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sábado, 29 de junho de 2013

A Surdez da Intuição


      A Surdez da Intuição




As vezes parece que fiquei surdo, porque não escuto mais as palavras, ou apenas não consigo captar o que elas estão querendo dizer. Parece que não confio mais em palavras. As pessoas me dizem várias delas e, no fim, nada me foi dito, eu não absorvi nenhuma. Como se as palavras não quisessem dizer coisa alguma.

Não acredito no que escuto, só no que sinto. Se eu sentir que você não me ama, e você insistir em dizer que me ama, até repete isso 100 vezes; ainda assim, para mim, você não me ama. Se eu sentir que você me ama, você pode repetir 200 vezes para mim que não me ama, eu vou continuar acreditando que você me ama.

Outro exemplo: eu estou triste, e alego estar assim porque você não quer ficar ao meu lado. Então você me diz que quer sim ficar ao meu lado, e como se não bastasse, você ainda passa três dias seguidos ao meu lado. Eu continuo triste e alegando que estou assim porque você não quer estar ao meu lado.
Enfim, eu não escuto a mais ninguém. Como se o mecanismo que escutasse as pessoas tivesse dado defeito e não funcionasse mais.

Será isso realmente um defeito? Ou será que ao invés de ter quebrado um mecanismo, foi outro mecanismo que passou a funcionar e prevalecer? Algo como uma intuição? Uma voz interior? Eu consigo discorrer sobre prós e contras de ser assim. Bom... Vamos lá:

- Ninguém pode me ajudar, porque eu não escuto ninguém. Por outro lado, ninguém pode me fazer desviar, porque eu também não escuto a ninguém.

- Talvez eu esteja sempre confuso, porque as pessoas me dizem uma coisa e eu sinto outra diferente. Mas talvez por ser assim, eu não possa ser iludido ou enganado.

- Talvez eu sinta uma coisa e a realidade aponte que ela não existe. Então eu posso sentir que estou louco. Mas talvez a intuição trabalhe no tempo, e talvez ela me mostre coisas que não estejam presentes no atual momento, mas que a existência daquilo em mim me encaminhe naquela direção. Como se chegasse antes em mim, do que na realidade de meu agora.

- Eu nunca tenho certeza absoluta das coisas, porque o mundo diz uma e meu coração diz outra. Mas como a voz do coração não silencia com a voz do mundo - e a recíproca é verdadeira -, eu acabo tropeçando o tempo todo na confusão, mas acabo caminhando na direção certa.

- Não consigo me comunicar claramente com as pessoas, porque eu não escuto o que elas dizem e elas não compreendem o que eu digo. Geralmente falo de coisas que elas não enxergam. Mas a comunicação social nos leva a ouvir muitas vozes distintas, que apontam para caminhos distintos; e, por não conseguir me comunicar perfeitamente, eu acabo tendo apenas um caminho a seguir, escapando assim de infinitas armadilhas e buracos.

- A voz do coração (a intuição) não tem lógica nenhuma e foge completamente ao padrão de como o mundo diz que as coisas são. O mundo pode dizer que amar se faz com carinho e mansidão, e o coração pode se ver gritando e querendo distância. Mas o mundo age a partir de experiências passadas, e talvez o que passou não seja o que o mundo atualmente precise.

A intuição vem da natureza, e a natureza é o presente e não o passado. O presente pode estar sempre mudando suas necessidades. Assim como o peixe se tornou um anfíbio e passou a respirar fora do mar, o presente pode estar se adaptando e se modificando à novas condições.

- As vezes posso me sentir sozinho, porque ninguém me entende e não vê nada daquilo do que digo, pois só eu vejo. Mas a intuição tem profunda conexão com a natureza, e a natureza sabe de tudo que a gente necessita para não cairmos em falso. Se minha intuição diz que estou caminhando para o amor, e meus olhos no presente apenas veem as pessoas se afastando de mim; ela sabe o que a mente pode pensar, e sabe que ela pode cair em dúvida e em desistência. Então ela trabalha para que isso não aconteça.

Ela pode me levar a vários lugares onde eu encontre pistas que, para minha mente, tenha significado com aquele caminho que a intuição está me levando. Por exemplo: posso caminhar pela estrada da vida e enxergar corações por todos os lugares por onde passar, e ela faz de tal forma que seja convicto a mim de que é ela quem está me mostrando. Por exemplo: ela me leva até um galpão, ou a um porão, onde eu imaginava estar apenas caminhando e sem rumo. Quando chego no galpão, me deparo com um coração desenhado na parede, que brilha no escuro, e que possui meu nome escrito em baixo. Como ela o fez, ou o que ela usou para fazer, é um mistério.

Outro exemplo é: a intuição está me levando para um caminho de alegria, e para isso ela precisa mover peças... Eu posso me ver cada vez mais sozinho - porque ela pode estar me retirando daqui, para me colocar ali -, e ela sabe que assim eu posso me enganar e cair no buraco da dúvida. Então ela desenha em meu caminho diversas pistas que minha mente compreenda o significado, que simboliza o meu caminho, neste caso, a alegria. E ela faz da mesma forma; de uma forma que me faça entender que é a natureza quem está agindo e me comunicando.


Será que eu deveria acreditar que eu tenho problemas e me esforçar para resolvê-lo, a fim de poder me comunicar por inteiro? Ou eu deveria continuar ouvindo somente a intuição, e tendo dificuldades em manter clara comunicação?


A resposta parece um pouco óbvia, não é mesmo?


~* Palavras que saem da Boca *~