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quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Tronco de Árvore Mágico



     Repentinamente, uma onda de desesperança e desmotivação surpreendeu a consciência do mago. Chegou de supetão, que nem maremoto. E chegou justamente na hora que ele estava fazendo o que mais gostava de fazer em sua cabana de palha no rio - mexer os dedões do pé. 
     Logo que essa onda chegou, ele foi banhado por um descontentamento profundo, e isso durou tempo o suficiente para ele resolver tomar uma atitude: - Vamos visitar o tronco! - Disse ele para um macaquinho que estava parado à sua janela coçando com os dedos sua barriga careca, e que ao escutar as palavras olhou para o mago com cara de não entendido.
     Este tronco tinha um valor sentimental para o mago e ele costumava chamá-lo de "luz", nome este que usava para tudo que encontrasse de divino no seu caminho. Foi esse o lugar onde ele aprendeu a executar uma de suas magias mais poderosas: a tempestade.
     Para executar a tempestade, ele sentava próximo ao tronco - da forma que lhe era mais confortável - e seus problemas começavam a passar por ele, um a um eles iam indo embora e formavam nuvens à sua volta. Ele sentava, aguardava, e as nuvens que tinham se acumulado à sua volta começavam a se chocar e a chover. Eram tantas nuvens e tanta água escorrendo, que o mar acabava subindo e envolvendo o mago. Ficava ele sentado ao tronco completamente submerso nas profundezas marinhas. Sua respiração ia então se sintonizando com o movimento das ondas do mar, até a tempestade cessar, o mar baixar, e ele voltar a respirar novamente o ar oxigenado da terra. 
     Depois do acontecido, o mago já não era mais o mesmo de antes; a água do mar tinha penetrado as suas narinas e sua respiração agora exalava este ar hidratado para qualquer pensamento que brotasse em sua consciência - iluminando-o.
     Então o mago pegou seu cajado e adiantou-se à caminho do tronco que ficava a uns cinquenta metros de sua morada. Era para o seu bem, então não podia esperar!
     No meio do caminho - a uns 20 metros mais ou menos - ele avistou no horizonte um menininho se aproximando, caminhando em sua direção. Ele apurou os olhos, e enxergou que o menino vinha carregando uma velinha no peito, e isso iluminava o caminho que o menino estava seguindo. Era uma visão bonita, pois era fim de tarde e estava começando a ficar escuro. Aquela luzinha fraca formava um contraste muito belo com o rio - e o mago ficou ali parado, contemplando, até que o menininho se aproximasse. O menino chegou próximo ao mago - ele era muito elegante, vestido em camadas finas de uma vestimenta dourada - e quando ele finalmente o encontrou, o descontentamento do mago já tinha passado - que visão! - e foi o mago quem logo o recebeu:

- Que presente, doce esperança! - como se já aguardasse a sua chegada - O que os ventos o trazem a mim?
- Vim lhe procurar porque papai me disse que você sabe de tudo, mesmo o porque daquela flor ter brotado naquele muro - apontou para um muro que estava à volta do mago, que continha uma rosa linda, cheia de espinhos.
- Que coisa linda 
um menininho jovem 
consciente
aguardando 
o despertar da mente - disse de forma poética.
- Mago, eu não estou aguardando nada e eu não estou contando mentira - respondeu irritado. O menino não tinha muita instrução, ele nem sabia ao menos o que a gente chamava de mente.
- Ah tudo bem... - disse com uma voz amiga - não se preocupe meu querido, eu estou falando com seu espírito. Ele entenderá quando for chegada a hora.
- Tá bom - disse mesmo sem entender, pois havia algo mais importante. - Estou aqui porque papai nunca me colocou na escola e esse ano ele resolveu que eu tenho que ir. Nunca fui muito de conviver com outros meninos, e agora que isso tá acontecendo eu ando sentindo muito medo. Um medo que me paralisa. Eu não consigo reagir e nem raciocinar.
- Hum... entendo - disse acariciando as barbas. - Isso é muito normal, natural, e faz parte do seu ciclo de acordar. Quando está chegando o inverno, as árvores soltam suas folhas para poderem sobreviver, porque no inverno tem menos luz, é regrada; e elas tem que guardar nutrientes, porque a luz é sua energia. 
     Você acha que elas não sentem medo? Elas percebem que estão soltando suas folhas e que vão ficar completamente despidas, sem proteção e vulneráveis. Se eu fosse uma árvore eu ia ficar desesperado. Tudo está caindo e como eu fico? Mas é natural. Esse processo a protege. A árvore não tem medo.
     Com você está acontecendo a mesma coisa. Você está saindo da sua antiga casinha onde tudo era conhecido e está partindo para uma nova jornada. Talvez seja inverno, talvez seja verão, não da pra saber exatamente o que vai acontecer na frente - e assim você fica com muito medo. Mas somos filhos da natureza, assim como a árvore, e devemos aprender a confiar em nossa luz, pois ela sempre sabe o que está fazendo. 
     Olhe para você; sua luz está brilhando tão fraquinha só porque você está resistindo. Se você seguir o curso da vida, sua luz vai brilhar cada vez mais e todo mundo será iluminado por ela
- E o que isso tem a ver com o ciclo de acordar? - Disse o garotinho. - Eu acordo todos os dias, isso para mim parece um ciclo, porque nunca acaba.
- Bem colocado! - Disse o mago gargalhando. - Vocês crianças são tão inteligentes que eu sempre me surpreendo! 
     Mas esse não é o meu ponto - prosseguiu. - Quando estamos no processo de não confiar na vida e de não segui-la, nós magos dizemos que estamos dormindo, porque isso não é natural. A nossa natureza é 100% confiável e nos guia para onde ela quer, para onde ela precisa nos guiar. Quando não estamos seguindo-a com confiança, nos sentimos separados da vida, e isso resulta em muito medo. E o medo, meu amiguinho, é o grande inimigo da luz, mas ele é o seu melhor amigo. Ele nunca te abandonará. Ele será sempre uma voz que apontará a você os pontos em que você está deixando de seguir a luz. E, com ele, você pode encontrar o caminho de volta à luz plena.
- Poxa mago, eu ia adorar minha luz brilhando e iluminando outros caminhos, mas eu não entendo como posso fazer isso.
- Amigo, vou te falar uma coisa e depois você vai embora - disse sério -, porque assim você nunca irá esquecer e essa poderá ser a última vez que nos veremos. Quando o medo vier, fique alerta! Tome consciência de que o medo está presente e de que você o está observando. No começo ele virá forte e você poderá correr. Não tem problema, continue alerta. O medo está presente, ok. 
    Com o tempo - estando alerta -, você perceberá que a sensação do medo está mudando de lugar. A sensação agora está vindo e você está observando novos aspectos dela. A sensação reflete nos olhos, nos olhos internos, e você os observa crescendo quando o medo está presente. Fique alerta de que isso está acontecendo, você não precisa fazer nada. 
     Com o tempo, você ficará tão alerta, que perceberá que ele não está mais tocando em você. O processo ocorre, mas você está limpo, ele é só energia. Energia indo e vindo, movimento constante. Movimento cooonstante! Então aí a luz virá.

     E logo depois o mago juntou suas mãos no cajado, ergueu ele em pé ao ar, em seguida empurrou-o verticalmente para o chão, colidindo o cajado junto ao gramado e dizendo ao mesmo tempo: - vá embora!... Uma grande rajada de vento surgiu daquela colisão fazendo o menino colocar as mãos no rosto, protegendo os olhos, ao mesmo tempo em que era arrastado pelo gramado para distante.


~ * Palavras que saíram da Boca * ~