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sábado, 15 de junho de 2013

Dia-Noite-Confusão-Investigação-Compreensão

.Dia<Noite<Confusão<Investigação<Compreensão.




     Em instantes sou belo, amoroso, confiante, com pensamentos agradáveis, criativo... e a essa fase é que chamo de dia. É a fase em que a nossa luz está brilhando, em que a energia dela está sendo lançada para fora. 
     Logo que ela é usufruída, vem aquela fase a que chamo de noite. Introspecção, pensamentos confusos. Parece que está havendo um rearranjamento dos pensamentos, e parece também que nada daquilo que passou sendo eu - ou seja, o dia -, era real, era de fato eu. Eu tento tocar naquilo que está na memória, mas parece que nada daquilo nunca verdadeiramente existiu. E eu tento tocá-lo na intenção de trazê-lo de volta, porque tenho guardado na memória como aquele momento estava sendo gostoso de ser vivido. Se era bom vivê-lo, porque então ele não continua ali?
     Com a continuidade da experiência, a gente vai aprendendo a ficar um pouco mais tranquilo a esse processo, pois a gente percebe que da mesma forma que o dia veio, ele está sempre voltando. E sempre quando ele volta, é como se ele fosse novo novamente, como se fosse a primeira vez que ele estivesse existindo ali, como se fosse a primeira vez que ele estivesse sendo vivido - assim ocorre também com a noite. Isso dá intensidade para ambos.
     Mas a noite é um pouquinho mais difícil de se lidar, pois ela faz tudo parecer uma ilusão. Ela pesa um pouco no corpo, e você se sente um pouco distante do mundo, e até das pessoas ao seu redor. Isto pode gerar um pouco de confusão. É como se você estivesse sendo transportado para uma ilha isolada, ou como se tivesse alguma coisa puxando você para um certo tipo de solidão. Algo que é somente seu, um lugar que só você está enxergando. Se você olhar até para seu próprio corpo, você também sentirá uma certa distancia dele mesmo.
     Quando a gente descreve para nós mesmos o que sentimos - e eu faço isso escrevendo -, as coisas começam a parecer mais claras. Mesmo se você estiver confuso, quando você começa a tentar descrever a confusão - olhando diretamente para ela enquanto tira as palavras -, é incrível... Parece que acontece alguma mágica! Mesmo sem ter total entendimento daquilo, mesmo sem conseguir descrever exatamente como aquilo é, da para sentir algo como uma claridade naquilo. Como se tivesse uma luz sendo acendida no meio do escuro. Você ainda está confuso, mas depois da tentativa de descrevê-la - olhando para ela diretamente -, parece que, emaranhado a essa confusão, há uma nova compreensão. Uma compreensão que não sabe dizer exatamente o que compreendeu. É apenas uma compreensão sem associação.
     É como se antes você estivesse confuso, mas depois da tentativa de descrição, agora você está confuso, mas não totalmente. Dizendo de outra forma, antes você apenas estava confuso, era parte dela, sem ter total consciência de seu estado ou do que estava acontecendo. Mas após a investigação, você sabe que está confuso, mas agora existe algo ciente de que está confuso. Esse algo não está confuso. Ele sabe que a confusão está presente - porque está olhando para ela - e devido a isso deixou de estar confuso.
     Sabe quando estamos no meio de uma multidão agitada? Em épocas de festivais ou de carnavais? A gente está ali, no meio do bolo, e acontece uma briga ou alguma confusão, e começa um empurra empurra. Como estamos ali no meio do bolo, de começo a gente não sabe de onde está vindo o foco da confusão, e olhamos para os lados perdidos à procura, pois todos a nossa volta estão fazendo o mesmo, e ninguém sabe se é briga ou o que é. É exatamente nesse lugar que nos encontramos antes da investigação: olhando para os lados e não entendendo nada.
     Quando a gente investiga nosso estado confuso, e podemos fazer isso olhando diretamente para ele e tentando descrevê-lo, é como se - no meio da multidão - subisse um cilindro que nos elevasse a 100 metros de altura. Como uma torre. Agora você está lá no alto. Você continua na confusão - porque ela está ao seu redor -, mas agora você observa tudo o que está acontecendo nela, sem que ela possa te tocar. Você adquiriu um ponto de vista mais amplo, e de certa forma separado da confusão.
     Quanto mais você tenta se transportar para esse outro ponto de vista, ele ganha cada vez mais vida. Ele começa a vir tão naturalmente a você, que você passa a não precisar mais buscá-lo. Então ele se torna o seu ponto de vista natural, um ponto de vista mais amplo. E, mesmo que você sinta, por alguma razão, que o está perdendo; ele tem ganhado tanta vida com a sua investigação, que qualquer olhadinha a procura dele você já o encontrará, fácil-mente, nova-mente. Porque é como se agora ele nunca tivesse saído dali. Na verdade, é como se ele não pudesse verdadeiramente sair. Como se a própria olhadinha, fosse somente ele piscando os olhos e lubrificando a vista.
     É isto que os magos chamam de compreensão, de entendimento. E esse novo ponto de vista trás consigo uma nova compreensão de como as coisas verdadeiramente são. Algo que antes dele, você não percebia. E isso muda completamente a vida de um cidadão, porque é a porta para um mundo totalmente novo e vivo. O mundo dos magos. O mundo da magia. O mundo do espírito.


~* Palavras que saem da Boca