subisse, você
encontrava menos gente. Só os realmente corajosos e aventureiros chegavam nos
andares superiores. Quanto mais alto chegava, mais visível ao gigante você se tornava, então você teria que encará-lo cada vez mais de perto, e cada vez mais sozinho. O gigante era o desafio.
O que tinha no topo do prédio ninguém
sabia, pois só quem chegava lá poderia saber; e, uma vez lá, ninguém voltava ao subsolo para contar. Então você só poderia saber mesmo se chegasse lá.
Ele - e talvez outros também - escutava uma
voz que o chamava sem parar: “Venha rápido, venha rápido! Vamos logo chegar lá em cima e acabar com essa luta de uma vez por todas”.
~* Palavras que saem da Boca