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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Construindo o Castelo

     Construindo o Castelo




     Ele acordava todas as manhãs em seu castelo mágico. Mágico porque era especial, aquele castelo tinha algo que os outros lugares não tinha de parecido. Ele atraia pessoas, animais, flores e borboletas; em proporções cada vez maiores.
     Assim que chegasse próximo ao castelo, uma mudança extra-física era sentida. Um silêncio invadia a consciência, e uma presença amorosa era sentida. Ninguém sabia de onde vinha aquilo, se eram dos animais, das árvores, das flores, ou dos seres humanos que ali habitavam; mas era algo muito poderoso. Poderoso e perigoso ao mesmo tempo, porque era tão gostoso estar ali, que muitas pessoas decidiam não voltar mais para a cidade e ali permaneciam.
     O mago não se importava, quanto mais pessoas morassem com ele, mais o castelo crescia, e a energia e a beleza dele também. Era uma energia de transformação. Se você parasse ali por algumas horas, e não tivesse corrido, correria um grande risco de esquecer o passado e de se tornar outra pessoa, alguém que você nunca conheceu.
     Quem passava uma temporada no castelo, nunca mais voltava o mesmo. Vislumbrava visões sublimes, e a energia dos céus jorrava dali sobre eles. Era toda a beleza de uma vida, condensada num único lugar. A cada quarto era uma nova experiência, e estava sempre surgindo novos quartos através de portas mágicas. Haviam também portais mágicos, que transportavam a lugares diferentes. Você podia entrar por um deles e dar de cara com um lago, com uma floresta, com um bosque, com a praia; eram sempre lugares novos, lugares mágicos. E você podia voltar ao castelo a qualquer hora que quisesse, era só saltar de volta.


     Para construir o castelo, o mago precisou muito bater a cara contra o muro de concreto. Foram anos lutando contra a corrente local, para que pudesse ter o cimento e o piso adequado para erguer o castelo e descansar em paz. O mago não conhecia nada de engenharia, e nunca tinha presenciado nenhum castelo em construção. Ele havia escutado falar de castelos que já existiam, mas ele mesmo não fazia ideia alguma de como eles chegaram a ser erguidos, então ele teve que passar por toda a experiência de descoberta.
     Logo que o alicerce do castelo havia sido erguido, e antes mesmo do jardim estar pronto, as pessoas certas começaram a aparecer e a ajudá-lo a construir o jardim e as torres de proteção. Se não fossem essas pessoas, o mago não conseguiria construir um jardim tão belo e um lugar tão protegido dos perigos do mundo. 
     Centenas de borboletas sobrevoavam alegremente todos os dias, as flores cresciam cada vez mais belas e mais coloridas, e o verde crescia cada vez mais radiante. À noite, era muito comum a visita de vagalumes, que piscavam sem parar, parecendo fadinhas mágicas noturnas, deixando a noite com um aspecto ainda mais magnífico do que ela já é. A lua parecia chegar mais perto do castelo do que da cidade. Quando no castelo, a lua parecia estar muito perto, quase palpável.



   Quando finalmente chegou a fadinha do céu, ela trouxe o pó mágico, e ele pôde finalmente erguer as asas do castelo. Com essas asas, o castelo podia agora voar, podendo chegar a tocar mais rápido outras pessoas e outros jardins. Sem contar que quando o castelo decidia decolar, era um momento sem igual. Ver todo o mundo de cima, onde ninguém podia te tocar e onde você podia tocar o infinito, era uma experiência transformadora, preenchedora.




     O que o mago mais queria era que mais pessoas visitassem o castelo cada vez mais, e que sentissem a energia que propagava dali. Assim, a energia podia invadir novos corpos, e ser levada adiante por eles, atingindo novos horizontes, até chegar ao céu.
     O mago sabia também que quanto mais pessoas morassem com ele, e quanto mais pessoas se tornassem magos também, mais fácil a magia da vida se espalharia pelo mundo inteiro.
     Isso era tudo que o mago queria. Conhecer outros castelos mágicos, poder voar com eles, e poder comer bolos de chocolate diferentes todos os dias.


     A partir de um momento, o mago foi ficando cada vez mais maravilhado. Ele havia parado de trabalhar, mas o castelo não parava de crescer. Na verdade, quando ele parou, foi quando o castelo começou a crescer mais depressa; as pessoas o estavam ajudando. Ele saia para dar uma volta pelo jardim, e quando retornava, havia dois andares a mais e novos habitantes.
     O mago ficava cada vez mais alegre. A energia que ele tinha construído estava retornando para ele através daquelas pessoas. Ele havia passado anos criando toda aquela energia, e agora toda a sua criação estava se materializando e chovendo sobre ele.
     Os bons ventos haviam chegado, como seu mestre Merlim - o mestre dos magos - havia dito que chegaria. O mago merecia. Ele passou anos vivendo uma incerteza desconhecida. Ele trabalhava pela natureza, entregando sua própria vida para viver a poesia da magia. A magia do amor.

     Agora as pessoas só viam a mágica e a alegria, mas será que elas se lembrariam de todas as noites frias que ele passou? Sem castelo, sem amigos. Sem canção, na solidão. Perdido o mago estava, em profunda escuridão.


     Mas para que se lembrar das noites frias? Quando você se tornar um mago, você descobrirá que suas noites mais frias, foram na verdade seus momentos de maiores magia, de maiores descobertas, de maiores transformações. O mago agora vivia feliz. Cada pétala de flor que aparecia, o chovia de alegria. Ele podia ver tudo acontecer, e era tudo tão lindo. O mago já podia morrer, ele já tinha vivido tudo que alguém poderia viver. Mas agora que tudo estava pronto, pra que ir embora e deixar de agradecer? O mago queria continuar ali, porque na verdade, quanto mais o tempo passava, era cada vez mais gostoso viver a vida de forma mágica.
     







~* Palavras que saem da Boca *~









~*~
O cimento foi dado
Para na terra construir
Muitos passarão
Outros ficarão por aqui

Se eu tiver o meu castelo
Poderei retribuir
A alegria que me dá
Jamais encontrarei em outro lugar.

~☮~