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terça-feira, 4 de junho de 2013

O Mundo que os olhos não podem ver

     O Mundo que os olhos não podem ver



     Ele se entristecera, não queria mais ficar ali, ninguém entenderia o seu silêncio descomunal. Ele olhava para as pessoas, e não conseguia associar as palavras com as ideias. Elas falavam com ele, e tudo que ele queria fazer era fechar os olhos. Não tinha ninguém no corpo dele prestando atenção. As palavras estavam simplesmente passando uma por uma, e ele não estava ali para associar as ideias. "Não caia aí - diziam a ele - volte para cá", mas ele não parecia escutar a ninguém. Ele estava simplesmente mergulhando naquela corrente que o puxava para dentro.
     As pessoas o diziam: 
"eu prefiro você sorrindo; você está muito sério; fique aqui conosco". Só que eles não estavam cientes de que o menino possuía um mundo gigantesco dentro dele, e as pessoas que só viam a pele, não podiam compreender quando o menino que eles conheciam, repentinamente, parecia não estar mais presente. Quando não havia mais nenhuma expressão dele restando no corpo, apenas a sua respiração.
     Mas isso não quer dizer que o menino estava morto, ou sofrendo, ou com problemas. Talvez com um pouco de dor, ou confusão, mas nada além disso. E também não quer dizer que ele precisava de ajuda, de conselhos, de terapia, de psicólogo; não, não, nada disso. Aquilo poderia ser justamente a sua cura, a sua saúde.
     Vou explicar. É que as vezes, aquele mundo que não é visto com os olhos, o convidava a fazer uma visita, então ele inocentemente entrava. Era um puxão para dentro, um chamado, um convite ao descanso. É como se toda a sua energia se tornasse introspectiva, passando a circular por dentro, preenchendo seu corpo, curando suas feridas, e clareando os seus caminhos.
     As pessoas que aprendiam a ter medo quando perdiam o controle da situação, não podiam compreender porque alguém vivia apenas seguindo o instinto, não querendo modificar o destino que lhe aparecia. No caso desse garoto, era exatamente assim.
     Se era queda, ele caia. Se era sol, ele se iluminava. Se era chuva, ele se molhava. Se era sorte, ele agradecia. Se era azar, ele sofria. Se era pra fora, ele jogava. Se era pra dentro, ele entrava. Se era amor, ele cantava. Se era dor, ele chorava. Se era alegria, ele pulava. Se era tristeza, ele abraçava. Se era para todos, ele compartilhava. Se era solidão, ele encarava. Se era dúvida, ele questionava. Se era confusão, ele esperava. Se era raiva, ele gritava. Se era certeza, ele declarava. Se ele gostasse, ele curtia. Se não gostasse, ele fugia. Se era vida, ele vivia. Se era morte, ele morria. Mas era sempre luz.
    Sendo assim, ele só seguia, não era ele quem estava fazendo nada daquilo. Isso pode ser um pouquinho difícil de entender, mas só enquanto você ainda não tem o próprio mundo crescido em você.




~* Palavras que saem da Boca