!

!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A Confissão do Mago


     Toc... toc... toc... - Estavam batendo em sua porta.
     - Óh, não! - Exclamou o mago, se sentindo perdido. - Ele disse que ia chegar às três horas. Ainda faltam duas!
     Toc... toc... toc... - Bateram de novo.

     O aposento do mago estava uma bagunça; livros de feitiços abertos, e todos os ingredientes de sua poção espalhados pela mesa. Ele tentou arrumar tudo rapidamente - toc... toc... toc... -, mas então olhou para o caldeirão. Ele já estava esquentando, ele não poderia interromper agora, ainda faltava uma hora para ficar pronto. Iria perder toda a poção.

     Toc... toc... toc...
     - Ei, Johnantam, você tá aí? - Perguntou uma voz do outro lado da porta.
     - Só um minuto! - Gritou o mago.
     - Tá tudo bem? - Aquela voz masculina perguntou mais uma vez.
     - Sim, sim... - Respondeu o mago, meio desajeitado. - Só um minuto...

     Ele colocou as mãos apoiadas na cintura, olhando pro caldeirão fervendo, sem saber o que fazer. O que ele iria fazer? Não teria como ele esconder o caldeirão. Não teria como cobrir também, o fogo queimaria qualquer pano. E ainda tinha os livros. Não tinha jeito, o rapaz não poderia entrar.
     O mago foi então à porta e abriu uma mínima fresta, colocando um pedacinho do rosto por entre ela.

     - Chegou cedo?! - Perguntou o mago, com um sorriso sem graça, ao olhar para o rapaz.
     - O que você tá fazendo? - Perguntou o rapaz, curioso. - Abra a porta, me deixe entrar.
     - Sabe o que é... - O mago não era bom com mentiras. - É que... Não dá, sabe? Não dá.
     - Por que não? - Perguntou o rapaz com uma cara desconfiada.
     - É que, eu to ocupado...
     - Ah, para com isso - resmungou o rapaz, meio risonho, empurrando a porta com o mago adentro.

     Quando entrou, deu de cara com aquela bagunça. Alguns pentagramas espalhados pela mesa, frascos, uns três livros abertos, e o caldeirão, fervendo... Chamando muita atenção.
     O rapaz tomou um susto.

     - Você é um bruxo?! - Bradou ele, assustado.
     - Calma, não é o que você tá pensando - disse apreensivamente o mago, com um gesto de palma de mãos, pedindo calma.
     - Saia de perto de mim! - Bradou novamente o rapaz, quando o mago tentou dar uma passo na direção dele.
     - Calma... - Pediu novamente o mago.
     - Se afaste! - Bradou o rapaz.
     - Tudo bem... - Respondeu o mago, dando um passo para trás. - To me afastando... Olha... Está tudo bem, calma...

     O rapaz não sabia o que fazer. Um bruxo? Ele deveria ser perigoso, maligno, estava enganando-o. Queria enfeitiçá-lo.

     - O que você quer de mim? - Bradou o rapaz. - Vamos, diga logo. Você quer minha cabeça? Quer me matar? Me enfeitiçar?
     - O quê?!?! - Retrucou o mago, pasmo. - Não, nada disso... Eu não quero nada... Sou seu amigo.
     - Amigo?! - Bradou o rapaz. - Amigo uma óva! Você é um bruxo, um bruxo não é amigo.
     - Ah, quer saber? - Respondeu o mago, decidido. - Estou cansado disso, estou cansado de me esconder. Sim, sou um bruxo. E sou dos bons...

     - Então, o que você quer de mim? - Perguntou o rapaz, sem paciência. - Vamos, diga logo... É minha cabeça?
     - Nada - respondeu o mago -, pare com isso. Já disse, não quero nada. Sou seu amigo. Sou um bruxo, isso não quer dizer que eu tenha que querer algo de você. Eu não sou mal, nem todo bruxo é mal. Estou cansado desse tipo de julgamento. De ter que me esconder por causa disso.
     - Então o que você faz? - Perguntou o rapaz, ainda um pouco desconfiado. Um bruxo poderia estar mentindo. Ora, era um bruxo.
     - Magia, ora - respondeu o mago. - E a magia do bem.
     - Como assim? - Perguntou o rapaz, sem entender.

     - Um mago faz feitiços. Ele cria coisas através da magia. Ele transforma as ondas do mundo mágico, em coisas, em objetos, em matéria. Ele dá forma às ondas mágicas, que são ondas que não possuem forma original; são sem forma. E através da forma que ele dá, ele pode transmitir aquela onda pela forma. Então ele pode criar algo que leve a onda adiante, que transmita a onda pela matéria.
     - Um mago bom é aquele que foi concedido por ondas boas, ondas do bem. É um mago que tem bom coração, um mago de amor. Ele recebe as ondas do mundo da magia, e dá formas a elas através de seu poder pessoal. Alguns criam objetos, outros magias sonoras, e outros magias visuais. É uma forma de transmitir a onda. É uma forma de levar a onda através do mundo físico.

     O rapaz achou aquilo interessante, e, como sempre, ele estava sentindo aquela coisa positiva que sentia ao ouvir o mago falar e que o fazia sentir-se tão bem. A voz e presença do mago, quando estava falando, tocava o coração. Ele não podia ser ruim, não podia...

     - E qual o propósito disso? - Perguntou o rapaz.
     - Um mago pode mudar o mundo e as pessoas através de seu feitiço - contou o mago. - Ele pode trazer as ondas do mundo mágico, dar formas a elas nesse plano físico, e então trazer aquela onda para esse plano. Ou seja, ele pode trazer a magia à realidade. Ele pode transformar o mundo físico num mundo mágico. Ele pode inundar o mundo com a magia. O mago bom pode trazer a bondade ao mundo através de sua magia, através de suas criações. Um mago de amor pode trazer o amor ao mundo.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
.