Depois que atravessaram a ponte dos sapos, ele e aquele homem de manto negro tornaram a caminhar pelos corredores do castelo. Enquanto caminhavam, o homem foi contando:
- Antes de um homem decidir entrar no caminho da magia, ele é um ser da terra, e um ser da terra faz coisas dos seres da terra. Depois que o homem decide entrar no caminho da magia, ele não é um mago e nem é mais um homem da terra. Ele não é nem um nem outro, é um ser perdido de quem é. Ele se torna um ser confuso. Mas é um passo necessário, é a transição. É nesse momento que eu - o guia - apareço bastante, porque é o momento em que ele mais precisa de mim. Até que se torne um mago, eu sou a única base segura que ele terá, para saber que as coisas estão indo tudo bem.
- Antes de um homem decidir entrar no caminho da magia, ele é um ser da terra, e um ser da terra faz coisas dos seres da terra. Depois que o homem decide entrar no caminho da magia, ele não é um mago e nem é mais um homem da terra. Ele não é nem um nem outro, é um ser perdido de quem é. Ele se torna um ser confuso. Mas é um passo necessário, é a transição. É nesse momento que eu - o guia - apareço bastante, porque é o momento em que ele mais precisa de mim. Até que se torne um mago, eu sou a única base segura que ele terá, para saber que as coisas estão indo tudo bem.
- E como você aparece? - Perguntou o garoto. - Assim como está agora?
- Não... - Negou o homem. - Você é um privilegiado por poder me ver, pois conseguiu entrar no Castelo das Sombras. Então, mesmo não sendo um mago, já está em nosso mundo.
- Mas acontece bastante de meus aprendizes - continuou o homem - entrarem no caminho ainda dentro do mundo dos seres da terra. Então eu não posso aparecer assim, de forma viva, porque lá é o mundo deles. Eu apareço no mistério das coincidências, e até em algumas visões e revelações. Conheço a mente de meus aprendizes, então sei como chegar nelas usando de meu próprio mistério. As pistas que envio, são exatamente para a mente deles me perceber. Então eles me percebem, e isso reduz a confusão deles e os mantém um pouco mais seguros durante a tempestade.
- Tempestade? - Perguntou o garoto, sem entender.
- Sim, a tempestade - confirmou o homem. - É só uma força de expressão. Quando estão nesse momento de transição, meu rapaz, é difícil; muito difícil. É confuso e atormentador. É uma experiência tão louca e perdida que, acredite em mim, é até melhor ter algum membro amputado do que ter que passar por ela. Mas eu existo, e faço o possível para minimizá-la. Mas não posso minimizá-la por completo, pois é ao nível da tempestade que se faz o bom mago. O melhor mago certamente é aquele que tomou muitos raios; os raios o fizeram crescer.
A essa hora eles estavam atravessando uma brecha por entre dois corredores, que ia dar no jardim.
- Eu vou te mostrar porque é preciso de coragem neste caminho, e porque é preciso estar disposto a abandonar tudo - contou o homem. Eles tinham acabado de entrar no jardim. - Vem por aqui - chamou ele virando-se um pouco à direita.
Então eles foram se aproximando de um canto no jardim, onde haviam dois caminhos de concreto traçados sobre o solo. Em ambos os caminhos haviam estátuas de pessoas, em pontos específicos. O caminho da esquerda, era tortuoso, cheio de curvas. Em cada curva havia um grupo de estátuas. O caminho da direita, era reto. Havia uma e outra estátua pingada no percurso, e algumas no fim dela, na ponta.
O homem caminhou até a entrada do caminho tortuoso, e começou a falar:
- Esse é o caminho dos seres da terra. Eles caminham sem rumo, sem direção; então é um caminho cheio de curvas. Eles não sabem para onde estão indo, então apenas vão indo. Em cada curva, encontram pessoas, com quem eles entram em contato, e que as fazem tomarem mais curvas ainda. Então, cada contato as faz desviar para outro lado, porque surgem novas ideias, que entram na mente deles, caminhando com eles.
Então o homem começou a caminhar em direção ao caminho da direita, ainda falando:
- Quando um ser decide entrar no caminho da magia, ele passa a ser conduzido por um caminho, passa a ser guiado por alguma força - disse ele apontando para si mesmo e sorrindo, orgulhoso. - Então o caminho que era tortuoso, se torna uma reta perfeita. Ele não caminha mais em vão, ele está seguindo por uma direção.
- Você está vendo aquelas poucas estátuas pingadas nesse caminho reto? - Perguntou o homem ao garoto. O garoto confirmou com a cabeça. - São pessoas que o acaso - disse ele piscando um olho - realiza o encontro. São pessoas que também estão no caminho da magia, que também estão para se tornarem magos. O encontro deles tem algum propósito que somente eu sei. Você pode reconhecer quando foi o acaso - disse ele piscando novamente o olho - que planejou o encontro, porque ele vem com algum mistério embutido, como aqueles que falei logo anteriormente.
- Essa caminhada - continuou o homem, apontando para o caminho reto - é muito solitária como você pode ver... Esse caminho reto e extenso, sem ninguém... Mas você está vendo lá na ponta? - Disse o homem, agora apontando para aquele conjunto de estátuas logo no final. - É a recompensa. E ela é enorme, pois cada estátua daquelas representa um mago. E encontrar com um mago, hohohoho - ele deu uma gargalhada estranha -, é uma experiência que já vale para a vida inteira.
Depois de falar, o homem ficou calado, admirando os dois caminhos. O garoto ficou olhando para ele, esperando a continuação. Mas o homem ficou calado por um longo tempo...
- É só isso? - Perguntou o garoto.
- Uhum - respondeu o homem. - Simples assim.
- E quanto à coragem e a disposição de abandonar tudo?
- Ah, claro! - Exclamou o homem, com cara de bobo. - Eu esqueci, perdão. É que é o seguinte... Quando o ser da terra migra para o caminho da magia, ele começa a mudar, tanto internamente quanto externamente. Como ele caminhava e seguia pelo caminho tortuoso dos seres da terra, e agora não faz mais parte disso, ele se torna um estranho em terras estranhas. Ele sai do caminho tortuoso e passa a caminhar reto.
- Mas acontece que - prosseguiu o homem - ele continua no mesmo plano dos seres da terra, mesmo não fazendo mais parte dele. Então, mesmo estando nos mesmos lugares, o seu caminho já não é mais o mesmo. Aos poucos, isso começa a ficar evidente. Então os lugares também precisarão mudar, e é aí que entra a coragem. O caminhante da magia precisa abandonar tudo o que fazia parte de seu caminho na terra, se não ele não consegue caminhar e fica preso na tempestade. Então acontecerá de ele se sentir um estranho perto de seus antigos amigos, nos antigos lugares que frequentava, e até com seus próprios familiares...
Enfim - suspirou o homem -, ele se torna um estranho para quem ele era. Chegará um estágio em que ele se sentirá tão estranho, que terá que saltar fora, se não começará a criar problemas para si e para os outros. Começará a gerar conflitos. Se ele for corajoso e der ouvidos ao chamado; se retirará, abandonando tudo e caminhando na reta perfeita. Se ele não for corajoso; tentará se agarrar ao caminho antigo, perdendo o caminho da magia. Como você sabe, uma vez dentro do caminho da magia, não há mais volta. Então, a pessoa que não tiver coragem de abandonar, se tornará um louco, e acabará em algum hospício da terra.
- Então é preciso ter coragem, é um pré-requisito - concluiu o homem. - Quem entra no caminho sem a coragem, acaba não se tornando um mago, e acaba não podendo voltar também para o caminho da terra... Se torna um louco, alguém perdido no meio do caminho. Entrou, mas não caminhou; se perdeu.
O garoto se sentiu um pouco assustado. Mas refletiu um pouco... Ele era corajoso. Sim, ele sabia disso. Então não haveria problemas. Se tivesse que tomar alguma atitude dessas, seguir ao chamado, certamente o faria. Ora bolas, ele já tinha entrado no Castelo das Sombras sozinho, sem garantias, sem ninguém. O resto seria mamata.
- Venha comigo - disse o homem, acenando para ele o seguir.
- Não... - Negou o homem. - Você é um privilegiado por poder me ver, pois conseguiu entrar no Castelo das Sombras. Então, mesmo não sendo um mago, já está em nosso mundo.
- Mas acontece bastante de meus aprendizes - continuou o homem - entrarem no caminho ainda dentro do mundo dos seres da terra. Então eu não posso aparecer assim, de forma viva, porque lá é o mundo deles. Eu apareço no mistério das coincidências, e até em algumas visões e revelações. Conheço a mente de meus aprendizes, então sei como chegar nelas usando de meu próprio mistério. As pistas que envio, são exatamente para a mente deles me perceber. Então eles me percebem, e isso reduz a confusão deles e os mantém um pouco mais seguros durante a tempestade.
- Tempestade? - Perguntou o garoto, sem entender.
- Sim, a tempestade - confirmou o homem. - É só uma força de expressão. Quando estão nesse momento de transição, meu rapaz, é difícil; muito difícil. É confuso e atormentador. É uma experiência tão louca e perdida que, acredite em mim, é até melhor ter algum membro amputado do que ter que passar por ela. Mas eu existo, e faço o possível para minimizá-la. Mas não posso minimizá-la por completo, pois é ao nível da tempestade que se faz o bom mago. O melhor mago certamente é aquele que tomou muitos raios; os raios o fizeram crescer.
A essa hora eles estavam atravessando uma brecha por entre dois corredores, que ia dar no jardim.
- Eu vou te mostrar porque é preciso de coragem neste caminho, e porque é preciso estar disposto a abandonar tudo - contou o homem. Eles tinham acabado de entrar no jardim. - Vem por aqui - chamou ele virando-se um pouco à direita.
Então eles foram se aproximando de um canto no jardim, onde haviam dois caminhos de concreto traçados sobre o solo. Em ambos os caminhos haviam estátuas de pessoas, em pontos específicos. O caminho da esquerda, era tortuoso, cheio de curvas. Em cada curva havia um grupo de estátuas. O caminho da direita, era reto. Havia uma e outra estátua pingada no percurso, e algumas no fim dela, na ponta.
O homem caminhou até a entrada do caminho tortuoso, e começou a falar:
- Esse é o caminho dos seres da terra. Eles caminham sem rumo, sem direção; então é um caminho cheio de curvas. Eles não sabem para onde estão indo, então apenas vão indo. Em cada curva, encontram pessoas, com quem eles entram em contato, e que as fazem tomarem mais curvas ainda. Então, cada contato as faz desviar para outro lado, porque surgem novas ideias, que entram na mente deles, caminhando com eles.
Então o homem começou a caminhar em direção ao caminho da direita, ainda falando:
- Quando um ser decide entrar no caminho da magia, ele passa a ser conduzido por um caminho, passa a ser guiado por alguma força - disse ele apontando para si mesmo e sorrindo, orgulhoso. - Então o caminho que era tortuoso, se torna uma reta perfeita. Ele não caminha mais em vão, ele está seguindo por uma direção.
- Você está vendo aquelas poucas estátuas pingadas nesse caminho reto? - Perguntou o homem ao garoto. O garoto confirmou com a cabeça. - São pessoas que o acaso - disse ele piscando um olho - realiza o encontro. São pessoas que também estão no caminho da magia, que também estão para se tornarem magos. O encontro deles tem algum propósito que somente eu sei. Você pode reconhecer quando foi o acaso - disse ele piscando novamente o olho - que planejou o encontro, porque ele vem com algum mistério embutido, como aqueles que falei logo anteriormente.
- Essa caminhada - continuou o homem, apontando para o caminho reto - é muito solitária como você pode ver... Esse caminho reto e extenso, sem ninguém... Mas você está vendo lá na ponta? - Disse o homem, agora apontando para aquele conjunto de estátuas logo no final. - É a recompensa. E ela é enorme, pois cada estátua daquelas representa um mago. E encontrar com um mago, hohohoho - ele deu uma gargalhada estranha -, é uma experiência que já vale para a vida inteira.
Depois de falar, o homem ficou calado, admirando os dois caminhos. O garoto ficou olhando para ele, esperando a continuação. Mas o homem ficou calado por um longo tempo...
- É só isso? - Perguntou o garoto.
- Uhum - respondeu o homem. - Simples assim.
- E quanto à coragem e a disposição de abandonar tudo?
- Ah, claro! - Exclamou o homem, com cara de bobo. - Eu esqueci, perdão. É que é o seguinte... Quando o ser da terra migra para o caminho da magia, ele começa a mudar, tanto internamente quanto externamente. Como ele caminhava e seguia pelo caminho tortuoso dos seres da terra, e agora não faz mais parte disso, ele se torna um estranho em terras estranhas. Ele sai do caminho tortuoso e passa a caminhar reto.
- Mas acontece que - prosseguiu o homem - ele continua no mesmo plano dos seres da terra, mesmo não fazendo mais parte dele. Então, mesmo estando nos mesmos lugares, o seu caminho já não é mais o mesmo. Aos poucos, isso começa a ficar evidente. Então os lugares também precisarão mudar, e é aí que entra a coragem. O caminhante da magia precisa abandonar tudo o que fazia parte de seu caminho na terra, se não ele não consegue caminhar e fica preso na tempestade. Então acontecerá de ele se sentir um estranho perto de seus antigos amigos, nos antigos lugares que frequentava, e até com seus próprios familiares...
Enfim - suspirou o homem -, ele se torna um estranho para quem ele era. Chegará um estágio em que ele se sentirá tão estranho, que terá que saltar fora, se não começará a criar problemas para si e para os outros. Começará a gerar conflitos. Se ele for corajoso e der ouvidos ao chamado; se retirará, abandonando tudo e caminhando na reta perfeita. Se ele não for corajoso; tentará se agarrar ao caminho antigo, perdendo o caminho da magia. Como você sabe, uma vez dentro do caminho da magia, não há mais volta. Então, a pessoa que não tiver coragem de abandonar, se tornará um louco, e acabará em algum hospício da terra.
- Então é preciso ter coragem, é um pré-requisito - concluiu o homem. - Quem entra no caminho sem a coragem, acaba não se tornando um mago, e acaba não podendo voltar também para o caminho da terra... Se torna um louco, alguém perdido no meio do caminho. Entrou, mas não caminhou; se perdeu.
O garoto se sentiu um pouco assustado. Mas refletiu um pouco... Ele era corajoso. Sim, ele sabia disso. Então não haveria problemas. Se tivesse que tomar alguma atitude dessas, seguir ao chamado, certamente o faria. Ora bolas, ele já tinha entrado no Castelo das Sombras sozinho, sem garantias, sem ninguém. O resto seria mamata.
- Venha comigo - disse o homem, acenando para ele o seguir.
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