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sábado, 19 de abril de 2014

Entrando no Mundo da Magia - 1* O Castelo das Sombras


Contaram para o garoto que havia inúmeras formas de ingressar no mundo da magia, muitos caminhos diferentes. Mas que havia uma porta, conhecida pela redondeza, e era entrar no Castelo das Sombras.

Contava-se que, uma vez lá dentro, só haveria duas possibilidades: nunca mais voltar, ou regressar ao mundo da magia. Então, todos que entraram lá, nunca mais foram vistos. Não se soube o que aconteceu com eles. Não havia como saber se era verdadeira a história ou não. Não havia provas.

O garoto era muito interessado em magia, e já procurava isso há algum tempo; mas não via como era possível, não encontrava caminhos. Como isso apareceu sem aviso, o garoto acreditou ser o destino. Então, decidiu entrar e arriscar. Verificar por ele mesmo. Uma aventura.

Os informantes desenharam um mapa para o garoto, indicando onde ficava o castelo: entrava no caminho das montanhas, quebrava logo após a segunda delas, atravessava duas pontes, e lá estaria o castelo.

Então lá se foi o garoto, atrás de seu tesouro.

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Seguiu o caminho indicado e, logo na segunda ponte, o solo começava a escurecer... Devagarinho... Até adquirir um aspecto totalmente morto. Um silêncio de morte pairava naquele local.

O garoto se aproximou do portão, que ficava logo depois da ponte, e o abriu: "nhééémm..." - Naquele silêncio, o ranger do portão era aterrorizante. Nada se movia ali, um silencio absurdo.

Ele começou a caminhar pelo jardim - que não tinha flores, só árvores sem folhas -, sentindo um medo invadindo seu peito, e pensamentos vagando em sua mente lhe dizendo para voltar. Ele tinha duas opções: continuar e enfrentar, ou voltar e parecer um covarde. Ele não ia voltar. Já estava ali, já tinha decidido... Ia ser a cobaia de si mesmo. Se fosse real, seria um mago, se não fosse, correria o risco.
     
Andou lentamente até a porta... Era tão silencioso o lugar, que a impressão que ele tinha era a de que, se desse passos bruscos, iria acordar o castelo, ou algum mostro que morava por ali... Então ele caminhou bem devagar, se cagando de medo.

Quando alcançou a porta, foi tentar abri-la, mas não encontrou a tranca. Não tinha tranca. Como assim? Como ele iria entrar? Era uma taboa de metal, do tamanho de uma porta de duas aberturas.

Ele tentou empurrá-la, mas não deu em nada. A porta não se movia. Então ele bateu na porta com seu anel de prata:

Tec... tec... tec... - Sem resposta. - Tec... tec... tec... tec... - Nada.

Ele parou por um segundo, pensando... "O que farei? Apesar de não terem visto ninguém voltar, já foram vistos alguns entrando. Se eles conseguiram, então eu também posso. Mas como fazer? Hum... É magia... Castelo mágico... Recitar algumas palavras mágicas?"

- Alakazam!! - Nada. - Ohm!! - Nada. - Abrakadabra!! - Nada.

Ele tentou inventar algumas palavras novas, e mesmo assim, nada. A porta não se movia. Ele começou a ficar nervoso, com raiva...

"Não posso me irritar - pensou ele. - Ouvi dizer que no caminho do mago não há irritação. Então, se eu estiver irritado, certamente a porta não se abrirá."

Só que quanto mais ele pensava na raiva, mais ela aumentava. Ele tentava se controlar, mas não conseguia, então sentia raiva de si mesmo por não conseguir. Tentava não sentir raiva de si, mas sentia raiva de não estar conseguindo isso também. E assim a raiva só aumentava. Chegou uma hora que ele não resistiu; deu um chute na taboa - que doeu o pé -, e começou a bater nela com sua mochila.

Ele sentia aquela raiva intensa e estava descontando-a com sua mochila na porta. Começou a xingar também, falar uma porrada de palavrões. Ele insistiu por um tempo, mas chegou um momento que ele cansou. Parou para respirar, ofegante, disse o último "porra", e se sentou desanimado ao pé da porta.

"Tim, tim", um som de cassino ressoou da porta. O garoto olhou para porta, estranhando aquele barulho, e lá havia escrito, em azul: "Está ficando quente. Você está mais próximo agora do que antes. Mas pode ter certeza absoluta, eu dou uma boa risada a cada nova tentativa de entrar nessa jornada."

Depois que ele leu, as palavras começaram a sumir, uma por uma, como nuvens.

"O que isso significa? - Pensou ele. - Estou mais próximo agora do que antes... Eu apenas tentei dizer algumas palavras mágicas e descarreguei minha raiva... - Ele ficou refletindo por um tempo. - Mas e daí? O que eu faço agora?"

Então ele ficou pensando e pensando, mas não chegava a nenhuma conclusão. Ele não sabia o que fazer. Estava ali, sozinho, anoitecendo, sem poder voltar, e sem nem poder entrar; naquele espaço, silencioso, que parecia até um cemitério. Ele começou a sentir uma tristeza no peito.

Ele ouvira falar que no caminho do mago não existia tristeza, então, se ficasse triste, certamente a porta não se abriria. Então ele começou a cantar músicas, a dançar e a tentar ter pensamentos positivos. Não estava adiantando muito. A tristeza continuava presente como um plano de fundo. Ele poderia até se enganar, fingir que não estava triste... Mas como sabia que não entraria no castelo em hipótese nenhuma com aquele sentimento, o sentimento não podia se esconder.

Então ele começou a ficar angustiado. O que ele iria fazer? Se voltasse para a cidade, seria chamado de covarde e perderia para sempre sua reputação... Ele sentia uma impotência... Então sua angústia começou a aumentar, até se tornar uma tristeza profunda e ele se entregar por inteiro. Começou a chorar.

- Eu não sei o que fazer... - Dizia ele aos soluços. - Deus, por favor, se você existe, me ajuda...

Então o garoto permaneceu ali, durante meia hora, chorando, se lamentando, e pedindo ajuda a Deus. No meio daquela tormenta, novamente o som de cassino - "tim, tim" - ressoou da porta, surgindo as mesmas letras em azul: "Está ficando quente. Você está mais próximo agora do que antes. Mas pode ter certeza absoluta, eu dou uma boa risada a cada nova tentativa de entrar nessa jornada.", que sumiram logo que lidas.

Isso só fez piorar a situação, pois ele ainda estava triste, e tornou a se lamentar: - "você está brincando comigo? Quando perco a cabeça, você diz que estou mais perto, o que você quer que eu faça? Que tipo de brincadeira sem graça é essa?"

Depois de um longo tempo de choro e lamentações, o rapaz finalmente se cansou e respirou fundo. Ele estava exausto. Não sabia o que fazer, então simplesmente parou. Não havia nada a ser feito, toda aquela loucura houvera exaurido por completo suas energias. Nada se passava pela sua cabeça, ele estava simplesmente ali, sentindo seu cansaço. Então um novo letreiro surgiu:

"Agora está apelando. Tem certeza que vai desistir?" - E desapareceu logo que lido.

O menino estava muito cansado, e não tinha mais nenhuma ideia, não sabia mais o que fazer; então ele simplesmente obedeceu as ordens de seu corpo e adormeceu.

Quando acordou, havia um novo letreiro na porta: "Desistiu?", que não desaparecia quando que lido. O garoto ficou olhando para o letreiro. Ele já tinha tentado fazer de tudo, então ele ficou só observando o letreiro... Passou um minuto, dois, três... Dez, trinta... Cinquenta... O menino continuava só observando, não havia pensamento.

Sem aviso, a porta começou a se desfazer... Estava desaparecendo. Não dava para enxergar o que havia lá dentro, pois era tudo muito escuro. Quando a porta terminou de sumir, um tapete azulado e reluzente saiu da base do vão se desenroscando que nem rocambole, e se esticando com leveza pelo chão. Havia um poema escrito no tapete, em belas letras douradas:

Sou o desconhecido
Não sou amigo, nem inimigo
Você tem que entrar sozinho
Sem saber, como menino

Uma vez lá dentro
Não terá como voltar
A escolha é sua
É pegar, ou me largar.

O garoto leu, refletiu, e, não se sentindo nem um pouco intimidado, disse em alta voz:

- É pegadinha, não é? Depois de tudo que passei, você acha mesmo que ficarei por aqui? - Logo depois, rindo, terminou: - Poeta desconhecido, tu tens seu mundo místico. Se segura que eu tô entrando, porque o malandro aqui é risco!

Em seguida ele mergulhou decidido escuridão adentro, atravessando a porta, que na mesma hora que foi atravessada, reapareceu do nada.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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