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domingo, 26 de maio de 2013

A Fita de Estrelas

       
            A Fita de Estrelas


     Ele ouvira falar do caminho a vida inteira, que era um caminho de riquezas e de vida plena, mas isso nunca tinha despertado sua total atenção. Aos 50 anos, ele estava se sentindo cansado de viver dias, meses, e anos seguindo uma mesma rotina semanal, que deixava sua vida basicamente sem propósito e sem grandes emoções.
     Ele já tinha passado por todas as experiências que o mundo declara serem bem sucedidas. Tinha filhos - tanto menino quanto menina -, tinha uma bela esposa, e um emprego que rendia dinheiro o suficiente para viver uma vida um pouco acima da média. Viajava ocasionalmente - como parte do trabalho - e tinha casa de praia, 3 carros - um para os filhos -, e cada um dos filhos já estavam encaminhados profissionalmente. Estavam trabalhando, estudando, e já ajudavam com boa parte das contas. 
     Como tinha tudo que podia desejar, um vazio perturbador começou a fazer parte de sua rotina diária. Ele perdurou alguns anos com aquele vazio, e quanto menos encontrava a razão específica daquilo, proporcionalmente mais seu interesse pelo caminho crescia. Ouvira dizer que não havia desconforto no caminho, e que no caminho vivíamos em paz eterna. Então um interesse por aquele que realizou o caminho começou a surgir em sua consciência, talvez ele soubesse dizer como é que ele poderia chegar lá também.
     No fundo ele sabia que aquele vazio não era novidade, pelo contrário, ele era muito familiar. Talvez ele sempre estivesse ali, e como estava sempre ocupado, não pôde perceber. Mas as ocupações tinham acabado, e o vazio agora brilhava chamando atenção - era vivo.

     Por meses seguidos ele vinha pensando no mago, e adoraria ter uma oportunidade de encontrar com ele. Mas isso parecia um tarefa impossível. Todos diziam que o mago vivia dentro da floresta, e que não tinha lugar fixo dentro dela. Para encontrá-lo ele teria que buscá-lo, e aquele pobre homem não tinha tempo o suficiente para fazer isso. Ele tinha ocupações de sábado a sábado, e chegava aos domingos morto de cansaço. Além do mais, seria quase impossível encontrá-lo na imensidão daquela floresta. Ainda por cima, seu trabalho era um negócio próprio, era quase impossível tirar férias. Aquela possibilidade se tornava cada vez mais remota.

     Os meses se passavam e ele pensava cada vez mais no mago. O desejo de encontrá-lo parecia uma crescente. Numa noite de quarta-feira, ele teve um sonho muito incomum. Era um sonho tão vivo que parecia realidade, parecia uma mensagem, ele podia até lembrar de cada detalhe perfeitamente. Ele sonhou que um pombo prateado pousava em tua janela, vestindo o chapéu pontudo de um mago. O pombo esticava a perna, e lá havia algo escrito. Dizia assim:
"Escreva para mim!
Este pombo é como seu fim,
Deseje-o, e chegarás até mim.
"

     Nesta manha específica, ele acordou um pouquinho diferente. Ele estava aéreo, não parecia estar presente. Na sua cabeça ainda ressoavam as palavras: "Este pombo é como seu fim, deseje-o, e chegarás até mim". O que aquilo significava? Ele não fazia ideia, mas começou a imaginar que pombo seria esse. Um pombo prateado? Ele nunca havia visto algo parecido; era um prata metálico, será que existia? Ele passou o resto do dia com a frase final na cabeça: "Deseje-o, e chegarás até mim".
     Ele ficou muito intrigado, e durante a semana corrente, nos seus intervalos de almoço - onde almoçava num restaurante próximo do trabalho - ele ficava caçando com o olhar para ver se encontrava algum pombo prateado. Nada de pombos prateados. Tudo o que ele via eram pombos acinzentados e esbranquiçados. 
     Um dia, enquanto procurava o tal do pombo, a moça do restaurante o trouxe o cardápio, e ele reparou que o cardápio havia sido modificado.

- Mudaram o cardápio? - perguntou ele à moça para quebrar o gelo.
- Sim, meu senhor. Mudamos de dono. O Rogério vendeu o estabelecimento para Augusto, Augusto Pombo para ser mais exato. - e na cabeça dele veio o pensamento 
"Pombo? isso só pode ser um sinal!" - Sorte que ele manteve os mesmos empregados - prosseguiu ela -, se não eu teria perdido o meu emprego. - disse meio sem jeito - Mudamos até de logomarca, o senhor já viu?
     Então ele procurou a logo no cardápio, e era um belo desenho de um pombo sorrindo e piscando o olhar. Um pombo prateado. Ele ficou perplexo, e arregalou os olhos.

- Está tudo bem, meu senhor? - disse a garçonete. Ele balançou a cabeça positivamente.
- Sim, esta sim. - disse disfarçando e tentando parecer calmo - É que me lembrei de algo importante. Será que eu posso ficar um pouco sozinho? - e a garçonete confirmou com a cabeça, fez um sinal de reverência, e se retirou.

     Ele ficou pensando... Aquilo era um sinal. Nunca tinha acontecido nada daquele jeito com ele na vida, parecia coisa de filme. Primeiro o sonho e então os sinais. O Sonho só poderia ser uma mensagem, e o mago só podia ser real. O caminho do mago era real. Ele estava absolutamente sem palavras.
     No sonho, a mensagem era: "Escreva para mim!". Então ele começou a imaginar como ele poderia escrever para o mago, já que os sinais lhe indicavam que aquele acontecimento não era corriqueiro. Mas o mago vive na floresta, e a floresta não tem correio. Mesmo se tivesse, o mago é andarilho, ele nunca está no mesmo lugar. Pode ser que sim, pode ser que não; ele é imprevisível, não da pra saber.
     Aquilo parecia missão impossível, mas ele continuou tentando imaginar uma forma de poder enviar uma mensagem para o mago durante o restante do dia que lhe sobrara.
     Ainda no trabalho, quando estava em seu escritório quase se preparando para ir embora, algo fez "toc, toc, toc" pausadamente pela janela. Seu escritório possuía uma janela de madeira, e estava fechada, não sendo possível ver o que estava acontecendo do outro lado da janela.
     O rapaz ficou curioso. Aquilo era muito estranho, nunca tinha acontecido; o seu escritório ficava alto, no sétimo andar. Ficou observando e aguardando atentamente o próximo movimento, mas o silêncio predominou por um longo tempo. Então ele se levantou e se dirigiu cuidadosamente em direção à janela para verificar. Se aproximou, e abriu-a lentamente. Era uma janela lateral, de rolamento, sem dobradiças.
     Quando ele a abriu, havia um pombo dourado pousado na janela que estava serenamente coçando suas penas com o bico. Ele era muito belo. Ele pôde ver que em sua patinha direita havia um porta bilhetes.
     Isso era impossível. - pensou o senhor - Um pombo correio? E ainda por cima um pombo dourado? - As penas do pombo brilhavam no reflexo do sol de fim de tarde, parecia ouro. Isso tudo só poderia ser magia. A magia era mesmo real. Todos os acontecimentos apontavam para isso, confirmando sua existência. As dúvidas do rapaz diminuíam cada vez mais.
     O porta bilhetes era muito pequeno, só caberia espaço para um papel minúsculo, e assim só caberiam espaço para poucas palavras. Então ele lascou um pedaço de folha de caderno, e escreveu bem apertadinho: "Não posso sair da cidade, qual seria a sua vontade?". Logo depois, enrolou o papel em forma de pergaminho e colocou gentilmente na patinha do pombo, que iniciou voo quase que instantaneamente.

     No outro dia, por volta do mesmo horário, novamente algo estranho bateu pela janela de seu escritório, mas dessa vez foi apenas uma batida, e com muito mais força. Quando ele abriu a janela, havia uma pedrinha de quartzo e um papel amarrados com uma fitinha vermelha, que bateu com tanta força na janela de madeira, que a marcou com um buraco.
     Ele desamarrou a fitinha avermelhada - era uma fitinha linda. Era vermelha com bordas douradas, e com diversas estrelinhas também douradas espalhadas por toda a fita - e abriu o bilhete que dizia em letras muito delicadas:



"Faça uma coisa diferente a cada momento.
Se você sobe a escada de um lado, suba do outro.
Use essa magia para diferentes movimentos, e em diferentes horas do dia.
Assim você se tornará cada vez mais vivo, mais atento, mais rico.
"
     


Mongol, penso sempre em você.
Pode ser que agente se estranhe, mas alguma coisa acontece.

~* Palavras que saem da Boca *~