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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Entrando no Mundo da Magia - 7* O Segredo


Eles saíram do quarto e foram caminhando de volta ao saguão de entrada. Quando chegaram lá, o homem se sentou ao pé da escada. O garoto ficou em pé, de frente a ele.

- Ajoelhe-se - ordenou o homem.

O garoto olhou para ele, estranhando aquele comportamento.

- Ajoelhe-se - ordenou o homem mais uma vez. Mesmo estranhando, o menino se ajoelhou.

- O segredo que eu tenho para lhe contar - contou o homem -, é que você deve adorar e ser leal ao seu mestre. Apenas a ele. Você deve fazer tudo o que ele mandar, pois ele sabe mais do que você.

O menino confirmou com a cabeça, escutando com atenção.

O homem gargalhou.

- Estou brincando, seu bobo - disse ele, fazendo um cafuné na cabeça do garoto. - Levante-se, por favor - o menino se levantou. - Sente-se aqui - pediu o homem, dando dois tapinhas na escada logo ao lado dele.

O menino sentou ao lado do homem.

- A verdade é que você não precisa de ninguém para te ensinar os segredos - prosseguiu o homem -, então você não deve ajoelhar, nem adorar a ninguém. Tudo o que você precisa saber, todos os segredos que precisam ser desvendados; você carrega a resposta no fundo de si mesmo, então só você tem a chave para o conhecimento. Nenhum mestre, nenhuma palavra, nenhum livro; só você. Tudo o que você precisa saber está arquivado nos arquivos de sua alma, então tudo o que é preciso fazer é mergulhar fundo nela e você compreenderá todo o mistério.

- O caminho do mago - continuou o homem -, apesar de mágico, não é um caminho fácil, principalmente no começo; e eu devo lhe alertar sobre isso. É um caminho muito solitário, porque um mago é muito mal compreendido. Alguns magos passam anos seguidos falando ao vento, sem ninguém poder compreendê-los. Então eles passam anos sozinhos.

- Um mago é alguém que aponta um caminho novo, diferente do conhecido, então a primeira coisa que acontece é um choque. Um mago é um estranho. No começo, ele desperta olhares tortos, e por isso ele é muito julgado. É um fardo que um mago tem de carregar.

- Não se preocupe se ninguém te der ouvidos. A maioria dos magos passaram anos seguidos, como disse, apenas jogando palavras ao vento. Ninguém podia entendê-los ainda. O mago é como um escavador: ele vai cavando e cavando, até tocar o coração das pessoas. Só quando o coração é tocado é que o mago é compreendido, e isso pode demorar um pouquinho de acontecer. Demora um pouco porque há muita areia cobrindo os corações, então há muito o que cavar até que se chegue neles.

- Acho que já te disse tudo o que devia lhe dizer - disse o homem, estalando os dedos duas vezes. A porta de saída do castelo se abriu. - Você já está pronto. Pode ir.

O menino olhou para a porta de saída... Ele não se sentia pronto.

- Você está enganado - disse o garoto. - Eu não me sinto pronto.

- Todos os segredos estão escondidos em você mesmo, menino - afirmou o homem, compassivamente. - Sabendo disso, você já está pronto.

- Não se preocupe em se sentir assim - disse ainda o homem, dando dois tapinhas amigáveis no ombro dele. - As coisas vão começar a clarear quando você iniciar seus próprios passos. Enquanto você estiver seguindo a mim, ou a outro, as coisas nunca ganharão clareza. Você só se ilumina quando começa a caminhar sozinho.

- Vá - ordenou o homem. - Você já está pronto.

O menino então se levantou, sacudiu as vestes na parte de trás - para remover a poeira da parte onde tinha sentado -, e então virou-se ao homem para se despedir.

O homem não estava mais ali, havia desaparecido... É, não havia mais o que ser feito. Chegou sua hora de partir.

Caminhou decido então até a porta de saída do saguão. Logo que a atravessou, a porta se fechou. Ele estava mais uma vez no jardim do Castelo das Sombras.

Ele se sentia diferente, tinha algo diferente no seu corpo, ele estava mais quente. Olhou então para seus braços e mãos, e sua pele estava mais lisa; de certa forma mais bonita. Suas unhas tinham mudado de cor, estavam negras. Tocou seus cabelos e eles haviam crescido, estavam enormes... Mudaram de cor também. Ele agora tinha cabelos brancos.

Foi então que ele sentiu uma dor nas costas. Havia algo se mexendo ali, parecia que queria sair para fora de seu corpo.

Logo depois, a dor aumentou. Ele sentiu uma pontada forte nas duas laterais das costas. Ele deu um berro, e algo escapou de vez para fora dele, rasgando suas vestes. Eram duas asas, duas asas enormes.

O garoto olhava para suas asas, admirado. Eram lindas, brancas e cintilantes, com algumas penas acinzentadas. Elas balançavam para lá e para cá ao vento, e ele tinha total controle sobre elas. Eram como dois membros, como dois braços.


Foi aí então que o menino entendeu. Era por isso que quem entrava naquele castelo, nunca mais era visto. Eles não voltavam mais os mesmos. Haviam se transformado, eram outras pessoas. Não eram mais reconhecidos.

O garoto olhou à sua volta, se sentindo poderoso. Sentia que tudo era possível, sentia que não havia limites. Ele se sentia infinito.

Sentindo aquela força dentro de si mesmo, lhe veio um insight... Ele compreendeu o mistério: os magos eram os anjos.



~ * Palavras que saíram da Boca * ~
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